Lil Nas X é o artista mais relevante do momento e não é um exagero usar essa afirmação. Além de um sucesso comercial, o rapper estadunidense é também o centro de grandes pautas da cultura pop, tensionando questões complexas como sexualidade e raça. Negro, gay e orgulhosamente afeminado, o artista tem provocado vez mais ira nos conservadores, ao mesmo tempo em que abrem espaço para outras formas de representação no cenário do hip hop. Nesta sexta-feira (17), ele lança seu aguardado disco de estreia, Montero, um fenômeno antes mesmo de chegar às plataformas de streaming.
Nos últimos meses, o nome de Lil Nas X (cujo nome de batismo é Montero Lamar Hill) tem dominado as manchetes do mundo do entretenimento — e também as paradas musicais com os singles Montero (Call Me By Your Name) e Industry Baby alcançando, respectivamente, o primeiro e o segundo lugar nos Estados Unidos. Além de serem ótimas músicas, elas tiveram sua popularidade alavancada pelos clipes provocativos e performances apoteóticas, como a realizada no último domingo (12), no Video Music Awards (VMA), da MTV, evento em que saiu com o prêmio de Clipe do Ano por Montero.
Essa consagração do artista vem acompanhada, também, de uma forte repressão de setores conservadores, que afirmam que ele subverte valores tradicionais. E ele, de fato, faz isso. Ainda bem. Diante dos preconceitos que ainda persistem, um homem negro e gay celebrar sua subjetividade, seu desejo, sem concessões, é poderoso. Após falar abertamente sobre sua sexualidade em 2019, Lil Nas X contou que, na adolescência, teve dificuldades para se aceitar gay, com medo do preconceito.
Que ele tenha usado a projeção ganha com o hit Old Town Road, que explodiu em 2019, no TikTok e virou dos maiores sucessos dos últimos anos, com bilhões de streamings, para continuar a se arriscar artisticamente, comprova sua visão destemida. Desde então, ele tem se firmado como uma figura singular no cenário mainstream do rap e pop.
"Quando ele se assumiu gay, muita gente fingiu não se incomodar, achando, inclusive, que ele seria um sucesso passageiro. Mas isso muda quando ele surge, em Call My By Your Name, dançando no colo do diabo, sarrando nos dançarinos, depois fazendo dança no chuveirão [em Industry Baby], com toda uma coreografia, gestualidade, que vai além de uma cerca respeitabilidade do politicamente correto. Não é que não houvesse outros rappers gays, mas por conta da homofobia não só do rap, mas da sociedade como um todo, eles ficavam restritos a nichos. Lil Nas X muda esse cenário — ele está na dianteira de uma mudança de paradigma. Acho que vários jovens estão vendo esse movimento dele e usando isso como propulsor para se autoafirmar, se entender, vivenciar seu corpo de maneira mais saudável, mais digna, com mais liberdade", aponta o pesquisador e doutorando em Comunicação pela UFPE Mário Rolim.
Com suas performances, Lil Nas X dialoga com a tradição disruptiva de rappers mulheres como Lil' Kim, Nicki Minaj (de quem é fã assumido), ao mesmo tempo em que utiliza a sensibilidade de alguém que cresceu na internet para pautar as conversas no ambiente digital.
"Ele tem uma sagacidade impressionante. Independente do assunto, ele consegue trazer a pauta para si. Ele provoca os haters e os conservadores sem deixar que a narrativa saia do seu controle. Da mesma forma como Madonna entendeu o poder do videoclipe no tempo da MTV, como Lady Gaga percebeu a força do streaming ali no começo do YouTube, Lil Nas X é um mestre na percepção da força das redes sociais", reforça Thiago Soares, professor e pesquisador do Programa de Pós-graduação em Comunicação da UFPE.
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PARTICIPAÇÕES
Com 15 faixas, Montero inclui três músicas já divulgadas para o público: a faixa-título, Industry Baby e Sun Goes Down. O álbum conta ainda com participações de Doja Cat, na faixa Scoop; Elton John, em One of Me; Megan Thee Stallion, em Dolla Sign Slime, e Miley Cyrus, na canção Am I Dreaming.
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