O reisado agora é oficialmente considerado Patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco. O Conselho Estadual de Preservação do Patrimônio Cultural (CEPPC/PE) deu parecer favorável ao registro na última quinta-feira (22), após uma solicitação para a abertura do processo em setembro deste ano feita pelo coletivo Movimento Viva Reis.
As relatoras do processo foram as conselheiras Mônica Siqueira da Silva e Cláudia Pereira Pinto. Agora, será realizado o decreto do governo estadual, que oficializa o registro nos livros de registro do Patrimônio Cultural Imaterial de Pernambuco. A partir de então, haverá a elaboração do plano de salvaguarda, com a participação da comunidade.
"O foco é fortalecer o Patrimônio Imaterial em todos os sentidos, e uma dos pilares do CEPPC/PE é ampliar o quadro de registro dos Patrimônios Imateriais no Estado. Esse é o segundo relatório que faço e a ideia é aqui, em nossos pareceres, é que esses bens sejam mais valorados", diz Mônica Siqueira, uma das relatoras do processo.
"O Reisado é um bem cultural muito importante, mas não tem a mesma visibilidade que outros tem. Por isso, o reconhecimento do título é muito importante. Os grupos são bons, têm muita dedicação e força para manter a tradição. O movimento Viva Réis, que solicitou o título, vem dizer isso, que os Reisados estão vivos."
A pesquisa sobre reisados da Fundarpe e da Secretaria de Cultura começaram ainda em 2012, quando foi realizado o Inventário Nacional de Referências Culturais do Reisado em Pernambuco.
O apanhado destacou singularidades em diferentes regiões do estado; no Recife, em Garanhuns, Capoeiras, Paranatama, Águas Belas, Arcoverde, Sertânia, Pedra, Petrolina, Santa Maria da Boa Vista, Lagoa Grande e Tacaratu.
O livro de Patrimônios Vivos do Estado de Pernambuco já contava com artistas ligados ao reisado: Mestre Gonzaga de Garanhuns, do município de Garanhuns, do Reisado da Comunidade Quilombola do Inhanhum e mais recentemente da Mestra Maria Jacinta - esses dois últimos, do município de Santa Maria da Boa Vista, representantes dos Reisados do Agreste e Sertão do Estado.
Os Reisados nos remontam às tradições do catolicismo popular, sobretudo em festividades do Ciclo Natalino e às festas dos Santos Reis. Essa manifestação integra música, dança, personagens, encenação de entremeios, louvação e cortejo.
O enredo dos autos encenados no Reisado em Pernambuco dá-se comumente com os seguintes elementos: Marchas de Rua, Pedido de Abrição de Porta, Marchas de Entrada de Sala, Louvação aos donos da casa, Louvação ao Divino, Guerra e Retirada.
Os autos são entremeados com danças dramáticas, como as Guerras Totêmicas e a Farsa do Boi; com peças cantadas de motivos românticos ou circunstanciais; e com as Embaixadas, que são partes declamadas.
Os entremeios são as apresentações, com ou sem falas e diálogos, de personagens humanos ou animais com roupas, nomes e gestos próprios. Costumam ocorrer nos momentos em que os músicos param de tocar, mas também podem ser realizadas com a música caraterística do personagem. Os entremeios mais comuns são: Zabelê (Jaraguá), Cavalo-marinho, Sapateiro, Boi, Urso e Anastásia.
Os principais personagens do Reisado são o rei, a rainha, o mestre, o contramestre, os embaixadores, os figurantes e um Mateus, sendo acompanhados ao menos por um violeiro, mas é comum terem mais músicos. O rei, o mestre e contramestre começam a história, seguidos dos dançadores de entremeios.
Cada personagem do Reisado possui uma indumentária ricamente elaborada que o distingue e o saber-fazer e a estética dessas indumentárias são importantes para essa expressão cultural. A presença de guerreiros e batalhas, em alusão à luta entre cristãos e mouros, mas sobretudo a presença de animais nos entremeios distingue o Reisado no Nordeste.