Morreu no final da noite desta terça-feira (12) o violinista, professor, diretor artístico e maestro Rafael Garcia, aos 77 anos, devido a um câncer nas vias biliares. Chileno, mas radicado no Estado desde os anos 1970, Garcia idealizou o festival Virtuosi junto com a esposa, a pianista Ana Lucia Altino. O corpo do maestro será velado a partir das 16h desta quinta-feira (14), na Capela do Cemitério Santo Amaro. O sepultamento ocorrerá na sexta-feira (15), às 11h.
Durante a sua trajetória na música, Rafael Garcia regeu orquestras com instrumentistas de diversas nacionalidades. Atuou ao lado de grandes regentes, como os brasileiros Eleazar de Carvalho, Isaac Karabtchevsky e John Neschling, além do argentino Simon Blech e o húngaro Antal Doráti.
Antes de construir sua carreira como maestro, foi spalla (o primeiro-violino, braço direito do maestro) da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp); do Ballet Bolshoi e das orquestras sinfônicas da Paraíba e de Pernambuco.
Ainda trabalhou com Ariano Suassuna e Cussy de Almeida na formação da Orquestra Armorial e também como músico de estúdio para a gravadora Fermata, tornando-se spalla em gravações de grandes nomes da música popular da época, como Roberto Carlos, Elis Regina e Tom Jobim.
Rafael Garcia e Ana Lúcia Altino formaram uma parceria de grandes feitos para a profusão da música clássica no Nordeste desde os anos 1970, quando criaram o departamento de música da Universidade Federal da Paraíba (UFPB).
Em 1985, o casal coordenou a estreia da "Sinfonia dos Dois Mundos", de Dom Hélder Câmara, na América Latina. No ano seguinte - morando com a família em Boston para acompanhar seu segundo filho, Leonardo, que vencera o Concurso Jovens Solistas Brasileiros e ganhara uma bolsa para estudar violoncelo -, Rafael Garcia passou a lecionar no New England Conservatory e a reger grandes festivais de música em Lexington e Colorado.
Em 1995, pouco depois de voltar ao Recife, o casal fundou a Orquestra Filarmônica Norte/Nordeste, que reunia músicos com origens desde Salvador até Belém. Foi em 1998 que Rafael Garcia e Ana Lúcia Altino criaram o Virtuosi, o maior e mais perene festival de música de câmara do Pernambuco, com 23 edições realizadas no Recife, em Gravatá, Garanhuns e outras cidades do Brasil, além de turnês internacionais passando por aclamadas salas do Chile, da Argentina e Uruguai.
Do Virtuosi, ele só esteve ausente na última edição, já por causa da doença. A edição foi realizada durante a pandemia, de forma virtual.
Uma história de amor
Nascido Rafael Fernando Garcia Saavedra, o maestro chegou ao Recife, onde fez morada, guiado pelo amor. Em 1966, num navio para a Alemanha, ele conheceu Ana Lúcia Altino, pernambucana, com quem casou no ano seguinte. Ambos haviam ganhado bolsas - ele pelo chile e ela, pelo Brasil - de estudos. Tiveram seis filhos - Rafael, Leonardo, Marcelo, Grácio, Ana e Ricardo - e 12 netos. Ana Garcia é realizadora do festival No Ar Coquetel Molotov.
"Um virtuoso na música erudita"
Em notas, a Secretaria Estadual de Cultura (Secult-PE) e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) lamentaram profundamente a morte do maestro Rafael Garcia.
"A Fundarpe perdeu um grande parceiro, ele era responsável por algumas ações de música de câmara, com destaque para a programação da Catedral de Santo Antônio, no Festival de Inverno de Garanhuns. Ele foi um músico e produtor muito importante para esse segmento artístico porque buscou trazer para Pernambuco os melhores profissionais para excursionar, para fazer intercâmbio com músicos daqui. O festival Virtuosi aproximou a música erudita da população, promovendo espetáculos e apresentações ao ar livre, de graça, em espaços públicos. Lamento muito a notícia do falecimento do maestro Garcia e deixo meu abraço acolhedor a toda família, em especial à viúva, Ana Lúcia, e a sua filha Ana Garcia", declarou Marcelo Canuto, presidente da Fundarpe.
"O maestro Garcia foi um incansável fazedor de cultura e seu festival Virtuosi deixou um grande legado para a música de câmara do Estado e do País. Estamos todos consternados com sua partida", comentou Gilberto Freyre Neto, secretário Estadual de Cultura.
A Secretaria de Cultura e a Fundação de Cultura Cidade do Recife também lamentaram a morte do maestro Rafael Garcia, considerado "um virtuoso na música erudita e na valorização, promoção e disseminação da oferta desse gênero musical no País".
"Existem talentos que vão além do encantamento que proporcionam, alcançando outras possibilidades com a arte de agregar, reunir, mobilizar, gerando mais do que obras, promovendo perspectivas, novos caminhos e encontros. O maestro Rafael Garcia tinha este dom, somado ao imenso potencial artístico. Ofereceu muito ao Recife, acreditando nos sonhos que cultivou e cujos frutos seguem com a gente, pelas mãos e sentimentos da sua família. Para cada um destes parceiros e aprendizes, nossos sentimentos, na fé e esperança de um legado que se tornou inabalável”, declarou o secretário de Cultura do Recife, Ricardo Mello.
O presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, José Manoel Sobrinho, também lamentou a morte do maestro, com quem chegou a compartilhar expedientes e projetos profissionais. "Rafael Garcia, nascido no Chile, escolheu o Recife para lar, lugar de convivência e criação. Sua partida deixa a música de concerto sem um discípulo e mestre. Ao mesmo tempo em que louvo a sua trajetória, sinto ser este um momento de pesar e tristeza. Em nome de toda a equipe da Fundação de Cultura Cidade do Recife, me solidarizo com Ana Lúcia Altino, sua esposa e com os seus filhos, que, seguramente darão continuidade aos sonhos de Rafael.”