A pandemia do novo coronavírus transformou o mercado de trabalho no mundo todo e, com equipes inteiras atuando remotamente, muitas empresas sentiram a necessidade de modificar ou incrementar seus programas de treinamento durante o isolamento social. Nesse cenário, a tecnologia foi e tem sido uma grande aliada, encurtando o caminho e permitindo que as organizações ampliem ainda mais a oferta de cursos e ferramentas de educação corporativa.
O grupo pernambucano Grau Educacional precisou aperfeiçoar os processos de capacitação dos franqueados, gestores e colaboradores. Para isso, migrou totalmente os treinamentos e palestras de sua Universidade Corporativa para a internet. “Antes, os encontros eram híbridos. O que acontecia presencialmente era transmitido para outros lugares. Agora, tudo já é pensado para o ambiente online, o que otimizou nossos treinamentos”, diz o gerente institucional da empresa, Carlos Gomes. Além disso, o grupo criou salas virtuais para que os funcionários se mantivessem em interação durante o período de isolamento social. “Isso foi importante porque diariamente as equipes se reuniam, o que acabava engajando e incentivando todo mundo a produzir igual ou mais do que antes da pandemia”, conta Gomes.
Para Alberto Borges, consultor e sócio da Lumi Consult, esse é o caminho certo. A busca por modernizar e aperfeiçoar as estratégias de educação corporativa, com mais tecnologia, é essencial para determinar o futuro das empresas, defende ele. “Os processos tradicionais geralmente exigem que as organizações reúnam todo o time em um só lugar durante dois ou mais dias. Sem falar ainda, que boa parte dessas sessões trazem métodos ultrapassados. Inovar nesse aspecto é fundamental para fazer a empresa se projetar ao futuro”, afirma Alberto, que organiza, nos próximos dias 28 e 29, o I Meeting Nacional de Educacao em Cenarios de Transformacao - Os desafios da Educacao no Novo Cenario.
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O consultor, porém, ressalta, que para inovar não basta apenas criar ferramentas tecnológicas e disponibilizá-las. “É preciso intensificar as ações de motivação, estabelecer uma comunicação clara e transparente com todos os colaboradores, além de ofertar cursos e ações educacionais que obtenham engajamento”, explica ele.
Gamificação com alternativa
Para alcançar isso, as empresas podem adotar a chamada gamificação da educação corporativa, segundo Joel Lemme, especialista em inovação corporativa e tecnologia da informação. O conceito consiste na aplicação de técnicas e mecânicas de jogos em contextos que não são jogos. A prática, que já existe há alguns anos, vem ganhando destaque devido ao momento de isolamento social. “Com as empresas esvaziadas, por causa da pandemia, elas precisaram buscar meios de fazer o funcionário em home office continuar motivado a produzir e acabaram encontrando na gamificação essa ajuda”, diz ele.
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Em Pernambuco, a plataforma Apta, que tem seu foco nesta técnica, está ganhando os mercados corporativo e de educação técnica e superior. Lançada há quase quatro anos pela Joy Street, empresa especialista em desenvolvimento de tecnologias educacionais ludicas, a Apta visa criar uma transformação radical no Ensino a Distância (EaD), ela usa jogos com missões e desafios para estimular a aprendizagem. Como em um videogame, o colaborador desenvolve seu aprendizado ao longo de fases: começa pelas mais básicas, ganha pontos a cada objetivo alcançado e avança para desafios mais complexos, evoluindo de níveis durante o processo. “Resolvemos apostar numa plataforma EaD com componentes de jogos para o ensino com uma nova ideia de missão e desafios na trilha de aprendizagem”, explica Luciano Meira, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e sócio-fundador da Joy Street.
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A plataforma vem sendo usada por clientes como o Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Recife (Cesar), que precisava selecionar candidatos para o programa Summer Job e, com mais de 1,5 mil currículos recebidos, teve que mobilizar 30 pessoas para a tarefa. Com a Apta, o processo ficou mais rápido e demandou menos capital humano.
“Desenvolvemos uma trilha de aprendizagem que é possível ver não apenas o currículo, mas avaliar o potencial dos candidatos, por meio de algoritmos”, explica Meira, afirmando que a Apta também antecipa conteúdos iniciais sobre empreendedorismo e inovação que vão gerar um ranking e o engajamento dos candidatos ao programa. “Um diferencial em relação a outras seleções”, defende Luciano.
Apesar de tanta modernidade, se engana quem pensa que é apenas com o uso da tecnologia de última geração que a gamificação pode ser posta em prática. Tentativas de tornar o aprendizado mais lúdico, como a realização de experimentos práticos, já se enquadram na técnica.
Para Joel Lemme, a gamificação pode dar mais ânimo a colaboradores que tiveram que mudar suas rotinas drasticamente e ainda não se adaptaram ao novo contexto. O objetivo de trazer aspectos de jogos para outros contextos é estimular as pessoas. “O nome gamificação vem do fato de os games terem um sucesso extraordinário na de engajar e motivar quem joga”, diz. Enquanto o futuro segue sendo um cenário de incertezas, corporações podem se aproveitar da técnica para transmitirem conhecimento de forma mais envolvente.
Por não depender de plataforma digitais complexas, o conceito pode continuar com a retomada gradual das atividades econômicas. Na avaliação do especialista, essa técnica, que tem ganhado muita força durante a pandemia, veio para ficar. “Enquanto a falta de engajamento e de motivação forem uma realidade no ensino, haverá espaço para a gamificação”, pontua Joel, enfatizando que isso não pode ser encarado como a solução para todos os problemas, mas sim como uma ajuda. “Não é uma fórmula mágica que resolve todos os problemas. Há algumas situações estruturais que precisam ser resolvidas antes que qualquer gamificação tenha algum valor”, assegura.
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