Morre o escritor Rubem Fonseca, no Rio de Janeiro

O autor de Agosto, Feliz Ano Novo, Carne Crua e tantos outros contos e romances completaria 95 anos em menos de um mês
Valentine Herold
Publicado em 15/04/2020 às 14:38
Rubem estava em casa quando sofreu um infarto Foto: Divulgação


*Atualizada às 18h30

A literatura brasileira perdeu na tarde desta quarta-feira (15) ontem um de seus maiores contistas. Rubem Fonseca faleceu aos 94 anos, em decorrência de um infarto, no hospital Samaritano, no Rio de Janeiro, após ter passado mal em sua casa, no bairro do Leblon. Uma despedida triste e pela qual, apesar da idade avançada do escritor, seus leitores não estavam esperando.

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O escritor ficou conhecido por ter inaugurado, na década de 1960, um estilo literário muito peculiar em que as questões urbanas e as figuras que historicamente foram colocadas à margem da sociedade, como bandidos e prostitutas, ganharam protagonismo. A violência da cidade grande acentuada pelos conflitos de classes foi amplamente abordada pelo escritor ao longo das últimas décadas. Rubem Fonseca não escrevia para atenuar tabus ou desconfortos, mas sim para libertá-los.

Filho de pais portugueses, ele nasceu em 11 de maio de 1925, em Juiz de Fora, Minas Gerais, e se mudou para o Rio de Janeiro ainda na infância. Seu início de vida adulta se deu longe da literatura: ele ingressou na polícia como comissário e permaneceu na profissão por vários anos. Toda sua vivência enquanto policial viria a ser uma grande fonte de inspiração para sua escrita desde seu primeiro livro de contos, Os Prisioneiros, lançado 1963.

Dez anos e outras três coletâneas de contos depois, Rubem Fonseca lança seu primeiro romance, o policial O Caso Morel. Em 1975, o polêmico Feliz Ano Novo é lançado e, poucos meses depois, censurado pela Ditadura Militar. Ter em mãos esta compilação de 14 contos era subversivo, assim como os próprios temas abordados pelo escritor. Ao longo de sua vida, Rubem Fonseca publicou 12 romances e 19 livros de contos, sendo o mais recente Carne Crua (2018), lançado pela Nova Fronteira, sua casa editorial desde 2009.

Fonseca venceu seis vezes o Prêmio Jabuti (1969, 1983, 1996, 2002, 2003 e 2014), além de ter sido o sexto brasileiro a ser contemplado, em 2003, no Prêmio Camões, a maior premiação literária de língua portuguesa. Mais recentemente, em 2015, Fonseca recebeu o Prêmio Machado de Assis, concedido pela Academia Brasileira de Letras (ABL). Foi também um dos últimos eventos públicos em que ele compareceu.

Avesso à fama

Famoso não apenas pelos seus livros, mas também por manter uma vida reclusa, Rubem Fonseca não era chegado a dar entrevistas, tirar fotografias ou até mesmo comparecer aos lançamentos de seus livros. Apesar desta característica singular, ele sempre foi considerado muito sociável pelos seus amigos. “Não sou recluso, a celebridade é que me chateia”, relatou uma vez ao jornalista Zuenir Ventura.

Em entrevista à Folha de São Paulo, o também contista Sergio Sant'anna ressaltou a generosidade de Rubem Fonseca. “Ele tinha uma generosidade, uma afabilidade que pouca gente pode saber, porque ele era tão arredio com a imprensa... Mas era capaz de dar a maior atenção a um escritor novato. Tinha um tesão pela literatura.”

O escritor conta sobre como enviou a ele uma cópia de seu primeiro livro, O Sobrevivente, e depois recebeu uma foto da obra posicionada na escrivaninha de Fonseca. “A literatura estava meio clássica. Ele saiu botando pra quebrar com alto nível. Pesquisava bastante para fazer os contos dele. Uma vez telefonei para ele porque precisava saber como era um julgamento de um crime de estupro. Ele me deu uma aula sobre isso.”

 

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