Em um colégio de classe média alta, jovens com uma realidade permeada por intrigas, sexo, drogas e violência, são ameaçados com a possibilidade de seus segredos serem revelados por um hacker. Com essa premissa batida, a série mexicana Control Z, produção original da Netflix, mal estreou e já é a atração mais vista do catálogo do serviço de streaming no Brasil, comprovando que o país é um ávido consumidor de tramas adolescentes que envolvam mistérios e uma boa dose de dramalhão.
Seguindo a fórmula do fenômeno espanhol Elite, Control Z tenta capturar o espectador com uma trama ágil e cheia de meandros. Nada é o que parece ser e os personagens, por mais estereotipados que se apresentem, escondem dores e mistérios por trás de suas vidas aparentemente perfeitas ou, em outros casos, desajustadas. É o caso da protagonista Sofía Herrera (Ana Valeria Becerril), olhada com espanto e desdém por seus colegas por, recentemente, ter passado por uma internação em uma clínica psiquiátrica após a morte do pai.
Observadora, ela é uma espécie de Sherlock Homes do ensino médio, capaz de acertar hábitos e situações a partir de mínimos detalhes como uma mancha na camisa ou um adesivo na mochila. É por essa sua habilidade que Raúl (Yankel Stevan), um dos estudantes mais ricos da escola, filho do ex-governador, pede sua ajuda para encontrar um hacker que está ameaçando divulgar informações sobre sua família para toda a escola.
Logo, eles percebem que o criminoso não está blefando: através de uma conta no Instagram, intitulada Todos os Seus Segredos, é revelado que a jovem mais popular da escola, Isabela (Zión Moreno), é uma mulher trans. O crime é seguido por outros e figuras como a patricinha Natália (Macarena García Romero) e o garoto-problema Gerry (Pato Gallardo) não são o que aparentam.
Sofia aceita o desafio e se lança na investigação junto a Raúl e Javer, aluno recém-chegado ao instituto que logo se afeiçoa por ela. Enquanto se engajam nesse jogo de gato e rato, os jovens veem suas vidas transformadas pela perspectiva de terem outro lado de sua história revelados, enquanto, também, vivem dilemas típicos da adolescência, como problemas com os pais, bullying, os primeiros amores, desejos e descobertas com drogas.
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DESVIO DE ROTA
Apesar de começar bem e com um ritmo instigante, a série logo se perde. Com apenas oito capítulos de cerca de trinta minutos, a criação de Carlos Quintanilla erra na mão ao criar situações sem propósito e soluções fáceis para problemas complexos. Uma das poucas exceções é o arco de Gerry, cuja perseguição e assédio físico e moral contra um colega de turma é levada a uma consequência drástica e abre caminho para discussões importantes sobre violência, autoaceitação, sexualidade e discriminação.
Outros núcleos pouco explorados, como o de Natália, que para manter as aparências começa a traficar drogas, e o de sua irmã, Maria (Fiona Paloma), que se vê em uma situação delicada com a melhor amiga, também apresentam possibilidades interessantes.
O trio formado por Sofia, Javier e Raúl descamba para um triângulo amoroso raso e os diálogos da série ficam mais desinteressantes a cada capítulo. A própria motivação do hacker é sem fundamento e mal explorada pelos roteiristas, retirando a força da questão central da série. Fica a impressão de que, a certa altura, eles já não sabiam o que fazer ou simplesmente forçaram uma narrativa para tentar criar um efeito surpresa no público.
Mesmo que recorra a uma série de clichês - ou talvez justamente por isso - Control Z é feito para um público que está ávido para consumir seu conteúdo, como mostra o sucesso da série. E a respostas da Netflix foi rápida: a segunda temporada da produção mexicana já foi confirmada e deve começar a ser gravada após o fim da pandemia do coronavírus.