Cachoeiras reconhecidas como uma das Sete Maravilhas do Estado, um teleférico novinho para ver a cidade do alto, passeios regulares de balão e equipamentos hoteleiros de qualidade. Com o desenvolvimento alcançado nos últimos anos, a partir de investimentos públicos e privados, Bonito, no Agreste de Pernambuco, vivia o seu melhor momento no turismo. Até a pandemia do novo coronavírus chegar, paralisar as atividades e estancar taxas de crescimento que atingiam 60% em alguns empreendimentos.
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Caso do Bonito Plaza Hotel, um dos mais antigos e bem estruturados do destino. “O ano de 2020 seria espetacular como nunca antes. Toda a divulgação da cidade e melhorias que implementamos vinham surtindo efeito. Até visitantes estrangeiros passamos a receber”, conta a gerente, Ângela Monteiro, revelando que a ocupação estava entre 80% e 100% nos fins de semana até antes do derradeiro 22 de março, quando o hotel fechou as portas.
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Em destinos turísticos do Sertão do Estado, a situação era semelhante. Na Vinícola Rio Sol, em Lagoa Grande, os cinco roteiros de enoturismo registraram recorde em fevereiro, com alta de 20% na demanda. Em Triunfo, o Hotel do Sesc também apresentava crescimento de dois dígitos e ocupação superior a 80%.
Desde a adoção das medidas restritivas para tentar conter o avanço da covid-19 no Estado, o cenário se inverteu. “Perdemos a Semana Santa e também devemos perder o São João”, lamenta o diretor do Citi Hotéis de Caruaru, André Gomes, resumindo o sentimento de empreendedores que têm os eventos e negócios como principal fonte de receita. Das três unidades da empresa na capital do Agreste, apenas uma está aberta, com média de 40% de ocupação, em geral de trabalhadores das áreas essenciais, como saúde e alimentação. Já no Sesc, a perspectiva é de perdas de faturamento de até R$ 3 milhões, somando os equipamentos de Triunfo e Garanhuns.
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O coronavírus deixa um rastro tanto de mortes e sofrimento, como de prejuízos, demissões e contratos suspensos no setor que foi mais duramente atingido pela crise.
Apesar das incertezas, o interior pode puxar a retomada assim que os números de óbitos e contaminação recuarem e a abertura gradual for possível. Isso porque um dos poucos consensos na área é o de que o turismo regional será mais valorizado. Por muitas razões, que giram em torno das preocupações com a saúde, da insegurança em viajar para longe e das condições financeiras afetadas pela pandemia. Sem falar na disparada do dólar, hoje em torno de R$ 5,43. Mesmo para quem conseguir manter o padrão de renda, haverá restrições de viagens nacionais de longa distância e internacionais, com menos voos, alta de preços de bilhetes e maior controle sanitário nos países.
Desta forma, muito provavelmente serão priorizadas as escapadas de fim de semana e feriadões, para lugares onde é possível chegar de carro em poucas horas de viagem. Além disso, as pessoas devem querer evitar as aglomerações comuns a destinos badalados e dar preferência a locais que permitam maior contato com a natureza. É aí que as cidades interioranas levam vantagem. “Já estamos articulando um roteiro do grupo da Região Turística Serras e Artes de Pernambuco, que inclui Gravatá, Bezerros, Caruaru, Brejo da Madre de Deus, Bonito, Barra de Guabiraba, Sairé e Moreno”, adianta o secretário de Turismo de Gravatá, Darlan Rosendo.
Na cidade do Agreste, 17 dos 19 hotéis e pousadas estão fechados atualmente. Os únicos dois abertos são os que contam com flats de segunda residência. “Acreditamos no turismo doméstico para salvar pelo menos o segundo semestre”, diz Rosendo.
Na mesma linha, o presidente da Associação dos Secretários de Turismo do Estado (Astur) e titular da pasta em Afogados da Ingazeira, Edygar Santos, reforça que o trabalho para preparar a retomada começa agora com marketing e promoção das cidades nas redes sociais. "Haverá uma demanda reprimida. Precisamos mostrar que estamos prontos para receber esses visitantes", afirma.
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Na Vinícola Rio Sol, que costumava ter um público de regiões diversas, com destaque para o Sul e São Paulo, a expectativa agora é receber mais pernambucanos e turistas das cidades circunvizinhas. “É natural que as pessoas continuem querendo viajar, mas há uma tendência de valorizar o que é seu, da sua cidade e do seu Estado, até para ajudar na recuperação da economia local”, aposta o gestor de enoturismo, Tobias Mello, que prevê mudanças, como a redução do número máximo de pessoas por grupo, de 150 para 30, e adoção de protocolos de higienização mais rígidos.
É o que deve ocorrer também nos hotéis do Sesc, que vão operar inicialmente com capacidade reduzida e rodízio na utilização dos quartos. “Tenho escutado dos gerentes que, mesmo com a crise, os clientes não tem deixado de buscar informações. Isso nos dá um certo ânimo, embora a gente saiba que a retomada vai depender do perfil do equipamento. O de Garanhuns, mais voltado aos negócios durante a semana, deve se recuperar primeiro”, prevê o diretor regional do Sesc-Pernambuco, Osvaldo Ramos.
Com unidades no Recife e em Petrolina, o Grupo Nobile é outro que acredita no turismo de negócios, neste caso, na força do setor agropecuário presente na região do Vale do São Francisco, como um fator adicional que irá contribuir para uma recuperação mais acelerada. “Acreditamos também que o turismo de lazer interno crescerá exponencialmente após o fim da pandemia, pois diversos programas de incentivos a viagens nacionais já estão sendo realizados e intensificados”, afirma o diretor nacional de Vendas, Diego Garcia.
O secretário estadual de Turismo, Rodrigo Novaes, é mais comedido nas previsões, ressaltando que o setor não deve ser o primeiro a ser retomado, “com mais força ou agilidade”. Novaes diz, entretanto, que já há uma estratégia montada para dar visibilidade às questões de segurança sanitária em hotéis, bares e restaurantes. “A ação prioritária será tentar fazer com que a população de Pernambuco e os Estados vizinhos visitem as sub-regiões”, conta, reforçando que esses caminhos passam necessariamente pelo interior.
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