MORTES EM BATALHÃO

ATAQUE EM BATALHÃO: "Temos atenção à saúde mental do policial", diz secretário de Defesa Social de Pernambuco

Uma semana após um PM matar a esposa e atirar em colegas do 19º Batalhão, no Recife, o secretário Humberto Freire fala pela 1ª vez sobre o caso

Raphael Guerra
Cadastrado por
Raphael Guerra
Publicado em 27/12/2022 às 13:09 | Atualizado em 27/12/2022 às 15:29
Carlos Medeiros/SDS
Secretário de Defesa Social, Humberto Freire, concedeu entrevista ao JC sobre o balanço do Pacto pela Vida - FOTO: Carlos Medeiros/SDS

Uma semana após um soldado da Polícia Militar assassinar a esposa, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, e atirar em colegas do 19º Batalhão, na Zona Sul da capital pernambucana, o secretário de Defesa Social, Humberto Freire, falou pela primeira vez sobre a questão da saúde mental dos policiais militares.

"Esse fato que aconteceu com o policial (feminicídio e ataque aos colegas), o coronel José Roberto (comandante geral da PM) já informou que não tinha um histórico de (problema) de saúde mental, mas os outros que têm a gente inclusive tem debatido algumas medidas complementares em relação ao tratamento desses policiais há algum tempo", afirmou, em entrevista à Coluna Segurança.

"Óbvio que a gente sempre tem que buscar novos caminhos, boas práticas em outras polícias, em outras instituições, mas temos atenção à saúde mental do policial", disse Freire.

Em vistoria no 19º Batalhão, há pouco mais de um ano, promotores de Justiça da Capital identificaram que um número alto de policiais militares havia se afastado das atividades por problemas de saúde mental. E cobraram medidas.  

"A gente vem fortalecendo os centros de assistência à saúde da Polícia Militar. Vem sendo fortalecido aqui, com uma nova sede, próximo ao QCG da Polícia Militar, onde era a Vila Militar. Uma sede moderna, com novas instalações, para que a gente tenha esse cuidado com o profissional", pontuou o secretário estadual.

Segundo ele, também houve investimentos em centros para ajudar na saúde mental dos policiais militares que estão no interior.

"Hoje, a gente tem em Palmares (Mata Sul), em Caruaru (Agreste). Precisa interiorizar ainda mais, porque a profissão de policial, como eu sou, é uma profissão diferenciada, por carga de estresse diferenciada", explicou.

Freire disse ainda que os policiais civis também receberão mais atenção em relação à saúde.

"A gente tem um projeto que está sendo executado de abertura de uma policlínica da Polícia Civil também com esse viés de atendimento multidisciplinar, com fisioterapia, atendimento psicossocial."

INVESTIGAÇÕES DO FEMINICÍDIO E ATAQUE AO 19º BATALHÃO

REPRODUÇÃO
Na sala de monitoramento do batalhão, imagens mostram tiros disparados e PMs tentando se proteger - REPRODUÇÃO

Duas investigações sobre os crimes praticados pelo soldado Guilherme Santana Ramos de Barros, de 27 anos, estão em andamento. 

A primeira, da Polícia Civil, apura o feminicídio da esposa do soldado, Cláudia Gleice da Silva, de 33 anos. A vítima estava na casa da mãe dela escondida, após encerrar o relacionamento conturbado e marcado por ameaças e agressões - segundo relatos de parentes. Cláudia estava grávida de três meses do policial.

Logo após o feminicídio, o soldado abordou e obrigou, sob ameaças, um motorista de aplicativo a levá-lo até o 19º Batalhão, onde quatro policiais militares foram baleados - e dois acabaram falecendo.

A segunda investigação, sob a responsabilidade da Polícia Militar, precisa esclarecer os motivos que levaram Guilherme Barros a atirar nos colegas e se ele realmente cometeu suicídio após o crime.

VEJA VÍDEO DO ATAQUE NO BATALHÃO:

Enquanto seguia para o batalhão, o soldado teria dito que iria "matar os inimigos". Essas possíveis desavenças estão sendo investigadas.

O sargento Maurino Uchoa, baleado de raspão na cabeça, que recebeu alta médica ainda na terça-feira, já teria sido ouvido pelos militares à frente do inquérito.

O cabo Paulo Rebelo, ferido no ombro, passou por cirurgia. Ele recebeu alta do Hospital Português na quinta-feira (22). Não há informação oficial se ele já foi ouvido na investigação.

Também foram atingidos pelos tiros o 2º tenente Wagner Souza do Nascimento, de 30 anos, que morreu na hora, e a major Aline Maria Lopes dos Prazeres Luna, 42, que era subcomandante do 19º Batalhão. A PM chegou a ser socorrida e levada para o Hospital Português, mas faleceu no mesmo dia - horas após passar por cirurgia.

Os depoimentos de familiares do soldado também vão ajudar na condução das investigações. Na última quarta-feira, o pai afirmou que não tinha contato com ele há cerca de três anos e que não sabia de nenhum problema relacionado à vida pessoal ou profissional dele.

Áudios e prints de mensagens de WhatsApp, sem comprovação de autoria, circulam pelas redes sociais. Mas é preciso levar em consideração que esse tipo de conteúdo, que muitas vezes mais atrapalha do que ajuda na investigação, precisa de checagem dos responsáveis pelos inquéritos.

Não há prazo para conclusão dos dois inquéritos, que dependem dos depoimentos e laudos periciais do Instituto de Criminalística de Pernambuco.

DEPOIMENTO DE MOTORISTA DE APLICATIVO

O motorista de aplicativo relatou à Polícia Militar que foi abordado pelo soldado Guilherme Barros no Cabo de Santo Agostinho - pouco após o feminicídio.

"O motorista estava indo pegar um cliente e acabou abordado pelo policial, que tirou uma arma da sacola e apontou para ele. O motorista achou que era um assalto e disse que ele (policial) poderia levar o carro, mas que não o matasse", contou a advogada do condutor, Cassandra Gusmão.

"O policial então disse que o motorista obedecesse as ordens dele. Ele entrou no carro e, com a arma apontada para o motorista, mandou ele seguir até o Pina. Foram mais de 40 minutos de terror até lá. O policial ligava para as pessoas dizendo que matou a esposa e que ia matar os inimigos antes de se matar", detalhou a advogada.

"Próximo ao batalhão, o policial pediu para o motorista parar o carro. Ele vestiu o colete (à prova de bala) e disse para meu cliente não correr se não seria morto. 'Não faça nenhum movimento'. Depois mandou ele parar perto do portão do batalhão e saiu do carro. Depois, o motorista só ouviu os tiros."

REPRODUÇÃO
Circuito mostra o momento em que o policial militar chega de mochila nas costas, apressado, na sede do 19º Batalhão, no bairro do Pina - REPRODUÇÃO

Segundo a advogada, o motorista ligou para ela desesperado. Ela orientou que ele prestasse depoimento à polícia para ajudar nas investigações e, claro, evitar que ele também fosse considerado cúmplice do episódio trágico.

O motorista foi ouvido no próprio batalhão. O depoimento é um passo importante para o andamento do inquérito policial militar.

 

Comentários

Últimas notícias