Música

Lorde encontra a leveza e subverte expectativas em 'Solar Power'

Terceiro disco da neozelandesa reforça sua originalidade e mostra amadurecimento

Cadastrado por

Márcio Bastos

Publicado em 23/08/2021 às 9:55 | Atualizado em 23/08/2021 às 9:56
A cantora neozelandesa Lorde é um dos nomes mais aclamados de sua geração - DIVULGAÇÃO

A neozelandesa Ella Marija Lani Yelich-O'Connor lançou o álbum Solar Power, seu terceiro sob o codinome Lorde. Como sugere o título, o trabalho é mais solar do que os seus antecessores e mostra uma artista inquieta, mas sem que suas experimentações signifiquem rompimentos bruscos. Tanto sonora quanto tematicamente, ela se permite encontrar leveza em um contexto histórico que oferece justamente o oposto.

Aos 24 anos, Lorde já é quase uma veterana no mercado musical. Ela tinha 16 anos quando lançou Pure Heroine, seu disco de estreia, que vendeu mais de 5 milhões de cópias e foi aclamado pela crítica mundial. O trabalho seguinte, Melodrama (2017) já mostrava Lorde deixando a adolescência e abraçando os altos e baixos da vida adulta, mantendo seu olhar aguçado para as experiências afetivas ao mesmo tempo em que se mostrava mais vulnerável, como nas músicas Green Light e Homemade Dynamite. O trabalho foi indicado ao Grammy na categoria de Álbum do Ano e consolidou a artista como uma das mais promissoras de sua geração.

É interessante perceber como Lorde tomou as rédeas de sua carreira e contrariou várias expectativas. Apontada como uma prodígio por suas composições sagazes e complexas, ela conseguiu o raro equilíbrio de conquistar a crítica e o público, atingindo os postos mais altos das paradas musicais, sem que para isso comprometesse sua visão artística. Admirada por novatos e veteranos (David Bowie chegou a dizer que a via como "o futuro da música"), ela poderia ter entrado na lógica de enveredar por processos herméticos, que a consolidassem em um lugar quase inacessível.

Lorde, no entanto, optou por outro caminho. Melodrama, por exemplo, captura as dores, mas também as delícias da juventude, como abraçar a inconsequência e viver o momento. Mais do que um gênio, ela parecia querer lembrar que era uma mulher entrando de peito aberto na nova fase da vida. Solar Power é uma continuação desse processo e mostra uma artista ainda mais próxima de um hedonismo saudável.

A faixa-título é um exemplo perfeito disso. Uma celebração da vida à beira-mar, convida o ouvinte a um estado mental e físico em que sentir os raios solares, a brisa e os prazeres da carne é permitido. Esse sentimento, após um ano e meio de pandemia (vale ressaltar que a Nova Zelândia, onde Lorde vive, controlou cedo a pandemia), soa como uma utopia e algo libertador.

Inspirada na sonoridade folk, ela mantém sua astúcia nas letras em faixas como Stoned at the Nail Saloon e Mood Ring. O disco retoma ainda a parceria da artista com Jack Antonoff (produtor de canções de Lana Del Rey, Taylor Swift, Carly Rae Jepsen, entre outras) e já está disponível nas plataformas digitais.

Sobre um possível fracasso do álbum, já que os singles lançados não tiveram a mesma repercussão nas paradas do que os dos trabalhos anteriores, Lorde se diz tranquila, o que se reflete na atmosfera despretensiosa do trabalho. Há uma serenidade atravessando faixas como Secrets From a Girl (Who's Seen It All), Oceanic Feeling e California, que capturam a atmosfera solar proposta pelo trabalho.

"Eu tenho zero ansiedade sobre isso, mas estou certa de que há por aí alguém com uma planilha, que pode apontar modos nos quais estou fazendo menos dinheiro", disse em entrevista ao The Wall Street Journal. "Eu tive uma conversa com meu empresário. Eu disse: 'Tenho mais dinheiro que eu poderia gastar em minha vida. Eu tenho uma casa. Eu tenho alguns tapetes muito bonitos, móveis ótimos e posso comprar o que eu quiser no mercado. Tipo, nós estamos bem de dinheiro".

 

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