O aumento dos casos de profissionais da segurança pública com adoecimento mental será enfrentado pelo Poder Público com apoio das universidades. O Ministério da Justiça e Segurança Pública deu início ao programa Escuta Susp, voltado para atendimento psicológico on-line aos policiais e peritos criminais do País.
Em cerimônia em Brasília, nessa terça-feira (28), o ministro Ricardo Lewandowski, o secretário Nacional de Segurança Pública, Mário Sarrubbo, e a reitora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Sandra Regina Goulart Almeida, assinaram o termo de abertura das consultas.
A proposta foi elaborada em parceria com a UFMG, referência em prevenção ao suicídio, que vai coordenar os atendimentos nas universidades federais de Brasília, Rio Grande do Norte e Sergipe. A ideia é que o serviço seja ampliado para todo o País até janeiro de 2025.
O orçamento do governo federal destinado ao serviço é de R$ 6,4 milhões. Estão previstos 65 mil atendimentos, cursos de suporte com foco na prevenção ao suicídio, curso de autocuidado, gestão humanizada e saúde mental para gestores, além de materiais informativos em redes sociais, lives e conversas temáticas em grupo.
De acordo com números do Sistema Nacional de Informações de Segurança Pública (Sinesp), foram informados 821 suicídios de policiais desde 2015. O pior ano da série histórica foi em 2023, quando 133 óbitos foram contabilizados.
"Esse é um programa que busca reverter esse quadro e, brevemente, será estendido a todos os policiais brasileiros. A preocupação é fortalecer nossos agentes de segurança, pois, sem isso, não teremos uma segurança pública eficaz em nosso País”, pontuou Lewandowski, durante solenidade.
PERNAMBUCO DISCUTE SERVIÇO COM UNIVERSIDADES
Em Pernambuco, a Polícia Militar somou 1.920 afastamentos por saúde mental somente no ano de 2022. A média diária foi de cinco dispensas ou licenças médicas. Além disso, no mesmo ano, 4.454 PMs buscaram atendimento psiquiátrico.
Em geral, os militares reclamam do excesso de trabalho e da pressão sofrida por causa da rotina de violência e das metas que precisam ser cumpridas.
Questionada pela coluna Segurança, a Secretaria de Defesa Social informou que está atenta às orientações do Ministério da Justiça e da Segurança Pública em relação à saúde mental.
"Buscando alternativas e parcerias, a SDS também iniciou tratativas com Universidades pernambucanas objetivando acordos de cooperação entre o meio acadêmico e a secretaria", disse a pasta, sem indicar a previsão de quando o serviço deverá ser oferecido aos profissionais.
A assessoria da SDS reforçou que, desde o início da atual gestão, em 2023, fez investimentos em ações para a saúde mental dos policiais civis, científicos e militares, além dos integrantes do Corpo de Bombeiros Militar.
A pasta disse que a Polícia Civil conta com a Divisão de Assistência Psicológica, que disponibiliza atendimento psicológico e apoio aos integrantes da Corporação, como também aos policiais científicos, de forma presencial ou remota por meio do número 9.9488.4121.
"A instituição conta ainda com o trabalho de prevenção, como o Projeto Despertar, que leva para as delegacias de todo o Estado, ginástica laboral, música, meditação, roda de conversa sobre a importância do autocuidado, além do suporte espiritual, com a participação da Capelania da PCPE", informou a SDS.
NÚCLEO PARA POLICIAIS MILITARES
Em relação ao atendimento dos policiais militares, a SDS implementou o Núcleo de Saúde Mental TC PM Aline Maria Lopes dos Prazeres de Luna em março do ano passado. O espaço conta com psicólogos e funciona de segunda a sexta-feira, das 7h às 18h. No interior, os PMs podem procurar apoio nas unidades de Nazaré da Mata, Caruaru, Palmares, Garanhuns, Serra Talhada e Petrolina. Os atendimentos podem ser feito tanto no formato presencial ou on-line.
O nome do núcleo faz uma homenagem a Aline, morta na seda do 19º Batalhão da PM, no bairro do Pina, Zona Sul do Recife, em dezembro de 2022. O autor foi o soldado Guilherme Santana Ramos de Barros, de 27 anos, que, momentos antes, matou a tiros a companheira, Cláudia Gleice da Silva, 33, que estava grávida, no município do Cabo de Santo Agostinho. A investigação apontou que ele não aceitava o fim do relacionamento.
Após o feminicídio, ele rendeu um motorista de aplicativo e o obrigou, com uma arma de fogo, a levá-lo até o 19º Batalhão. No caminho, em áudios enviados a amigos e familiares, falou em vingança. Quando chegou ao batalhão, o soldado atirou em quatro colegas de farda e depois se matou. Além de Aline, o 2º tenente Wagner Souza do Nascimento também faleceu.