O turismo e a criatividade como ferramentas de desenvolvimento pós-coronavírus

Na quarta entrevista da série sobre o futuro do setor, confira os principais tópicos da conversa com Larissa Almeida, co-fundadora da Recria Turismo Criativo, que participa de live nesta terça-feira (19), às 21h
Mona Lisa Dourado
Publicado em 19/05/2020 às 16:59
Larissa Almeida é co-fundadora da Recria Turismo Criativo Foto: 3por4Fotografia/DIVULGAÇÃO


Os saberes e a riqueza cultural da periferia do Recife são fonte de inspiração para Larissa Almeida. Bacharel em Hotelaria e mestre em Administração pela UFPE, a profissional defende um tipo de turismo ancorado na criatividade, na inovação e no desenvolvimento territorial.

Com esse propósito, passou a trabalhar na construção de negócios sustentáveis. Entre muitas atividades, tornou-se consultora do Sebrae, contribuindo para a organização de iniciativas de turismo de base comunitária em diversos pontos do Nordeste brasileiro.

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O aprendizado prático veio da atuação como empreendedora na Loa Experiências e das formações na Usina de Ideias e no SGB LAB. A expertise acumulada em todos esses projetos acabou resultando na articulação da Recria – Rede Nacional de Turismo Criativo do Brasil, da qual é co-fundadora.

Larissa Almeida é a quarta entrevistada da coluna para a série que discute o futuro do setor pós-pandemia da covid-19. Para ela, o Turismo Criativo de Base Comunitária é o que tem maior potencial de responder aos valores de preocupação que as pessoas irão buscar daqui para frente, quando devem prevalecer “comportamentos de cuidado, acolhimento e segurança”. 

Confira abaixo os principais tópicos da conversa com a especialista, que participa de live nesta terça-feira (19), às 21h, no canal da Recria no YouTube (bit.ly/RecriaConecta19MAI)

COLABORAÇÃO COMO PRINCÍPIO

Essa crise que estamos vivendo aponta duas questões muito fortes. A primeira é a questão da colaboração. Do cuidado. Só é possível mitigar essa pandemia se a gente colaborar. Não adianta eu me cuidar, se eu não cuido do vizinho. A forma de minimizar o risco é literalmente se preocupando e colaborando com o outro, para que o outro não se contamine e eu não me contamine também. Então a primeira questão é a colaboração. Penso que o turismo precisa pensar em como os negócios podem colaborar entre si.
O turismo precisa de grandes estruturas para acontecer. Grandes museus, grandes hotéis. As companhias aéreas têm estrutura grande. Então, como esse fluxo diminuiu, como essas empresas podem trabalhar juntas para atender e entregar algo de valor ao cliente e ainda ter lucro?

Foto: Divulgação - A Rede Nacional de Turismo Criativo (Recria) foi premiada na categoria de Melhor Estratégia de Desenvolvimento do Turismo Criativo

HUMANIZAÇÃO E CONFIANÇA

Nessa linha do cuidar, ainda, depois da crise, as pessoas vão precisar atuar muito na base da confiança. Então as empresas vão precisar ser muito transparentes quanto às medidas que tomam com relação a higiene, limpeza, profilaxia, procedimentos de biossegurança. Isso em todos os segmentos. E ainda nessa questão do cuidado, a necessidade de um atendimento mais humanizado. Trazer humanidade para o atendimento.

Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem -

Outra questão importante é a tecnologia. Ela vai avançar muito no atendimento dentro do turismo. Como já está na nossa vida como um todo. Vai ser muito difícil depois de termos experimentado essas diversas possibilidade de eventos, reuniões e possibilidades tecnológicas. Por exemplo, jogos de futebol, shows, que fazem parte do turismo, provavelmente a gente não vai ter isso tão cedo. Então as empresas terão que pensar em como entregar o valor de estar junto no show, estando em casa ou em pequenos grupos. Depois que essa tecnologia tiver formatada, vai ser muito difícil voltar a ser o que se era antes. Só que esta tecnologia precisa ser humanizada. A gente já estava em uma evolução para essa era tecnológica. A pandemia apenas acelerou essa transformação. A inteligência artificial precisa ser humanizada. Seria muito revolucionário que as pessoas partissem de uma mudança de competição para colaboração. Que os negócios vissem a possibilidade de cooperar entre si. Em uma escala muito maior.

