Antes de anunciar oficialmente que deixaria o comando da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco (SDS-PE), a delegada federal Carla Patrícia Cunha assinou quatro portarias determinando a expulsão de três policiais militares e um bombeiro militar (além da prisão de mais dois). Os atos foram publicados no Diário Oficial do Estado desta sexta-feira (1º).
O 1º sargento José Nilson da Silva foi um dos excluídos da Polícia Militar de Pernambuco. Segundo as investigações conduzidas pela Corregedoria da SDS, o policial agrediu fisicamente a companheira na cidade de Gravatá, no Agreste do Estado, em 11 de maio de 2022. Consta nos autos que um sargento que foi acionado para socorrer a vítima também foi agredido.
Na ocasião, o 1º sargento foi autuado em flagrante por desacato e lesão corporal, no âmbito da violência doméstica e familiar, assim como nos crime militares de resistência mediante violência, calúnia e lesão corporal.
CRÍTICAS PUBLICADAS NO YOUTUBE
A segunda portaria determinou a exclusão da soldado Mirella Virgínia Luiz da Silva. A investigação indicou que, no dia 16 de setembro de 2021, ela publicou um vídeo no YouTube com várias referências negativas e críticas à Polícia Militar de Pernambuco.
Na ocasião, a policial alegou que a corporação "é uma instituição doente, com jogo de poderes muito grande, composta de pessoas que se superestimam por terem postos superiores, muitas vezes, diminuindo, perseguindo, fazendo pouco caso, humilhando e coagindo aqueles que estão em posto inferior".
No vídeo, a soldado destacou que "não há como conceber uma segurança pública de qualidade se os policiais estão adoecendo por uma questão de egoísmo de muitos que estão em postos superiores, que se vestem de uma realidade inexistente, sendo eles desumanos com os seus pares, inferiores e subalternos".
Também disse que "foi praticamente coagida a trabalhar pela Junta Médica da Polícia, mesmo apresentando documentos médicos da sua impossibilidade, acrescentando ainda que essa Junta não se importa com o que ela sente, querendo apenas que trabalhe, tendo plena certeza de que isso é uma atitude totalmente equivocada".
Além da exclusão publicada nesta sexta-feira, a policial responde a processo na Vara da Justiça Militar pelo crime previsto no artigo 166 do Código Penal Militar (crítica indevida).
BOMBEIRO ACUSADO DE HOMICÍDIO DE ADOLESCENTE
Em outra portaria, Carla Patrícia Cunha determinou a exclusão de um bombeiro militar e a prisão de mais dois.
As investigações foram iniciadas após a denúncia de que o soldado do Corpo de Bombeiros Gradystony de Oliveira Lopes teria sido o responsável por atirar e matar um adolescente que pilotava uma moto nas proximidades da 4ª Seção de Bombeiros de Pesqueira, na Mata Sul, em 4 de julho de 2019. Por causa disso, a portaria determinou que o militar seja expulso da corporação.
A investigação da Corregedoria da SDS indicou que o cabo Fabiano Costa Cavalcanti teria omitido informações aos seus superiores sobre a autoria do disparo que vitimou o adolescente. Desta forma, foi determinada a prisão disciplinar dele por 20 dias.
Já o 3º sargento José Roberto de Freitas Caraciolo teria presenciado o disparo de arma de fogo efetuado pelo soldado e, logo após, teria saído do local sem adotar quaisquer providências regulamentares decorrentes da sua posição hierárquica, bem como não ter comunicado o fato a seus superiores hierárquicos. Por disso, também foi determinada a prisão dele por 20 dias.
Já o 2º sargento José Roberto de Farias Lins, indiciado em inquérito policial militar por crime de condescendência criminosa, seguirá sendo investigado pela Corregedoria.
POLICIAL SUSPEITO DE FURTO NO RECIFE
A última portaria determina a exclusão do cabo da PM Carlos José Sabino Machado. A acusação é de que, na madrugada do dia 25 de julho de 2017, ele e outra pessoa não identificada teriam arrombado um estabelecimento comercial localizado na Rua São Miguel, no bairro de Afogados, no Recife.
Na ocasião, a dupla teria subtraído um notebook um gelágua, uma TV de 32 polegadas, uma) TV de 14 polegadas, uma cafeteira, um monitor de computador e teclado, duas caixas de som e uma mesa de som de oito canais.
"A Comissão Processante demonstrou que o imputado é culpado da acusação, chegando ainda ao entendimento de que essa conduta afrontou preceitos éticos, motivo pelo qual o considerou incapaz de permanecer integrando as fileiras da corporação", destacou a portaria assinada pela ex-secretária estadual.
SAÍDA DE CARLA PATRÍCIA CUNHA DA SDS
Na última quarta-feira (30), em comunicado apresentado à governadora e a pessoas mais próximas com quem trabalhou nos oito meses à frente da SDS, Carla Patrícia afirmou que entregou o cargo por "questões pessoais".
Carla Patrícia foi a primeira mulher a assumir a pasta da segurança pública no Estado. Com a saída dela, após oito meses à frente da gestão, sobe para cinco o número de secretários estaduais que deixaram o governo de Pernambuco.
"Hoje - exclusivamente por questões pessoais - tomo mais uma decisão difícil que é deixar a Secretaria. Agradeço à governadora Raquel Lyra por me confiar tão importante missão e sigo torcendo para que a equipe continue se dedicando ao povo pernambucano", disse trecho da mensagem da ex-secretária estadual.
A governadora Raquel Lyra se pronunciou sobre a saída de Carla Patrícia apenas por meio da rede social X (antigo Twitter), na noite da quarta-feira.
"Agradeço à Carla Patrícia por ter se dedicado à missão de comandar até hoje a Secretaria de Defesa Social. O combate à criminalidade e à violência são prioridade do nosso governo. O trabalho segue adiante. Vamos construir um Pernambuco mais seguro para todos."
Nenhum comunicado oficial, via e-mail, como foi feito com os outros secretários substituídos, foi enviado à imprensa pelo governo estadual.