Um dia após tragédia no Recife, dor marca despedidas de vítimas de policial

Uma das vítimas, o 2º tenente Wagner Souza, havia sido promovido na Polícia Militar um dia antes de ser morto
Raphael Guerra
Publicado em 21/12/2022 às 14:30
Enterro do 2º tenente Wagner Souza do Nascimento, de 30 anos, no Cemitério Parque das Flores, no Recife Foto: Kleibson Costa/TV Jornal


No dia seguinte ao feminicídio, seguido de ataque a colegas de farda e suicídio, a dor e perplexidade marcaram as despedidas às vítimas do soldado da Polícia Militar Guilherme Santana Ramos de Barros, de 27 anos. 

Na manhã desta quarta-feira (21), o corpo do 2º tenente Wagner Souza do Nascimento, de 30 anos, foi velado e enterrado no Cemitério Parque das Flores, no bairro do Sancho, no Recife. Durante a despedida, uma equipe do Corpo de Bombeiros chegou a ser acionada e prestou atendimento médico aos familiares.

Wagner Souza passou 12 anos na Polícia Militar. Na última segunda-feira, havia sido promovido a 2º tenente. Ele já serviu no Batalhão de Polícia Rodoviária, 16º Batalhão e atualmente estava no 19º Batalhão. Ele deixou esposa. 

Em helicópteros, oficiais jogaram pétalas de rosas durante a despedida. O corpo foi sepultado sob honras militares. O comandante geral da Polícia Militar do estado, coronel José Roberto de Santana, esteve presente. Ele afirmou que toda a assistência está sendo dada aos familiares das vítimas e aos sobreviventes.

PMPE/DIVULGAÇÃO - O 2º tenente Wagner Souza do Nascimento, de 30 anos, morto a tiros no 19º Batalhão, havia sido promovido na última segunda-feira

Questionado se havia algum problema na relação de trabalho entre o soldado e os colegas do 19º Batalhão, o comandante disse não ter conhecimento. 

"A questão interpessoal é natural em qualquer ambiente de trabalho. Existem pessoas que você consegue se relacionar melhor e outras que a relação ela vai ser mais difícil. Porém, em um universo de 17 mil policiais militares, nós temos problemas interpessoais nessa relação", disse. 

ENTERRO DA MULHER DO PM

O corpo da esposa do soldado, Cláudia Gleice da Silva, de 33 anos, que foi morta a tiros na casa da mãe dela, onde estava escondida, no Cabo de Santo Agostinho, no Grande Recife, está sendo velado agora à tarde no Cemitério São José, que fica no município. 

O velório está restrito a familiares e amigos. O enterro será as 16h. 

Gleydson Xavier/TV Jornal - Velório de Cláudia Gleice da Silva, de 33 anos, morta pelo companheiro, o PM Guilherme Barros

Nessa terça-feira (20), dia do feminicídio, um parente de Cláudia, que estava grávida de três meses do policial, contou à Coluna Segurança que ela sofria ameaças e agressões constantes. O casal estava junto há cerca de cinco meses. Familiares acreditam que o crime foi praticado porque ele não aceitou o fim do relacionamento. 

DESPEDIDA DA MAJOR

O corpo da major Aline Maria Lopes dos Prazeres Luna, 42, que era subcomandante do 19º Batalhão, foi liberado do Instituto de Medicina Legal (IML). O velório e enterro estão previsto para quinta-feira (22), no Cemitério Morada da Paz, em Paulista. Isso porque familiares de outros Estados estão vindo ao Grande Recife para a despedida. 

Major Aline estava há 24 anos na Polícia Militar. Antes do 19º BPM, serviu no Batalhão de Choque, 6° e 11° batalhões e Companhia Independente de Apoio ao Turista (CIATUR). Deixou marido e uma filha. 

O tema saúde mental, que tanto afeta os policiais e pode ser a chave para entender essa tragédia, foi tratado em recente artigo publicado pela policial

NOVOS DETALHES SOBRE A TRAGÉDIA COM PM

Logo após o feminicídio de Cláudia Gleice, o soldado apontou a arma de fogo para um motorista de aplicativo que passava de carro próximo ao local. Foram momentos de terror até a chegada ao batalhão, segundo relatou a advogada do condutor.

"O motorista estava indo pegar um cliente e acabou abordado pelo policial, que tirou uma arma da sacola e apontou para ele. O motorista achou que era um assalto e disse que ele (policial) poderia levar o carro, mas que não o matasse", conta a advogada Cassandra Gusmão.

"O policial então disse que o motorista obedecesse as ordens dele. Ele entrou no carro e, com a arma apontada para o motorista, mandou ele seguir até o Pina. Foram mais de 40 minutos de terror até lá. O policial ligava para as pessoas dizendo que matou a esposa e que ia matar os inimigos antes de se matar", detalha a advogada, com base no relato do motorista.

"Próximo ao batalhão, o policial pediu para o motorista parar o carro. Ele vestiu o colete (à prova de bala) e disse para meu cliente não correr se não seria morto. 'Não faça nenhum movimento'. Depois mandou ele parar perto do portão do batalhão e saiu do carro. Depois, o motorista só ouviu os tiros."

Segundo a advogada, o motorista ligou para ela desesperado. Ela orientou que ele prestasse depoimento à polícia para ajudar nas investigações e, claro, evitar que ele também fosse considerado cúmplice do episódio trágico. O motorista foi ouvido no próprio batalhão.

COMO FOI O ATAQUE A TIROS NO BATALHÃO

Na sede do 19º Batalhão, o soldado da PM atirou em quatro colegas de farda e depois se matou. O tenente Wagner Souza morreu na hora.

Feridos, a major Aline Maria e o cabo Paulo Rebelo foram encaminhados ao Real Hospital Português.

De acordo com a Polícia Militar, a major passou por cirurgia e foi encaminhada para a UTI. Na noite dessa terça-feira, parentes confirmaram que ela faleceu.

O cabo, ferido no ombro, encontra-se internado para avaliações médicas.

Já um sargento Maurino Uchoa, baleado de raspão na cabeça, foi levado para o Hospital da Restauração (HR), na área central do Recife. O ferimento não foi invasivo e foi feita uma sutura. Ele já recebeu alta.

"Todos os fatos ocorridos na sede do batalhão serão apurados através de Inquérito Policial Militar, enquanto a morte da esposa do soldado Guilherme será apurada pela Polícia Civil", informou, em nota, a Polícia Militar de Pernambuco.

 

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