Foto: Bianca Souza/ JC Imagem - A capital pernambucana é a única cidade brasileira a fazer parte da Creative Tourism Network


FORTALECIMENTO DO TURISMO DE BASE COMUNITÁRIA

O turismo criativo de base comunitária, nesse momento, está parado. E são negócios que não têm fluxo de caixa para se manter nesse momento. Eles foram bastante impactados com relação à questão financeira. Entretanto, essas atividades do turismo de base comunitária estão geralmente ancoradas em outras atividades. Pode ser na agricultura, na pesca, no artesanato etc. O turismo de base comunitária está em um território que produz outras coisas e essas atividades é que fomentam o turismo. Então por conta disso, os territórios ainda estão conseguindo se manter, por conta das suas atividades primárias. Uns mais, uns menos. São segmentos que vão se fortalecer após a pandemia. As pessoas vão estar temerosas e vão desejar ir a lugares onde não haja aglomerações, o que é uma das principais características do turismo criativo de base comunitária.

Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem -

Outra tendência serão as experiências em que as pessoas possam vivenciar algo, mas que possam dormir em suas casas. Experiências próximas dos locais onde os turistas moram. E a consciência de transformação. O valor de cuidar do espaço, do território, que são os valores do turismo criativo e de base comunitária. Dessa forma, o turismo Criativo de Base Comunitária tem um potencial de responder aos valores de preocupação que as pessoas irão buscar no mundo pós pandemia. Que é o desenvolvimento do território, das pessoas e a sustentabilidade do planeta. A humanidade precisa se conscientizar que essa é uma crise ambiental para reconfigurar a forma como a gente consome.

Leo Motta/JC Imagem - Alternativa ao turismo convencional ganha força no Recife. Cidade já conta com um plano de desenvolvimento para o segmento


POLÍTICAS PÚBLICAS

A política pública pode ajudar na minimização dos efeitos da crise, se ela criar uma estratégia de disseminação de um turismo realmente sustentável. Valorizar empresas que tenham na sua cadeia produtiva um elo que gere sustentabilidade para as cidades, territórios e comunidades. A política pública precisa ter um entendimento do importante papel dela na retomada do turismo.
A gente precisa parar de pensar em luxo, pra pensar em histórias, humanidade, sustentabilidade. Você visitar e respeitar o espaço, o local. Planejar as viagens, os deslocamentos pensando na otimização dos recursos, em como você pode ter uma sequência de atividades encadeadas. Olhando os fornecedores, nas condições como eles atendem o visitante.


MUDANÇA DE COMPORTAMENTO

A gente precisa ter consciência de que temos que ter uma relação com os lugares e as pessoas que fazem os lugares. Este é o momento de repensar nossos valores e consumo e nossa forma de atuar no mundo. Amsterdã está trabalhando uma nova forma de política pública com uma gestão inclusiva de pensar o desenvolvimento não a partir do PIB, apenas. Mas a partir de outros indicadores que geram bem-estar para a população. Isso é um indicativo da necessidade de mudança para que a gente pense formas mais sustentáveis de fazer turismo e de viver. Amsterdã está pensando: e se o desenvolvimento for o decrescimento? Essa é uma mudança de paradigma muito grande.

Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem - Catamarã leva à Ilha de Deus, uma das comunidades que contam com turismo de base comunitária no Recife, ao lado da Bomba do Hemetério

EXEMPLOS

Neste momento, o que as empresas que trabalham com turismo podem fazer é estimular a comunicação como os clientes. Manter a base de relacionamento. É estar junto deles. É dizer que se importa. Na Colômbia tem uma empresa que faz passeios. Agora as experiências são online. Através do turismo de gastronomia, eles mandam os ingredientes para casa dos clientes e depois fazem um chat onde todo mundo cozinha junto. Esse é um ótimo exemplo. É cuidar da sustentabilidade como um todo para que o cliente vivencie bem-estar. Os comportamentos devem ser de cuidado, acolhimento e segurança.

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