Policiais viram réus por 'prestarem serviços' a traficantes no Recife
Justiça aceitou denúncia do MPPE, que apontou que investigados faziam escolta e repassavam informações sigilosas para ajudar criminosos

Cinco policiais militares viraram réus sob a acusação de colaborarem com a escolta e repasse de informações sigilosas para traficantes que atuam no Recife. A Justiça aceitou denúncia do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) na última semana.
Segundo a investigação, conduzida pelo Grupo de Operações Especiais (GOE), o grupo criminoso é liderado por Bruno Ricardo Silva Rego e Thiago Gonçalves de Brito, conhecidos como "Gêmeos de Santo Amaro", em referência ao bairro localizado na área central do Recife, onde a atuação do grupo era mais forte.
Ao todo 11 pessoas - incluindo os policiais e os líderes do grupo - foram alvos da Operação Blindados II, em novembro do ano passado. Na ocasião, armas de fogo, munições, celulares e outros materiais foram apreendidos para perícia. Eles estão presos preventivamente - exceto uma mulher que está grávida.
A denúncia foi aceita pela juíza Andréa Calado da Cruz, da 12ª Vara Criminal da Capital. A magistrada deu prazo de dez dias para que os réus apresentem a defesa prévia.
QUEM SÃO OS POLICIAIS ACUSADOS?
Os policiais militares Walter Mendonça de Azevedo, Arthur Luiz Sampaio Cabral, José Tarcísio de Carvalho Pereira e Rayner Thianan Ferreira Santos respondem pelo crime de organização criminosa.
Já o PM Ivison Francisco Alves Júnior também responde por tráfico de drogas e associação para o tráfico. Segundo o MPPE, ele participava diretamente da venda de entorpecentes.
O envolvimento de militares foi descoberto a partir da análise dos telefones celulares de criminosos presos na primeira fase da operação, que ocorreu em janeiro deste ano, para desarticular o grupo.
A investigação, iniciada em 2023, identificou que a organização criminosa, com divisão de cargos (líderes, gerentes, soldados e até advogada), é especializada no tráfico de drogas, lavagem de capitais, homicídios e lesões corporais.
Com as primeiras prisões ocorridas no começo do ano, o GOE conseguiu identificar diálogos entre militares e suspeitos de tráfico.
COMO AGIAM OS POLICIAIS MILITARES?
A investigação indicou que o militar José Tarcísio mantinha diálogo com Thiago Teixeira repassando "informações sobre policiais militares que combatiam crimes na área dominada pela facção, também lhe orientava a obrigar moradores (de Santo Amaro) a promoverem manifestações com intuito de retirar os policiais do batalhão que não compactuavam com o esquema criminoso", apontou a promotora Henriqueta De Belli, responsável pela denúncia.
Há ainda informações de que o militar enviava fotos de reportagens que informavam sobre os protestos, "ao mesmo tempo em que elogiava Thiago pelo trabalho exitoso".
O GOE indicou que o PM Walter Mendonça, além de passar informações da Polícia Militar, também "presta auxílio a Thiago com informações sobre compra de munições e acessórios de arma de fogo".
"O policial militar (...) chegava ao absurdo de planejar colocar Thiago dentro de uma viatura policial e lhe fornecer coturno e fardamento para que pudessem realizar uma ação contra membros rivais", destacou a promotora, na denúncia.
Rayner Thainan "deixava de executar prisões em flagrante, exercia a segurança particular de Thiago, além de outras atividades criminosas", apontou a Polícia Civil. Artur Luiz Silva agia em parceria com Rayner, segundo a investigação.
"Nos diálogos captados, também ficou constatado que Rayner e seu parceiro Arthur recebiam valores para não realizarem prisões na área de atuação dos 'Gêmeos de Santo Amaro', além de fornecerem 'escolta particular' aos líderes", descreveu a promotora.
Sobre o militar Ivison Francisco, a denúncia indicou que ele "viajou para comprar e transportar uma droga de boa qualidade (provavelmente cocaína) para o Recife. A droga, como sugerido nas conversas abaixo, seria armazenada em um terreno situado em Barra de Jangada".