Conteúdo atualizado às 19h30 do dia 18 de agosto de 2020
A maioria das portas de entrada interditadas, iluminação reduzida, muitos quiosques de vendas de produtos desativados e postos de informação turística fechados revelam os efeitos da pandemia da covid-19 sobre a movimentação do Aeroporto Internacional do Recife.
A coluna visitou o terminal na manhã desta terça-feira (18) e constatou na prática um vazio que reflete a queda no número de voos. Para se ter uma ideia, a média diária de frequências (chegadas e partidas) em agosto de 2019 era de 195, enquanto neste mês está em 62 (-68%).
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Com a reabertura de vários segmentos da economia, no entanto, pouco a pouco os viajantes também recuperam a coragem de voar. Em julho deste ano, já foi registrado um crescimento de 157,58% sobre junho no fluxo de passageiros, passando de 96,5 mil para 248,7 mil, de acordo com dados da Empetur. São principalmente executivos a negócios, mas também já há muita gente vindo ao Estado para visitar parentes ou a lazer.
Para minimizar os riscos de contaminação de quem trafega pelo aeroporto, várias medidas de segurança sanitária foram implementadas. Segundo a administradora do terminal, a Aena Brasil, o acesso está limitado a apenas dois portões (um no embarque, no primeiro andar, e outro no desembarque, no térreo), para que seja possível monitorar a entrada apenas de pessoas portando máscaras. O uso do item é obrigatório em todas as instalações. A aferição da temperatura dos passageiros, por outro lado, não faz parte dos protocolos.
Na área interna, há adesivos no solo e cartazes em três idiomas (português, espanhol e inglês), indicando a necessidade de distanciamento social. Da mesma forma, nas poltronas do saguão, há demarcações intercalando os assentos interditados e aqueles liberados para uso. Os recipientes de álcool em gel, por sua vez, são mantidos de forma mais discreta, afixados nas paredes, e não em totens no chão, como tem sido mais comum em ambientes públicos.
Por todo o terminal, também se observa a presença de funcionários fazendo a limpeza de corrimões e outras áreas de contato com produtos de higiene.
Nos poucos guichês de check-in em funcionamento no período em que a coluna esteve no aeroporto, havia poucas filas e a distância entre os clientes era respeitada. O mesmo cenário foi observado na passagem pelo raio-x.
Já na sala de embarque havia um certo alvoroço causado por uma novidade da Azul, cujo objetivo é justamente o contrário: o de ordenar a entrada na aeronave e evitar aglomerações. Em testes desde julho e apresentado oficialmente no Recife nesta terça (18), o chamado Tapete Azul estimula o cliente a esperar sentado até ser chamado para embarcar.
Disponível em 10 portões, do 7 ao 16, a tecnologia organiza o embarque por meio do uso de sistemas de realidade aumentada e inteligência artificial desenvolvidos pela empresa paranaense Pacer Tecnologia.
Monitores indicam o momento exato em que o passageiro deve ir para a fila de acordo com o número do seu assento. Ao se levantar, ele segue um tapete colorido e móvel projetado no chão, que aponta onde deve se colocar e quando dar o próximo passo rumo ao avião. Entre um cliente e outro, a distância programada é de quatro metros.
Um ponto interessante que demonstra a "inteligência" da tecnologia é a sua capacidade de adaptação. Por exemplo, caso um passageiro se distraia ou se confunda e deixe de caminhar no tempo devido, a projeção é paralisada a partir daquele bloco, impedindo que a pessoa de trás se aproxime, sem atrapalhar o fluxo na frente.
De acordo com o gerente de projetos especiais da Azul, Giuliano Podalka, a inovação tem reduzido em cerca de 25% o tempo entre a entrada e acomodação na aeronave, que é feita em "ondas", de trás para a frente e da janela para o corredor.
Ainda sem entender bem o funcionamento do novo sistema, muitos clientes não tiveram paciência de aguardar a chamada e acabaram ficando de pé em torno da projeção. "Por isso, mantemos um funcionário sempre orientando sobre o posicionamento, até que as pessoas se acostumem com o uso do tapete, que veio para ficar." Segundo Podalka, a solução será implantada ainda este ano em 22 aeroportos e 100 portões, que respondem por 70% do total de viajantes transportados pela Azul.
O executivo também apresentou a nova bancada de impressão, com seis tablets, em que os próprios passageiros imprimem a etiqueta de bagagem via QR Code e sem toque na tela, após fazerem o check-in online.
Viajando pela primeira vez durante a pandemia, do Recife para Guarulhos (SP), o produtor musical Júnior Ramos aprovou a novidade. "Estava com receio inicialmente de voar, mas os protocolos me deram confiança. Fiz todo o processo online e aqui no embarque achei a tecnologia uma ótima ideia para facilitar a locomoção sem estresse", diz.
O empresário Alexsandro Silva teve uma impressão diferente. "Apesar de parecer interessante, achei que não surtiu muito efeito, pelo menos neste voo, pela falta de educação mesmo. Muita gente acabou se aglomerando", critica.
Enquanto os aeroportos ainda estão esvaziados, as aeronaves decolam cada vez mais cheias, para preocupação de muitos passageiros. É o caso da esteticista Michele Costa, que não pretende voltar a viajar até que uma vacina contra a covid-19 esteja disponível. "O voo da vinda estava lotado, com os assentos do meio todos ocupados. Vi pessoas tirando a máscara para comer, ninguém afere temperatura e dentro do banheiro não havia álcool em gel", descreve a viajante, que veio de Caieiras (SP) passar as férias na casa da família na cidade de João Alfredo, no Agreste do Estado.
As empresas aéreas justificam que aumentar a ocupação é a única forma de viabilizar financeiramente os voos. A Azul e a Latam deram início na segunda-feira (17), inclusive, a um acordo de codeshare (compartilhamento) para otimizar a venda de assentos por ambas as companhias para um mesmo voo. A parceria envolve oito destinos com partidas no Recife (Belo Horizonte, Petrolina, Juazeiro do Norte, Fernando de Noronha, Campina Grande, Salvador, São Luís e Fortaleza), entre 64 rotas domésticas no País.
Na Azul, diz Giuliano Podalka, a ocupação atual a partir da capital pernambucana está em 78%, quando no pré-pandemia era superior a 80%. De 55 voos diários que a companhia tinha, em média, antes da covid-19, 31 estão sendo restabelecidos até setembro para 19 destinos diretos.
Em relação às medidas de segurança, o executivo destaca que, além do uso da tecnologia para evitar contato pessoal, a higienização tem sido reforçada. "O filtro Hepa renova o ar a cada três minutos e filtra 99,7% dos vírus e bactérias. No pernoite, é feita uma limpeza com pulverizador. Ainda distribuímos o álcool em gel em sachês, organizamos o desembarque por fileiras e o serviço de bordo agora é servido apenas na saída, quando entregamos os snacks e as bebidas para o passageiro levar", resume Podalka, acrescentando que de 1.500 comissários em voo durante a pandemia, 10 foram contaminados com o coronavírus. "Isso é menos de 1% e nem podemos dizer que foi durante o trabalho", argumenta.
Até que a imunização em massa seja possível, o máximo que as companhias aéreas podem fazer é tentar mitigar as possibilidades de transmissão do vírus. No mais, cabe a cada viajante analisar os cenários e os riscos, para tomar a melhor decisão.