O projeto CDK - Completely Knocked Down — Recife Bremen Connection estava prestes a receber o público, em março de 2020, quando eclodiu a pandemia. Mais de um ano após ter sido inicialmente montada no Museu de Arte Moderna Aloísio Magalhães (Mamam), a exposição coletiva, que reúne artistas de Pernambuco e da Alemanha, poderá ser conferida a partir de 23 de setembro, com algumas adaptações nas obras e em outros aspectos do projeto.
Idealizado pelo recifense Francisco Valença Vaz e a alemã Rebekka Kronsteiner, que apresentam obras na mostra, o projeto reúne criadores de diferentes ramos das artes visuais e também de gerações distintas. De Pernambuco estão presentes Paulo Bruscky, Marcio Almeida, Maria do Carmo Nino, Roberta Guimarães e Silvio Hansen, falecido em julho do ano passado, enquanto Tobias Heine, Christian Haake e Wolfgang Hainke completam o time alemão. A ideia foi criar um intercâmbio entre essas produções, partindo das semelhanças entre as cidades (ambas portuárias e marcadas por suas relações com os rios) e suas distinções.
O título da exposição, assim como seu conceito, parte da ideia do protocolo CKD, que é a reunião de peças desmontadas para serem acopladas no destino final. Assim, as obras foram desmontadas e acondicionadas em caixas que correspondem a um décimo de um contêiner de vinte pés e as próprias caixas de transporte passaram a integrar algumas das obras e a expografia.
"Não foram somente as obras que foram completamente repartidas, mas toda a forma de pensar o projeto. Para isso a gente chamou artistas de quatro gerações diferentes. O mais velho tem 76 anos e o mais novo, que sou eu, tem 25", explicou Francisco. "A gente queria construir uma obra coletiva, mas não deu para fazer porque de um mês que a gente iria passar no Recife, ficamos uma semana [por conta da pandemia], e a obra seria feita com as caixas que estão no museu. A solução que a gente teve à distância foi colocar as caixas que não foram usadas nas obras no museu, como se elas estivessem esperando para ser utilizadas."
Os trabalhos expostos abordam diferentes temáticas e alguns têm um forte tom político. É o caso de Sobre o Mesmo Chão de Estrela, de Márcio Almeida, em que ele constrói uma espécie de mapa feito a partir de placas de madeira usadas em um clube de tiro e cujas imagens surgem através do furo das balas. Uma das obras de Silvio Hansen é construída a partir da composição da bandeira brasileira com imagens de vítimas da violência do Estado. Outros trabalhos inacabados do artista foram mantidos na mostra.
A fotógrafa Roberta Guimarães apresenta uma espécie de sobreposição de imagens do Recife destacando as desigualdades arquitetônicas da cidade, a partir do contraste entre os arranha-céus e as palafitas.
Paulo Bruscky apresenta duas obras: uma que aborda a relação da instituição com a iluminação natural vinda da parte do Mamam à beira rio, e outra, chamada Arte em Vão, que provoca uma reflexão a partir de um espaço do museu e do Estado da arte no contemporâneo. Do alemão Wolfgang Hainke, está exposto W(h)ale, trabalho formado por várias imagens, uma delas em larga escala, que foi doada por ele ao Mamam.
Ao final do período de exposição, será lançado um livro como resultado adicional da colaboração entre os artistas brasileiros e alemães, contendo textos de teóricos da arte de ambos os países. Em setembro de 2022, a exposição será apresentada em Bremen. A organização é da Relicário Produções Culturais, da produtora Carla Valença.