A pandemia do novo coronavírus tem exigido dos artistas da cena uma reformulação completa. Com as apresentações suspensas por tempo indeterminado, os criadores têm utilizado a tecnologia para fomentar as ações na área, seja no campo da criação ou do pensamento. É o caso do podcast, formato que já se solidificou como um sucesso nas plataformas de streaming e que tem chamado a atenção de profissionais das artes cênicas.
Para o Bote de Teatro, formado por Pedro Toscano, Inês Maia, Cardo Ferraz e Daniel Barros, o podcast BOTE-SALVA-VIDAS surgiu como uma ferramenta emergencial, após muitas discussões sobre como se manter ativo (e criativo) durante o isolamento. O grupo vinha de um processo intenso de criação e ensaiava seu primeiro espetáculo, um híbrido de dança e teatro inspirado em Os Saltimbancos, quando eclodiu a clise sanitária.
"Inicialmente pensamos em fazer uma radionovela. Depois, um trabalho todo desenvolvido por WhatsApp. Mas, sempre empacávamos na dificuldade de criar a partir da fruição no meio digital. Foi então que chegamos no podcast, que para mim é uma ferramenta de diálogo. Queríamos um espaço para falar de teatro, trocar ideias, dialogar com outros artistas e discutir como a gente vai conseguir fazer teatro a partir de agora", pontua Pedro Toscano.
O podcast, que estreia nesta quinta-feira (6) nas plataformas de streaming (além de uma versão em Libras no Youtube), terá como convidados Pedro Wagner, Anamaria Sobral, Aslan Cabral e Flávia Pinheiro para conversar sobre temas como criação coletiva à distância e a força das redes sociais.
Flávia, inclusive, lançou esta semana Like Bac Life, disponível no perfil do Sesc Pernambuco no Spotify. Ambos os podcasts foram fomentados pela chamada pública do Sesc Pernambuco e terão cinco episódios cada.
A proposta de Flávia Pinheiro explora outra possibilidade do formato e é mais voltada para a construção de uma dramaturgia. Nela, a artista dá continuidade a uma investigação que teve início em 2018 com O Corpo Bactéria e desenvolve uma narrativa ficcional.
"No podcast, enuncio a partir do ponto de vista de uma bactéria em meio à pandemia. O corpo humano é colonizado por bactérias e micro-organismos, então brinco com essa perspectiva para falar sobre questões do nosso tempo, sobre as nossas vidas em meio a essa dinâmica ultra neoliberal. Para isso, além do roteiro que desenvolvi, também fizemos uma intensa pesquisa sonora, com inserção de passagens de telejornais, por exemplo, para criar esse diálogo direto com a realidade", explica Flávia.
As iniciativas dos pernambucanos seguem uma tendência que aos poucos ganha mais adeptos a nível nacional. O Teatro Oficina (SP), por exemplo, lançou em seu canal do Youtube o Rádio Uzona, com encenações radiofônicas de espetáculos. A revista de artes cênicas Antro Positivo também está ativa com o podcast Adiante, com reflexões sobre a cena contemporânea.
"Acho que esses espaços que têm sido construídos no campo virtual vão permanecer após a pandemia, ainda que não substituam as apresentações presenciais. Essas ferramentas ajudam a expandir o pensamento sobre teatro e criar redes mais amplas", reforça Pedro.
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