"Quero voltar a ter uma visão de menino", relata idoso de 77 anos após cirurgia de catarata
"Saber que posso reduzir risco de demência (após cirurgia) é gratificante", diz paciente, ao ter conhecimento que tratamento reduz risco de Alzheimer

Imagens turvas e embaçadas, presença constante de uma espécie de névoa diante dos olhos e imagens que parecem ter cores desbotadas são queixas comuns dos pacientes com catarata. A doença vem do processo de opacificação do cristalino, lente natural do olho, normalmente incolor e transparente, que tem como objetivo focalizar os objetos que enxergamos.
Maior causa de cegueira tratável no mundo, a catarata é um fator de risco para o desenvolvimento de demências, como a doença de Alzheimer. Evidências científicas apontam que a perda de visão pode atuar como um sinal precoce desse tipo de demência. Um relatório, publicado pela revista científica The Lancet em 2024, destacou dois novos fatores de risco modificáveis para o desenvolvimento de demências. Entre eles, a perda de visão não tratada.
Assim, a cirurgia de catarata, além da retomada da visão, pode prevenir doenças neurodegenerativas como Alzheimer. Um estudo publicado na revista científica Jama Internal Medicine mostrou uma associação entre a retirada da catarata e o desenvolvimento de demência.
Com base no acompanhamento de 23.554 pessoas, os pesquisadores relatam que a cirurgia foi associada a um risco significativamente reduzido de demência, em comparação com participantes sem cirurgia.
O operador de produção aposentado Djalma Inácio da Silva, 77 anos, foi submetido à cirurgia de catarata na quinta-feira (16). Agora, ele tem a expectativa de voltar a enxergar com nitidez e poder ter uma vida mais ativa e independente.
"Quero voltar a ter uma visão de menino. Saber que ainda posso reduzir o risco de demência é muito gratificante", conta Djalma.
Morador de Brasília Teimosa, ele recebeu todo o tratamento gratuito, o que inclui a cirurgia na rede privada, após participar de uma ação realizada pelo Instituto João Carlos Paes Mendonça de Compromisso Social (IJCPM), em parceria com o Hope. O projeto contou com consultas e exames oftalmológicos para 80 pessoas com mais de 60 anos moradoras de comunidades da Zona Sul do Recife.
"A retomada da visão do paciente melhora expressivamente a qualidade de vida, diminui depressão, ansiedade e as doenças neurodegenerativas. Isso porque a perda de sensibilidade visual pode levar a um isolamento social e à redução dos estímulos sensoriais, entre outros fatores", diz a oftalmologista Bruna Ventura, do Hospital de Olhos de Pernambuco (Hope).
Beneficiada pela mesma iniciativa social, a assistente contábil aposentada Genilda Olivia, 72 anos, também foi submetida à cirurgia de catarata no mesmo dia de Djalma.
"Estou com esperança de voltar a enxergar bem novamente. A catarata avançada me impede de ler, assistir à TV e fazer uma série de atividades", relata.
A ação social realizada em parceria com o Hope, na sede do IJCPM, no RioMar Recife, no Pina, ocorreu em agosto, em celebração ao Dia dos Avós.
Os atendimentos oftalmológicos gratuitos tiveram o foco na avaliação de grau, diagnóstico e tratamento de glaucoma e catarata, doenças oculares mais comuns em idosos.
Foram realizadas 80 consultas, com 62 encaminhamentos para exames de maior complexidade, sem custos às pessoas atendidas.
O único tratamento para a catarata é a cirurgia, indicada sempre que o embaçamento da visão interferir na realização das atividades diárias. Na cirurgia de catarata, o cristalino opacificado é removido do olho, e, em seu lugar, é inserida uma lente intraocular artificial.