Se o turista não pode ir ao monumento, o monumento vai até o turista. E não só ele. Mas ruas inteiras, casarios históricos e até padarias e restaurantes do caminho. O que não se pode é deixar de viajar, mesmo durante o isolamento social. "Até para manter a leveza e a sanidade mental em meio à pandemia", sugere o guia de turismo e empreendedor Olavo Medeiros, 49 anos.
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Criador do perfil @OMelhordeSampa, que depois virou agência e operadora de turismo, ele encontrou uma maneira criativa de continuar realizando os passeios alternativos que costumava oferecer pela capital paulista. A diferença é que agora, em vez de se encontrar com os grupos presencialmente, Olavo une as ferramentas do Google Earth com aplicativos de reuniões virtuais para guiar turistas e moradores na cidade.
"Descobri que consigo reproduzir com o 'bonequinho' do Street View os mesmos trajetos que fazia nos meus walking tours tradicionais", conta, animado com os recursos extras proporcionados pela tecnologia. "Consigo adicionar fotos antigas dos lugares, vídeos, música. É toda uma nova experiência, em que usamos mais a imaginação. Às vezes, é até mais emocionante, até com aplausos", descreve o guia, acrescentando que os passeios começam no futuro, "quando o pesadelo da covid-19 já terminou".
A ideia teve início há três semanas, com roteiros pelos templos budistas de São Paulo. Neste domingo, é dia de percorrer os bairros paulistanos do Bom Retiro, das 10h às 12h, e da Liberdade, das 15h às 17h. "A maioria dos viajantes e até gente daqui (SP) só conhece a Liberdade como bairro japonês. Poucos sabem que era um local de tortura de negros escravizados", adianta Olavo, como um aperitivo das informações que compartilha no passeio.
Quem quiser garantir uma vaga deve se apressar. Para felicidade do guia, até então sem alternativa de renda durante a pandemia, a iniciativa tem dado super certo e as 15 vagas por tour, lotado rapidamente. "Antes fazia cerca de 15 passeios presenciais por mês. Agora, a quantidade de pessoas nas rotas já tem quase empatado", comemora.
Na versão online, o preço do walking tour cai pela metade. De R$ 50 para R$ 25.
Para o turista, além do precinho camarada, também há um plus. "Nos roteiros a pé, geralmente, há uma parte importante de gastronomia. Paramos em padarias, sorveterias, bares e outros locais para experimentar comidas e bebidas. Neste formato, assim que o tour acaba, os clientes recebem o roteiro detalhado com links e uma lista de lugares interessantes para frequentar quando for possível ou para pedir delivery, no caso de quem estiver em São Paulo", detalha o profissional, que deixou uma carreira bem-sucedida na área de marketing de uma grande empresa para se dedicar ao turismo.
Quando o emprego começou a sufocar a vida pessoal, Olavo decidiu montar o negócio com o conhecimento que tinha da cidade onde nasceu. Até o coronavírus se disseminar, já eram 42 roteiros montados e cerca de 10 mil clientes atendidos. As opções online ainda são reduzidas (por enquanto, três rotas), porque cada adaptação leva pelo menos uma semana para ficar pronta, segundo o empreendedor, que já contabiliza 146 clientes no formato.
Habituado a reviravoltas, Olavo acredita que a ideia do walking tour virtual deve permanecer para além da crise da covid-19, como outras mudanças de comportamento que vieram para ficar. Será uma alternativa, por exemplo, para pessoas sem condições de fazer grandes caminhadas, mas que não abrem mão de conhecer novos lugares. Nem que seja pela tela do computador.