MÚSICA

Por que Recife foi escolhida como a cidade da música? Entenda o motivo

O título, concedido pela UNESCO, dá o mérito às cidades que investem em cultura e criatividade

Cadastrado por

Bruno Vinicius

Publicado em 09/11/2021 às 16:54 | Atualizado em 16/11/2023 às 17:22
PLURAL Recife mescla seu lado folclórico, com difusão de festas populares, e o enaltecimento da música pop, como o brega de Shevchenko e Elloco - AGÊNCIA HANGOUT / DIVULGAÇÃO

Recife é oficialmente a "cidade da música". O título, concedido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), dá o mérito às cidades que investem em cultura e criatividade, formando uma rede de 295 locais pelo mundo. Isso significa que a organização reconhece que a capital do brega, frevo, maracatu, manguebeat, entre outros gêneros musicais, desenvolve seus potenciais de desenvolvimento a partir da sua cultura. Mas, de fato, o que fez a cidade ser escolhida como um potencial musical? O que muda para o cenário da música local e como os músicos serão ajudados?

Recife tem uma história muito particular com a música e com as festividades. Naturalmente a cidade é lembrada pelo Carnaval centenário e os seus ritmos, como o maracatu e o frevo, este segundo considerado também Patrimônio Cultural Imaterial da Humanidade da Unesco. Além disso, a cidade consegue mesclar o seu lado folclórico - com a difusão de festas populares -, e o reconhecimento da música pop: o brega. Além disso, fortes movimentos musicais surgiram na Capital Pernambucana, como a psicodelia, em 1970, e o manguebeat, em 1990.

"Recife é uma cidade musical. Ela está dentro dessas normativas, como uma cidade da música, porque ela tem tanto um conjunto de músicos e de artistas que colocam a cidade dentro do circuito global. Ela tem circuitos de festas de rua, como o carnaval, e também tem os circuitos de festas privadas também. Inclusive temos um setor privado de música muito atuante", explica Thiago Soares, pesquisador e professor do departamento de Comunicação da UFPE.

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Segundo Thiago, Recife tem uma geografia "particular" que faz a cidade se conectar musicalmente, diferente do padrão de outras grandes cidades brasileiras. "Como Recife é uma cidade muito pequena espacialmente, sem grandes divisões entre as favelas e os bairros nobres, tudo aqui é muito junto. Então essa geografia da cidade faz que o som seja mais unido, porque o som meio "vaza". Temos grandes bolsões de comunidades dentro Boa Viagem, dentro de Casa Forte e do Espinheiro. A própria geografia favorece muito a música", afirma o professor. 

INTERESSE POLÍTICA PELA MÚSICA

Para o professor, no entanto, o reconhecimento desse título também implica o interesse do poder público em reconhecer a cultura como agente transformador, já que foi uma proposta da própria prefeitura. "Esse gesto é muito interessante, porque me parece que quando a Prefeitura reivindica que a cidade é uma cidade da música, quer ter um título internacional, me parece que ela tem um interesse político de ressaltar a característica musical do Recife", explica Soares.

O discurso oficial da Prefeitura não é diferente do apontado por Thiago. Em nota, Ricardo Mello, que é o secretário de Cultura do Recife, ressaltou o apelo que o título traz à cultura recifense. "O Recife agora entra neste circuito, estamos conectados. Essa chancela internacional da Unesco foi um passo muito importante. Significa assumir um compromisso com o papel que a cultura tem na vida da cidade, como força transformadora e catalisadora de nossa criatividade e dos passos que ainda vamos dar", disse o secretário.

Em setembro, a PCR, por meio da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife, divulgou o "Recife Virado na Cultura". A iniciativa prevê investimentos próprios e execução dos recursos federais da Lei Aldir Blanc, destinando mais de R$ 10 milhões para a realização cultural na cidade. Os recursos devem ajudar os profissionais de música, entre outras expressões artísticas, que tiveram dificuldades com a crise da pandemia de covid-19.

Compromisso com o brega

De certa forma, o momento coincide também com a reafirmação da Cidade com a sua música pop. Em julho deste ano o Brega, movimento cultural que sempre ficou de fora dos principais circuitos públicos, foi reconhecimento como Patrimônio Cultural Imaterial do Recife. "O Brega é uma manifestação nossa, um patrimônio nosso, e que a gente só possa ver ele crescendo com o tempo. E o que precisar da gente, vocês podem contar", disse o prefeito João Campos, na época da assinatura do projeto.

Segundo Thiago Soares, esse processo de reconhecimento do brega - que tem uma capilaridade maior que qualquer ritmo do Recife - deve ser incluso também nos investimentos públicos do município. "É importante pensar que esses artistas, sobretudo os de brega, têm distanciamento do poder público. Quando há institucionalização da música brega e há o reconhecimento dela, esses artistas precisam ser capacitados para adentrar esses recursos públicos de verba", afirma o professor, em relação aos editais publicados pela Cidade e pelo Estado.

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