Clint Eastwood é um nome quase indissociavelmente ligado à imagem clássica do cowboy americano, aquele homem silencioso e um tanto misterioso, solitário, mas honesto, vigoroso e destemido. Nas últimas décadas, o ator e diretor tem ampliado esse imaginário, com o tensionamento de temas sociais e o questionamento desse estereótipo do herói estadunidense. Sua mais recente empreitada nesse estudo da masculinidade é Cry Macho: O Caminho Para a Redenção, no qual atua e dirige, filme que estreia nesta quinta-feira (16) nos cinemas brasileiros.
No longa ambientado em 1979, Eastwood vive Mike Milo, um ex-cowboy que construiu sua fama como domador de cavalos selvagens, ganhando vários torneios na área. Ele vive no Texas, onde cuida do rancho de Howard Polk (o cantor country Dwight Yoakam), que está insatisfeito com seus serviços. Idoso, cada vez mais introspectivo e relapso com o trabalho, Mike é demitido, mas não demora muito até que seu ex-patrão o procure, desta vez cobrando um favor.
Apesar das desavenças recentes, Mike sente-se em dívida com Howard graças ao apoio que o empresário lhe deu após o cowboy sofrer uma grave lesão na coluna e, tempos depois, perder a esposa e o filho em uma acidente de carro. Esses traumas fizeram com que Mike se tornasse um homem sisudo e procurasse na bebida o escapismo para sua dor.
Howard dá ao ex-funcionário a missão de ir até o México buscar Rafael, filho que ele não vê desde pequeno. A situação é delicada: o pai diz que o menino sofre abusos na casa da mãe que, no entanto, não estaria disposta a mandá-lo para os Estados Unidos. Ao chegar na Cidade do México, Mike percebe que a situação é mais complexa: de fato, Rafael vive fugindo da casa da genitora, passando a maior parte do tempo nas ruas, onde participa de brigas de galo ilegais. Seu companheiro é justamente um galo chamado Macho.
O garoto vê na ida aos Estados Unidos a possibilidade de fugir dos maus tratos e, ao mesmo tempo, recebe a notícia com desconfiança. Afinal, até então seu pai é um estranho com quem pouco teve contato e que não liga nem em seu aniversário. Aos 13 anos, ele já é uma pessoa machucada literal e emocionalmente.
Na jornada rumo aos EUA, a dupla começa a se conectar, apesar das diferenças. O idoso e o jovem descobrem, também, semelhanças, como a desconfiança com o entorno e a dificuldade de receber afeto. A viagem se torna mais complicada após a mãe de Rafael colocar a polícia atrás da dupla, o que obriga que eles peguem vários desvios e acabem chegando a uma cidade isolada, onde contam com a generosidade de Marta (Natalia Traven), viúva dona de um restaurante.
Baseado no romance de N. Richard Nash, escrito em 1975, o roteiro não aposta muito em nuances. Tudo é muito literal e óbvio, o que acaba prejudicando a experiência. Os personagens cumprem funções muito esquemáticas e as situações, como as que envolvem ação, chegam a ser caricatas e risíveis por sua obviedade. Exemplos disso são as aparições repentinas do capanga enviado pela mãe de Rafael, sempre solucionadas de maneiras que lembram novelas mexicanas, ou situações como um carro quebrado ou roubado, justamente quando os personagens precisam de tempo para resolver dramas pessoais.
As atuações também sofrem com a falta de ritmo. A interação entre Eastwood e o ator mirim é cheia de altos e baixos. O garoto, especialmente, por vezes parece perdido em cena e não consegue dar a profundidade pedida pelo personagem.
Ainda que Clint Eastwood continue uma figura fascinante em cena e sua direção crie alguns momentos esteticamente interessantes, voltados para os animais e a natureza, Cry Macho é um filme que se perde na sua própria ambição de estudar a masculinidade, pois não o faz de forma consistente. Acaba, portanto, repetindo clichês e apresentando uma solução simplista para os tormentos de seus protagonistas.
STREAMING
Assim como outros lançamentos recentes, como Invocação do Mal 3, Space Jam: Um Novo Legado e O Esquadrão Suicida, Cry Macho será disponibilizado no catálogo da HBO Max daqui a 35 dias. O serviço de streaming, que chegou ao Brasil no final de junho, estabeleceu essa janela de tempo, considerada curta em comparação a outros streamings. Entre os próximos lançamentos estão Duna e Em Um Bairro em Nova York.