
“A última moda que chegou de Nova Iorque/e deve ser bom como tudo que vem do Norte/a sua mãe vai gostar/o seu pai vai achar moderno/mais quente do que o inferno/esta onda é de morte/ Aids, não tente colocar band-aids”, versos d
e Aids (Léo Jaime/Leandro), dá bem uma ideia do rock politicamente incorreto do goiano Leonardo Jaime que, em 1983, provavelmente deve ter sido o pioneiro em cantar a doença, então temida como provável agente exterminador da humanidade.
Aids é u
ma das faixas de PhodaC ... , álbum de estreia de Léo Jaime, umas das primeiras estrelas do que se achava no início ser a volta do iê iê iê devidamente atualizado para os anos 80.
É um dos discos que integram a caixinha
Nada mudou (Sony Music), que traz ainda
Sessão da tarde (1985),
Vida difícil (1986),
Direto do meu coração pro seu (1988), e
Avenida das desilusões (1989), a obra do cantor naquela década, remasterizada e acrescida de faixas extras raridades, pinçadas de compactos e trilhas.
PhodaC... , antecipa, em algumas faixas, o besteirol que iria vigorar no país, em todos os níveis, em meados da década.
Phoda C... (um trocadilho com o nome do navio Eugênio C). Suscitou polêmicas pela faixa
Sônia, uma paródia impagável de
Sunny (o standard da música americana), com uma letra explicitamente obscena, obviamente censurada. Estava-se ainda na ditadura militar. Mas já se dava pra ver a luz no fim do túnel, podia-se arriscar a cutucar a onça com vara curta. É o mais datado de todos estes relançamentos.
As gravadoras investiam no novo iê iê iê, basta ver o time de músicos que toca com Léo Jaime em
PhodaC... : Laudir Oliveira, a Léo Gandelman, Mamão, Oberdan, Rick Ferreira e o então onipresente Lincoln Olivetti. Os outros álbum também contam com ótimos músicos (Léo Gandelman está em quase todos), e tem convidados do clube do Brock, entre outros, Kid Abelhas e os Abóboras Selvagens, Cazuza. Os discos são muito bem gravados e tocados, embora a sonoridade também tenha ficado datada, sobretudo dos teclados. O rock nacional estava defasado, e o Brock no início copia muito as bandas gringas, o Police principalmente. Léo Jaime se diferencia da maioria, porque vai lá atrás nos anos 50, nas baladas doo wop ou nos clássicos Chuck Berry, Little Richard.
Discos que são bem reflexo da época de abertura. Feito aluno novato em colégio moderninho, que permite licenciosidades, Léo Jaime fala palavrões e excede-se nas paródias.
So lonely, do Police, virou
Solange (nome de uma tristemente célebre censora da época),e bate forte no regime com furo de roqueiro punk: “Eu quero ser o presidente/pra eu poder matar/e ter uns estudantes pra eu torturar” (
Todas as honras do presidente, d
e Direto do meu coração pro seu).
Musicalmente, como a grande maioria do Brock, Léo Jaime não envereda pela invenção. Sua música ainda hoje tem apelo pelo bom humor, e um punhado de canções "sérias", de melodias atrativas, a exemplo de
Nada mudou (Léo Jaime), que dá título à caixa. No mais, um documento de uma época em que se achava que o Brasil ia mudar para melhor. Não foi bem isso o que aconteceu, mas aí outra caixinha, de outro artista, daqui a umas décadas vai trazer canções com reflexos desta história.
Confiram Léo Jaime em
Nada mudou: