Há exatos 15 anos, no dia 4 de abril de 2005, no horário das 20h30, a Bandeirantes lançava em sua programação o seu retorno à teledramaturgia, que estava parada desde Meu Pé de Laranja Lima exibida em 1998. E sua aposta tinha tudo para dar certo: um roteiro argentino de Cris Morena - a mesma autora de Chiquititas -, os mesmos produtores do reality show musical Popstars - sucesso nos anos de 2002 e 2003, que revelou o grupo Rouge, no SBT - incluindo seu produtor musical, Rick Bonadio, que versionou músicas da trama portenha e compôs temas inéditos para a adaptação brasileira de Floricienta, lançada no país irmão em 2004. No elenco, nomes conhecidos do público jovem como Juliana Silveira e Roger Gobeth ajudaram a impulsionar o folhetim. O resultado de tudo isso está na novela Floribella, um grande sucesso infantojuvenil que durou duas temporadas e 344 capítulos na emissora paulista.
>> Floribella 15 Anos: o amor de Juliana Silveira, a eterna Maria Flor
>> Floribella 15 Anos: a alegria de Roger Gobeth, o Fred
>> Floribella 15 Anos: a felicidade de Maria Carolina Ribeiro, a Delfina
>> Floribella 15 Anos: a dedicação de Suzy Rêgo, a Malva
>> Floribella 15 Anos: a gratidão de Gustavo Leão, o Guto
>> Floribella 15 Anos: a visão da autora Patrícia Moretzsohn
O Jornal do Commercio conseguiu conversar com parte do elenco e a autora da versão brasileira, Patrícia Moretzsohn, que junto com Jaqueline Vargas, foi encarregada de adaptar a trama para o Brasil. E ela lembrou como o folhetim chegou em suas mãos. “É uma história interessante. Era 2003, eu tinha saído da TV Globo e, de volta de uma viagem pela Europa, onde aperfeiçoei meu espanhol, cursava meu Mestrado em Letras. Então, soube que na Band estavam procurando alguém que falasse espanhol e pudesse assistir a alguns episódios de uma novela argentina que eles estavam considerando adaptar. A ideia era fazer apenas um parecer, mas eu me apaixonei por Floricienta e saí falando pra todo mundo que não só valia a pena adaptar, como eu achava que eu tinha que ser a autora. Deu certo”, disse Patrícia aos risos.
Apresentada como a “Cinderela do ano 2000”, a novela contava a história de Maria Flor Miranda (Juliana Silveira), uma moça jovial e alegre que, apesar de ser órfã, ganha a vida como pode com a ajuda de sua madrinha, Titina (Zezé Motta) e seu filho, Batuca (André Luiz Miranda). Ela acaba tomando a liderança de uma banda de seus amigos da Travessa dos Beijos depois que a vocalista original briga com os outros integrantes. Um dia, as também orfãs crianças da mansão dos Fritzenwalden contratam a banda para uma festa e Flor se torna babá da casa, o que gera diversas oportunidades para que ela se encante por Frederico (Roger Gobeth), o mais velho da casa. Mas Malva (Suzy Rêgo), a madrinha de Fred, faz de tudo para que sua filha Delfina (Maria Carolina Ribeiro) case com o moço e garanta um casamento milionário.
O apelido com a famosa personagem do conto de fadas não era a toa: um dos amuletos da sorte de Flor era o tênis Bamba da Sorte, que se tornou febre entre as meninas na época, bem como a protagonista sempre via a mansão dos Fritzenwalden como um castelo e Fred, que ela apelidava de Seu Freezer, como o seu príncipe.
Juliana Silveira, a intérprete de Maria Flor, lembra da personagem com muito carinho e revelou como ela nasceu. “Me inspirei naquele filme De Repente 30, com a Jennifer Garner. E segui minha intuição mesmo. Fizemos uma preparação de 7 dias com todo o elenco, algumas leituras de mesa, mas o processo foi tão intenso pra mim que, quando eu vi, a Flor já tinha tomado forma e já estava dentro da minha vida”, conta a atriz. Seu par romântico na novela, Roger Gobeth, também recorda da composição do Fred: “Ele era aquele irmão mais velho, frio, responsável e preocupado com a educação de seus irmãos e um cara que descobre o amor verdadeiro quando encontra a Flor. E esse amor o transforma num cara legal. Então pensei em caminhar por esse arco e trabalhar essa transformação”.
Se Floribella tinha uma princesa e um príncipe, as “bruxas” também davam conta do recado. A parceria entre a pernambucana Suzy Rêgo e Maria Carolina Ribeiro como mãe e filha malvadas divertiu o público. “Fui convidada pelo saudoso diretor Sacha Celeste. O desafio de fazer uma vilã numa novela infantojuvenil me encantou, me apaixonei pela personagem Malva Torres Bittencourt, uma vilã de pastelão”, relembrou Suzy. “Fiz audição para a novela, foram dois ou três testes. O texto do primeiro teste era um monólogo da Flor. E eu ri ao ler. Já gostei de cara. Quando recebi o texto da Delfina para o teste seguinte, foi amor à primeira leitura. Amei a Delfi”, relatou Maria Carolina.
Com elenco adulto, juvenil e infantil, quem também fez testes para a trama foi o paulista Gustavo Leão, que interpretou o Augusto Fritzenwalden, o Guto, um dos irmãos do Fred. Floribella foi a sua estreia em novelas. “Tudo começou quando minha mãe resolveu me inscrever no Miss e Mister Praia Grande 2003. (risos) Acabei ganhando esse concurso. Através dele veio o convite para fazer o teste na Band. Quando cheguei na Band eram aproximadamente 6 mil pessoas, fiquei umas 7 horas na fila. Mas acho que valeu a pena”, relembra o ator.
A novela Floribella foi um verdadeiro divisor de águas na Band assim que começou a ir ao ar devido à sua resposta positiva do público em tão pouco tempo. A trama era gravada no Polo de Cinema e Vídeo, localizada na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro. E assim como a Band saía da zona de conforto ao voltar a investir em teledramaturgia, o elenco da novelinha também se adaptava a um ritmo intenso de gravação e preparação.
“A rotina era intensa. O elenco adulto começava cedo pela manhã para adiantar o que fosse possível, pois o elenco menor de idade frequentava a escola e chegavam às 13h para gravar até 18h, 19h. Era muito trabalho, muito texto, muita ação e muita diversão. Minha melhor lembrança é que fiquei hospedada na casa da minha amiga/irmã Mariama Lemos de Moraes, que hospedou também Maria Carolina Ribeiro, a Delfina. Morar com elas foi sensacional. A Mariama até fez participação na novela de tão próxima que ela ficou de todos”, relembra Suzy Rêgo.
Assim como a intérprete de Malva, sua filha na ficção também recordou dessa aproximação por trás das câmeras. “Todos ficávamos juntos o tempo todo. Eu e Suzy tínhamos muitas cenas juntas e ainda morávamos no mesmo apartamento. Quando estávamos em casa, passávamos nossas cenas, que eram muitas. Era época de muito trabalho e um trabalho feliz. Era o máximo! Um período muito bom da minha vida”, completa Maria Carolina Ribeiro.
“Era pauleira! A gente gravava de segunda a sábado, até porque o elenco era pequeno. Porém, foram dois anos mágicos! A melhor parte do meu dia era ir para a gravação. Todos eram muito amigos e unidos, formamos uma família de verdade. Tanto que após 15 anos mantenho contato e sou amigo bem próximo de muitos do elenco”, relata Gustavo Leão.
Se não era fácil para os coadjuvantes, os protagonistas também suavam bastante a camisa. “Nós gravávamos diariamente. Tínhamos duas frentes, ou seja, duas equipes de gravação simultânea: uma dentro do estúdio, e outra na externa. Gravávamos aqui no Rio de Janeiro, e como tínhamos somente um estúdio disponível, ficávamos o dia todo ali, ou dentro do estúdio gravando as cenas de interiores ou na externa, que era no estacionamento em frente gravando jardins e outras coisas, ou esperando o momento de gravar. Então ficamos os oito meses muito juntos. Viramos mesmo uma família de grandes amigos”, conta Roger Gobeth.
Além de gravar a novela, Juliana Silveira como Maria Flor ainda tinha que dar conta de outras obrigações: “As gravações aconteciam de segunda a sábado. Aos domingos, eu fazia alguma divulgação: ou de rádio para as músicas, ou algum programa de auditório, alguma ação para os produtos licenciados. Passei um ano e meio trabalhando todos os dias, sem descanso. Bem no final, já na segunda temporada, as gravações aconteciam de segunda a sexta e os finais de semana eram reservados para os shows”.
O processo de adaptar uma novela também exigia muito da autora Patrícia Moretzsohn. Uma das características que mais chamava atenção em Floribella era a diferença de personalidade da Flor brasileira para a Flor original, a argentina, interpretada por Florencia Bertotti. Em Floricienta, a protagonista era um pouco mais ousada: bebia e até engravidava ao longo da trama. Mas Patrícia tomou outro caminho com Juliana Silveira.
“Uma adaptação envolve elementos para além da história. Por mais que o original seja muito forte, como é o caso de Floricienta, o ambiente que se cria aqui, o elenco com as idiossincrasias de cada novo ator no seu personagem, faz com que existam ajustes naturais. No caso da Flor, estamos falando de duas atrizes diferentes, a Florencia (argentina) e a Juliana Silveira (brasileira). E a Juliana também traz sua contribuição como a atriz carismática que é. De certa maneira, fomos nos moldando ao ritmo dessa nova protagonista e o elenco ao seu redor. Pessoalmente, achei uma possibilidade muito rica”, explicou a autora.
Além do sucesso na telinha, Floribella também foi um grande sucesso musical. Com trilha sonora original interpretada pelos atores, o disco da primeira temporada, com 12 faixas, foi um dos mais vendidos em 2005, e a balada Porque, um tema romântico cantado por Juliana Silveira, ocupou os primeiros lugares nas rádios.
“Porque é muito especial para mim porque foi a primeira música que estourou nas rádios. Eu chegava no carro, ligava a rádio e lá estava eu cantando. Foi surreal isso acontecer. Achava que a música ficaria apenas ali, naquele universo da novela e das crianças, mas essa canção rompeu essa barreira e chegou a ficar na lista das mais tocadas da semana. Acho boa até hoje! Eu brinco que Porque é os primórdios da ‘sofrência’”, afirma Juliana Silveira.
Gustavo Leão também dividiu os vocais com Juliana na faixa Vem Pra Mim. “Um belo dia eles me avisaram que um carro iria me buscar, porque eu precisava gravar um negócio pra novela. Entrei no carro achando que era uma entrevista ou coisa do tipo. Do nada cheguei numa gravadora, e o Rick Bonadio estava me esperando com um papel na mão. E me perguntou: Já cantou alguma vez? Tomei um baita susto e em menos de 10 minutos estava eu na sala de gravação com um microfone na minha frente nervoso pra caramba, mas achando aquilo máximo. Foi uma experiência incrível”, relembra.
Os outros atores também contaram quais são as suas músicas favoritas da novela. “Amo Pobre dos Ricos! Pois as vilãs parodiaram em Pobres dos Pobres (na segunda temporada) e exercitei minha veia de cantora”, destaca Suzy Rêgo. “Acho o primeiro disco muito bonito. Acabei fazendo uma homenagem, a pedido dos fãs que até hoje nos acompanham nas redes sociais, e cantei a música Porque no meu IGTV”, conta Roger Gobeth. “Caprichos eu amo! Não sei porquê”, escolhe Maria Carolina, relembrando outro sucesso da segunda temporada cantado por ela, além de Você Vai Me Querer na primeira.
A autora Patrícia Moretzsohn também deu sua opinião: “Eu gostava de todas e canto até hoje! Mas acho que as músicas de abertura (Floribella e É Pra Você Meu Coração) acabavam sendo mais especiais porque ficava aquela expectativa - ‘vai começar!’”.
Com sucesso de audiência e de vendas para a Band, Floribella chegou a ser levada aos palcos com uma história inédita com o elenco da segunda temporada como Mário Frias, Leonardo Cortez, além de Bruno Miguel e Letícia Colin, que estavam desde o primeiro ano. Juliana Silveira e Maria Carolina Ribeiro também estavam no show, que teve curta temporada devido ao fim da trama em 2006. O fato é que, 15 anos depois do início desta história, a saudade do elenco é inevitável.
“Floribella foi um marco naquela época porque muitas crianças que curtiram a novela, o show, os produtos, o álbum, hoje são adultos que lembram daquilo com muito carinho”, justifica Suzy Rêgo. “Vale sempre lembrar das coisas boas da vida. E Floribella marcou uma geração. Ela nos marcou também como profissionais. A novela tinha como mote o compartilhamento do amor”, ressalta Roger Gobeth.
“Nós éramos muito felizes! Todos se davam muito bem. Floribella foi uma linda história de amor”, diz Maria Carolina Ribeiro. “Era maravilhoso! Nenhuma outra novela que fiz tinha uma amizade e energia tão grande fora das telas. Éramos todos jovens, apaixonados pelo trabalho, descobrindo coisas novas todos os dias”, argumenta Gustavo Leão.
“Floribella merece ser lembrada porque continua atual, fofa, as músicas ainda divertem e o carinho do público é eterno. Sou muito grata por ter feito essa adaptação”, declara a autora Patrícia Moretzsohn. E Juliana Silveira, a eterna Flor, conclui o pensamento: “Dizem que a novela traz a lembrança de um tempo bom, que se sentem mais felizes ao ouvir as músicas. Saber que você ajudou ou ajuda alguém com a sua arte é o que faz sentido pra mim. Poder ser um conforto em um momento difícil ou para lembrar o que nós realmente viemos fazer aqui: para aprender a amar e aprender a permitir que os outros nos amem. Floribella deixou esse legado no meu coração e no coração de cada ‘Pipoquinha’”.