O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, declarou, nesta segunda-feira (23), que está preocupado com as investigações do assassinato do juiz Paulo Torres Pereira da Silva, de 69 anos, do Tribunal de Justiça de Pernambuco (TJPE). O ministro reforçou a forte suspeita de que o crime, na noite da quinta-feira (19), em Jaboatão dos Guararapes, no Grande Recife, pode ter ocorrido em decorrência das atividades do magistrado, que era titular da 21ª Vara Cível da Capital.
"Estou muito preocupado é com a apuração do assassinato do juiz em Pernambuco. Aparentemente assassinado pelo desempenho de seu papel. E isso é gravíssimo", afirmou o ministro a jornalistas antes de participar de um evento voltado a advogados em São Paulo. Barroso disse anda esperar que a apuração da Polícia Civil seja rápida e que haja uma "punição exemplar".
Na Vara onde o juiz Paulo Torres atuava, havia, por exemplo, processos relacionados a disputa de terras.
Por determinação do presidente do STF, o juiz auxiliar do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) Daniel Avelar está acompanhando as investigações. A coluna Segurança não conseguiu contato com ele.
Por meio de nota, a assessoria do CNJ declarou que, por enquanto, "não nos cabe alguma manifestação já que o devido processo investigativo está em curso pelas autoridades locais".
Em entrevista ao jornal O Globo, um dia após o crime, o irmão do juiz, Eurico Torres Pereira da Silva, também declarou acreditar que o crime tem relação com o trabalho desempenhado por ele. "Tenho certeza que meu irmão não se venderia. E apesar de trabalhar na área cível, ele atuava em casos de disputa de terras, que envolvem pessoas de poder."
COMO OCORREU A EXECUÇÃO DO JUIZ?
Na noite do crime, o magistrado teria ido caminhar na Praia do Paiva, no Cabo de Santo Agostinho. O assassinato aconteceu no retorno dele, a 300 metros de casa, na Rua Maria Digna Gameiro, no bairro de Candeias.
O tiro foi na cabeça, segundo a polícia. A vítima, após ser baleada, bateu com o carro em um muro. Os criminosos desceram do veículo onde estavam e seguiram armados até perto do juiz, possivelmente para verificar o óbito. Eles usavam máscaras cirúrgicas.
Nenhum pertence do juiz foi levado no crime. Ele estava sem documentos, mas a família justificou que ele tinha a carteira de habilitação digital no celular. O aparelho está passando por perícia desde a última sexta-feira.
INVESTIGAÇÃO
Durante a semana estão previstos depoimentos de testemunhas - entre familiares e colegas de trabalho do magistrado.
O TJPE reforçou que a chefia da Assistência Policial Militar e Civil do tribunal nunca recebeu informações sobre algum tipo de ameaça ao magistrado.
Imagens de câmeras de segurança que mostram parte do percurso feito pelo juiz até o momento em que foi morto também estão sob análise de um grupo restrito de profissionais da segurança para evitar vazamentos.
Os investigadores também querem identificar o ponto exato em que o carro do magistrado passou ser seguido pelo veículo dos criminosos.
Oficialmente, a Polícia Civil afirmou que nenhum suspeito do crime foi detido até agora. O delegado Roberto Ferreira, titular da 12ª Delegacia de Homicídios, está no comando do inquérito.
Além do CNJ, uma força-tarefa formada por promotores de Justiça de Jaboatão dos Guararapes e do com o Grupo de Atuação Especializada de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público de Pernambuco, também foi criada para acompanhar as investigações.
VÍDEO: PRESIDENTE DO TJPE LAMENTA MORTE
QUEM ERA O JUIZ MORTO?
Paulo Torres Pereira da Silva estava na magistratura há mais de três décadas.
"Conhecido como Paulão, o magistrado era muito querido por todos que fazem o Judiciário pernambucano. Tinha 69 anos e era juiz há quase 34 anos. Em várias oportunidades, atuou como desembargador substituto", disse o TJPE.
Paulo Torres tomou posse na magistratura pernambucana no dia 25 de abril de 1989. Através do Ato 130/1989, publicado no dia 19 de abril do referido ano, no Diário Oficial da Justiça, ele foi nomeado magistrado, em virtude de aprovação em concurso público de provas e títulos para exercer o cargo de juiz de direito, na Comarca de Verdejante, iniciando o exercício de sua função no dia 26 de abril de 1989.
Em 1991, Paulo Torres assumiu a 2ª Vara da Comarca de Salgueiro. A partir do referido ano, ele também atuou como juiz das Comarcas de Serrita, São José do Belmonte, Parnamirim, Belém de São Francisco e Escada. Em 1993, o magistrado atuou na Comarca de Jaboatão dos Guararapes. Em seguida, atuou na Comarca do Cabo de Santo Agostinho.
A chegada à Comarca da Capital aconteceu em 1994. No Recife, foi juiz na 8ª Vara Cível, na 1ª Vara da Fazenda Municipal e no I Juizado Especial de Pequenas Causas do bairro do Rosarinho. Atuou também nas 1ª, 2ª, 3ª, 4ª, 5ª, 6ª, 10ª, 13ª, 16ª, 17ª e 18ª Varas Cíveis da Capital.