Perto dos 90, Elza é sempre fiel a si

Cantora nasceu em 22 de julho; 23 de junho, em seu documento, é a data em que foi emancipada
José Teles
Publicado em 08/07/2020 às 6:00
GARRA REAL Elza foi pioneira em sua própria representação: sem dourar a pílula, mostrando-se como de fato era, pura fortaleza Foto: MARCOS HERMES/DIVULGAÇÃO


Elza Soares não completou 90 anos na terça-feira, 23 de junho, como se andou divulgando. Ela nasceu em 22 de julho; 23 de junho, em seu documento, é a data em que foi emancipada, pois Elza começou a trabalhar ainda criança, aos 13 anos. Poucas cantoras na MPB têm uma biografia tão comovente e tão cheia de fortaleza. Em 1960, quando começou a fazer sucesso com Se Acaso Você Chegasse (Lupicínio Rodrigues), a Revista do Rádio deu a seguinte nota: "Elza Soares, a grande revelação do rádio, é mãe de sete filhos".

Até então, na música brasileira, não tinha aparecido alguém feito Elza. Cantoras e cantores do morro haviam muitos. Mas não com aquele biografia e aquela coragem de não dourar a pílula, mostrar-se como era, sem tirar nem pôr. "Dos meus sete filhos, três morreram. Restam-me quatro para sustentar. Se foi difícil no tempo em que meu marido estava vivo, pior agora, quando me encontro viúva" (disse em entrevista à Revista do Rádio, em 1960).

60 anos depois, Elza deu várias vezes a volta por cima, passou por vários acidentes de percurso, saindo sempre ilesa. Teve problemas de saúde que acabariam a carreira de qualquer artista, menos a dela. Perto de completar os 90, está aí, resistindo e persistindo. Nos anos 50, ela conseguiu escapar do planeta fome, e hoje está lutando no planeta confusão.

No final de junho, Elza lançou, pela Deck, um single com um samba que tem tudo a ver com o tempo em que vivemos: Juízo Final, de Nelson Cavaquinho e Élcio Soares, produzido por Rafael Ramos, para a Deck.

Pegando como gancho os 90 anos de Elza Soares, a Sony Music, mandou para as plataformas digitais o álbum Senhora da Terra, que passou despercebido em 1979, mas com ótimos sambas, e até engajados feito Põe Pimenta ("Põe pimenta malagueta/põe pimenta só pra ver se o povo aguenta"), de Beto Sem Braço e Jorginho Saberás. Em Coração Vadio (Edil Pacheco/Paulinho Diniz) Elza Soares retoma o scat singing, aqueles improvisos guturais, próprios do jazz, mas que ela fazia instintivamente em 1959 em Se Acaso Você Chegasse.

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