Paradoxo

Entenda por que o café pode te deixar cansado ao invés de super ativo

Estudiosos revelam quando a cafeína deixa de ser aliada do nosso corpo

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Marília Banholzer

Publicado em 25/09/2021 às 8:00
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A cafeína, principal ingrediente ativo do café, tem a boa reputação de ser um impulsionador de energia. A substância pode ser consumida ao beber um café, energético ou mesmo em forma de cápsula encontradas facilmente em casas de produtos fitness ou naturais. No entanto, se usada de forma desacompanha e prolongada, a a queridinha que deixa as pessoa mais ativas pode, na verdade, fazer o efeito contrário. Além disso, consumida em excesso, a substância provoca aumento da pressão arterial, arritmia e palpitações.

Vale lembrar que a cafeína é uma droga e, portanto, pode ter um impacto diferente em cada um de nós, dependendo de nossos hábitos de consumo e até de nossos genes. "O paradoxo da cafeína é que, no curto prazo, ela nos ajuda a ficar mais atentos e em estado de alerta. Ajuda em algumas
tarefas cognitivas e aumenta o nível de energia. Mas o efeito cumulativo – ou o impacto no longo prazo – tem o efeito oposto", disse Mark Stein, professor do Departamento de Psiquiatria e Ciências Comportamentais da Universidade de Washington, ao New York Times.

O estudioso analisou o impacto da cafeína em pessoas com transtorno do déficit de atenção com hiperatividade. Segundo seus estudos, parte dos efeitos paradoxais da cafeína resulta no que os pesquisadores chamam de "pressão do sono", que faz com que nossa sensação de sono reduza com o passar do dia.

Para o neurocientista da Universidade Johns Hopkins, Seth Blackshaw, que estuda o sono, ainda é preciso aprender mais como a pressão do sono se acumula no corpo, mas que, ao longo do dia, nossas células e nossos tecidos usam e queimam energia na forma de uma molécula chamada trifosfato de adenosina, ou ATP. À medida que o ATP é gasto – nas mais diversas e banais atividades diárias –, nossas células geram uma substância química chamada adenosina como subproduto. Essa adenosina passa a se ligar a receptores no cérebro, deixando-nos mais sonolentos.

Então, quimicamente, a cafeína se parece muito com a adenosina e acaba ocupando esses pontos de ligação, impedindo que a adenosina se ligue a esses receptores cerebrais. Como resultado, a cafeína atua suprimindo temporariamente a pressão do sono, mas quando os efeitos acabam o corpo começa a cobrar a conta do que foi acumulado. E a, de fato, a única maneira de aliviar e zerar o nível elevado de pressão do sono é dormindo.

O perigo está na tolerância que nosso corpo cria sempre que ingerimos cafeína. Ou seja, aos poucos, a dose de sempre vai sendo pouco para obter os mesmos resultados, pois nosso fígado se adapta
produzindo proteínas que a quebram mais rapidamente, e o número de receptores de adenosina em nosso cérebro se multiplica.

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Cafeína estimula a produção de hormônios ligados à sensação de prazer e bem-estar - acervo

Segundo Stein, em última análise, o consumo contínuo ou cada vez maior de cafeína afeta negativamente o sono, o que também faz com que nos sintamos mais cansados. "Se você está estressado, dormindo pouco e dependendo da cafeína para melhorar esse quadro, vai criar a tempestade perfeita com uma solução de curto prazo que vai piorar muito sua situação no longo prazo. A ingestão de mais café vai gerar um impacto negativo no seu sono, e isso é cumulativo."

No Brasil, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) considera seguro o consumo de até 400 mg de cafeína por dia para pessoas saudáveis — já considerando a substância presente nos alimentos e no suplemento em cápsula. Essa quantidade equivale a cerca de 5 xícaras de café. 

Apesar do uso da cafeína ser relativamente seguro, alguns efeitos colaterais podem surgir se consumida em grande quantidade: insônia, irritação, dor de cabeça, náusea, taquicardia, tremores de extremidade e até uma crise de ansiedade. A cafeína também pode causar picos de açúcar no sangue ou levar à desidratação – fatores que podem nos deixar mais cansados, apontou Christina Pierpaoli Parker, pesquisadora clínica que estuda o sono na Universidade do Alabama, em Birmingham.

"O ideal é beber café de forma divertida e útil, para que ele realmente dê um impulso quando você  precisar", ressaltou Blackshaw. A cafeína é um complemento útil, mas não é bom se tornar dependente dela", completou Stein.

 

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