Tradição Junina

Passinho e dancinhas do TikTok na coreografia nas quadrilhas juninas. Será que funciona?

Vídeo que viralizou na web brinca com a possibilidade e coreógrafa de quadrilhas diz se é possível

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Marília Banholzer

Publicado em 07/06/2021 às 20:32 | Atualizado em 07/06/2021 às 21:08
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Coreografia de quadrilha junina com movimentos do passinho (brega funk) ou com referências às dancinhas do TikTok? Por que não? Um vídeo de humor publicado no início deste mês pelo perfil no Instagram da influenciadora alagoana Gabô Pantaleão viralizou nas redes sociais. Com mais de 135 mil curtidas, o post brinca com a possibilidade das danças da moda serem incorporadas às coreografias das quadrilhas juninas estilizadas ao final da pandemia. A dançarina e coreógrafa da quadrilha junina Raio de Sol, Leila Nascimento, conta que não é impossível usar as referências e que esse tipo de influência é normal dentro das quadrilhas estilizadas.

A mãe de Leila foi a fundadora da quadrilha, há 25 anos, e desde criança ela está inserida nesta tradição junina. “Essa questão de inserir coisas que estão na moda é muito comum, na verdade. Quando eu era criança lembro que a personagem da viúva Porcina participou de um casamento junino. Também já vi colocarem o rebolation (música do grupo baiano Parangolé). Só é preciso respeitar a essência da quadrilha”, opina a coreógrafa. A Raio de Sol, de Águas Compridas, em Olinda, é uma das principais quadrilhas juninas do Estado, figurando há pelo menos 15 anos entre as cinco mais bem colocadas em concursos juninos. O grupo conta com cerca de 120 pessoas, entre personagens e dançarinos.

Leila conta que viu o vídeo de Gabô Pantaleão e achou engraçado, mas diz que, daquela forma como foi criado, o público pode ficar tranquilo que não acontecerá. A notícia deve acalmar o coração “angustiado” dos mais de cinco mil seguidores que, entre risadas, disseram “temer” que o vídeo saísse do imaginário da influencer e se tornasse real. “A gente encara como uma brincadeira, daquele jeito não tem como ser. É um exagero”, avalia Leila. Por outro lado, ela reconhece que a cultura popular precisa se alimentar do que está fazendo sucesso. “A gente se apresenta para uma galera que curte isso: passinho, piseiro, dancinha do TikTok. Então eu posso pincelar na coreografia e fazer uma graça”, observa.

Ela conta que em 2013, a Raio de Sol chegou a regravar em ritmo de forró uma música da banda de brega Musa do Calypso (Podem Até Nos Separar) e foi um verdadeiro sucesso. “Quando começou a música ‘Se eu pudesse apertar um botão’ foi um delírio na arquibancada. O público adorou e a letra tinha relação com o tema daquele ano”, relembra Leila que resume: “Tudo pode virar influência, só que temos que respeitar os ritmos de essência da quadrilha que são arrasta-pé, forró, xote, xaxado, baião, coco. E se pesar muito a mão nessas influências, foge do próprio regulamento podendo até perder pontos num concurso de quadrilha.”

Em 2019, inclusive, a Evolução Mirim, do bairro de Santo Amaro, no Recife, chegou a incluir no balé movimentos do passinho, mas naquela ocasião não foi muito bem aceita pelos mais críticos, que acusaram a quadrilha de descaracterizar as tradições juninas. Agora, com a pandemia do novo coronavírus, as apresentações estão suspensas para evitar aglomerações. No entanto, o público é fiel e aguarda ansioso pelo retorno dessa dança que expressão cultural no Nordeste.

Início das quadrilhas juninas

A quadrilha, dança típica das festas juninas brasileiras, é carregada de referências caipiras e matutas. Mas sua origem vem de muito longe. A “quadrille” surgiu em Paris, no século XVIII, como uma dança de salão composta por quatro casais. Era dançada pela elite europeia e veio para o Brasil durante o período da Regência (por volta de 1830), onde era febre no ambiente aristocrático.

Da Corte carioca, a quadrilha acabou caindo no gosto do povo. Ao longo do século XIX, a dança se popularizou no Brasil e se fundiu com manifestações brasileiras preexistentes. A partir daí, diversas evoluções foram sendo incorporadas à quadrilha, entre elas o aumento do número de pares dançantes e o abandono de passos e ritmos franceses. As músicas e o casamento caipira que antecede a dança, também foram novidades incorporadas ao longo dos anos.

Um dos resquícios franceses na dança são os comandos proferidos pelo marcador da quadrilha. Escolhido, geralmente, entre os mais experientes do grupo, seu papel é anunciar os próximos passos da coreografia. O abrasileiramento de termos franceses deram origem, por exemplo, ao saruê (Soirée - reunião social noturna, ordem para todos se juntarem no centro do salão), anarriê (en arrière - para trás) e anavã (en avant - para frente).



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