Notícias sobre segurança pública em Pernambuco, por Raphael Guerra

Segurança

Por Raphael Guerra e equipe
VIOLÊNCIA POLICIAL

Oficial que responde por homicídios em Camaragibe deixa comando de batalhão da PM

Tenente-coronel Fábio Roberto Rufino da Silva estava à frente do 12º BPM, após Justiça mandar retirá-lo do 20º. Defesa diz que não há provas contra ele

Cadastrado por

Raphael Guerra

Publicado em 12/03/2024 às 19:19 | Atualizado em 12/03/2024 às 19:24
Assassinatos chegaram a ser transmitidos ao vivo, por meio de uma rede social, e chocaram o País - REPRODUÇÃO

Quatro dias após a Justiça aceitar a denúncia do Ministério Público de Pernambuco (MPPE), o tenente-coronel Fábio Roberto Rufino da Silva deixou o comando do 12º Batalhão da Polícia Militar. O oficial virou réu por triplo homicídio duplamente qualificado no processo relacionado à chacina de Camaragibe, no Grande Recife, ocorrida em setembro de 2023. 

A portaria dispensando o tenente-coronel do comando do 12º Batalhão foi publicada no boletim interno da Secretaria de Defesa Social (SDS) nesta terça-feira (12). No lugar dele, assume o tenente-coronel Davidson Michel Ramos da Cunha. 

"Já estavam programadas mudanças nos batalhões da PM. Agora, com a decisão do recebimento da denúncia na Justiça, ele (Rufino) deixou o comando do batalhão. Mas segue trabalhando na corporação", afirmou o secretário Alessandro Carvalho, em entrevista ao JC

Documentos obtidos pelo JC apontam que o nome do tenente-coronel já circulava na lista de investigados pelo Grupo de Operações Especiais (GOE), da Polícia Civil, nas semanas seguintes à sequência de assassinatos, ocorridos em 14 e 15 de setembro de 2023, após as mortes do soldado Eduardo Roque Barbosa de Santana, de 33 anos, e o cabo Rodolfo José da Silva, 38, durante uma ocorrência no bairro de Tabatinga. 

Mesmo assim, o tenente-coronel foi mantido no comando do 20º Batalhão, em Camaragibe. Em dezembro do mesmo ano, a pedido do MPPE, a Justiça decidiu que ele deveria ser afastado do cargo para não atrapalhar as investigações. Na ocasião, inclusive, outros cinco policiais, de outras patentes, foram presos. O então comandante geral da PMPE, Tibério César dos Santos, no entanto, apenas trocou Rufino para o 12º Batalhão

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TENENTES-CORONÉIS NO COMANDO

As investigações conduzidas pelo MPPE apontaram que Fábio Roberto Rufino teria sido um dos comandantes dos assassinatos ocorridos após as mortes de dois PMs. Ele e o também tenente-coronel Marcos Túlio Gonçalves Martins Pacheco, que ocupava o segundo posto de comando da inteligência da PM, teriam acionado vários PMs para dar início à perseguição do suspeito, Alex da Silva Barbosa, e de familiares dele. 

O relatório da investigação do MPPE aponta que os tenentes-coronéis "participaram intensamente das trocas de mensagens entre os policiais, em que eram passadas informações a respeito dos familiares de Alex, bem como dele próprio". Diz ainda que "em nenhum momento, antes ou depois dos bárbaros homicídios praticados, os denunciados Marcos Túlio e Fábio Rufino expressaram desacordo ou contrariedade com as ilegalidades praticadas durante a preparação das execuções".

DEFESA DE OFICIAIS NEGA ACUSAÇÕES

Em nota divulgada à imprensa nesta terça (12), a defesa dos tenentes-coronéis disse que recebeu "com surpresa e indignação as matérias que estão sendo levadas à opinião pública pela mídia, que lhe atribuem participação no caso dos crimes ocorridos em Camaragibe, na esteira das diligências encetadas para a prisão de um acusado pela morte de dois policiais militares".

Ainda segundo a nota, são "inverídicas e irresponsáveis as afirmações acerca da existência de áudios ou quaisquer tipos mensagens do telefone ou para o Ten Cel Fábio Rufino, com qualquer ordem ou orientação no sentido de quaisquer ações ou omissões criminosas no referido caso. Também não é verdade que tenha participado de qualquer reunião, ou briefing para orientar quaisquer efetivos policiais nas ações sob investigação". 

A nota é assinada pelos advogados Jethro Ferreira da Silva Júnior, Cezar Jorge de Souza Cabral, Vilmarde Barbosa da Costa e Isaac da Veiga Souza, do núcleo jurídico penal da Associação de Cabos e Soldados de Pernambuco. 

ENTENDA O CASO

Na última quinta-feira (7), a Justiça aceitou a primeira denúncia do MPPE contra 12 PMs, incluindo três oficiais. O grupo se tornou réu pelo crime de triplo homicídio duplamente qualificado (motivo torpe e sem chance de defesa das vítimas). 

O processo é referente aos assassinatos de três irmãos de Alex: identificados como Ágata Ayanne da Silva, 30, Amerson Juliano da Silva e Apuynã Lucas da Silva, ambos de 25. Ágata chegou a transmitir ao vivo, por meio do Instagram, o crime. Ela e Amerson morreram na hora. Apuynã faleceu após ser socorrido e encaminhado para o Hospital da Restauração, no Recife. 

A 1ª Vara Criminal da Comarca de Camaragibe expediu intimações para todos eles, para que ofereçam defesa por escrito. Após o prazo, será feito o agendamento da primeira audiência de instrução do processo.

Além dos dois tenentes-coronéis citados na reportagem, também viraram réus:

João Thiago Aureliano Pedrosa Soares, 1º tenente;

Paulo Henrique Ferreira Dias, soldado;

Leilane Barbosa Albuquerque, soldado;

Emanuel de Souza Rocha Júnior, soldado;

Dorival Alves Cabral Filho, cabo;

Fábio Júnior de Oliveira Borba, cabo;

Diego Galdino Gomes, soldado;

Janecleia Izabel Barbosa da Silva, cabo;

Eduardo de Araújo Silva, 2º sargento;

Cesar Augusto da Silva Roseno, 3º sargento.

Cinco desses policiais estão presos preventivamente: Paulo Henrique, Dorival Alves, Leilane Barbosa, Emanuel e Fábio Júnior. Os outros foram afastados dos cargos que ocupavam na época do crime, mas seguem trabalhando na PM.  

INVESTIGAÇÕES EM ANDAMENTO

O MPPE e a Polícia Civil seguem investigando o caso, porque Alex e outros familiares também foram assassinados. 

Por volta das 9h de 15 de setembro, os corpos da mãe de Alex, Maria José Pereira da Silva, e da esposa dele, Maria Nathalia Campelo do Nascimento, 27, foram achados num canavial na cidade de Paudalho, Mata Norte do Estado.

Duas horas depois, Alex foi morto em Tabatinga. A PM alegou que houve uma abordagem e que ele teria reagido, resultando na troca de tiros.

A Polícia Civil e o MPPE também precisam esclarecer como foi a dinâmica das mortes dos PMs. Havia uma suspeita de que Alex poderia ter contado com ajuda de outra pessoa. 


 

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