A política cultural brasileira agora dispõe de uma plataforma inédita que mensura o PIB (Produto Interno Bruto) da Economia da Cultura e Indústrias Criativas (ECIC), criada pelo Observatório Itaú Cultural.
O novo indicador, lançado na segunda-feira (10) em evento na sede da instituição, em São Paulo, mostra que o segmento respondeu a 3,11% das riquezas geradas no país em 2020 - equivalente a R$ 230,14 bilhões de R$ 7,4 trilhões.
Para se ter ideia de como os números são expressivos, o ECIC esteve acima do setor automotivo - que correspondeu a 2,1% do PIB. Esse primeiro levantamento só considera até 2020 porque algumas bases de dados não foram atualizadas em 2021 e 2022 - o Observatório seguirá atualizando a plataforma.
A metodologia aplicada considerou como indústrias criativas os segmentos de moda, atividades artesanais, indústria editorial, cinema, rádio e TV, música, desenvolvimento de software e jogos digitais, serviços de tecnologia da informação dedicados ao campo criativo, arquitetura, publicidade e serviços empresariais, design, artes cênicas, artes visuais, museus e patrimônio.
Os indicadores também mostram que, de 2012 a 2020, o PIB desse segmento experimentou um crescimento de 78%, enquanto a economia total do país avançou 55% - de 2,72%, em 2021, para 3,11%, em 2020. Apesar disso, os dados ainda não captam a pandemia e as faltas de investimentos do governo de Jair Bolsonaro na área.
A plataforma de mensuração do PIB da Economia da Cultura e das Indústrias Criativas (ECIC) também fez levantamentos por Estados, trazendo percentuais da participação da cultura no PIB de cada um deles.
No caso de Pernambuco, a contribuição do Ecic é de 0,62%. O Estado também tem 4329 empresas de economia criativa, sendo o setor da moda o mais expressivo (54%), seguido por publicidade e serviços empresariais (14%) e demais serviços de tecnologia da informação (8%).
As empresas criativas do estado de Pernambuco geraram em 2020 mais de R$ 7,37 bilhões em receita e cerca de R$ 1,47 bilhões em lucros. No quarto trimestre de 2022, o número de pessoas ocupadas na economia da cultura e das indústrias criativas em Pernambuco era de 257.228, cerca de 7% do total de trabalhadores do estado.
A remuneração média para esses trabalhadores é de R$ 2.307 rendimento superior ao da média estadual de R$ 2.038 Dos trabalhadores, pouco mais de 50% são do sexo feminino: 127.697 e 129.531. No Nordeste, apenas 45% dos trabalhadores da área são formalizados.
O percentual tímido de Pernambuco, um dos estados mais ricos em manifestações culturais, se repete em outros estados, como Bahia (0,47%) ou Ceará (0,45%). Os dados regionais mostram que apenas 0,5% do PIB do Nordeste tem contribuição da Ecic, em contraste com 3,0% do Sudeste e 2,8% do Sul.
"Existem várias atividades econômicas que compõem o PIB de cada estado, então o que vemos é o que a ECIC contribuiu ao lado dessas outras atividades. É uma medida proporcional, pois existem estados, por exemplo, em que a indústria primária é a mais evoluída", explica Leandro Valiati, professor e pesquisador da University of Manchester, no Reino Unido, e da UFRGS, que liderou a criação da metodologia ao lado de um grupo de pesquisadores.
Para Eduardo Saron, presidente da Fundação Itaú, os dados do novo indicador servem para disseminar informações e ajudar a criar programas de formação que ajudem a superar essas desigualdades regionais no campo da cultura.
"O primeiro passo é abrir as informações para pensar em um país com políticas públicas mais integradas, mais articuladas e que tenham mais diálogo com tantas diferenças profundas. Segundo, precisamos de formação para que as pessoas qualificadas integrem essa cadeia", diz Saron.
"Também precisamos criar mais espaços de conscientização da própria sociedade. A cultura não é a 'cereja do bolo', é parte integrante desse bolo. Pensar na cultura é impactar a saúde, o emprego e dar perspectiva para os jovens. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico apontou recentemente que temos 8 milhões de jovens de 18 a 25 anos que não conseguem trabalhar nem estudar. Muitos deles disseram que gostariam de trabalhar na gestão cultural."
O professor e pesquisador Leandro Valiati argumenta que é “fundamental uma redistribuição do incentivo e da regulação para deixar as coisas mais equilibradas em relação ao potencial da cultura de um estado, além da ampliação de recursos.”
"Ao olhar para todos esses dados, vemos como o nosso setor gera emprego e renda para o país. Os indicadores podem fazer com que os nossos secretários da fazenda olhem com mais atenção para esse setor produtivo local. Esse é o país das commodities, mas precisamos dar o próximo passo. É isso o que tentamos oferecer: elementos para que os nossos secretários possam ter mais energia para construir políticas matriciais. E mostrar para a sociedade que esse é um campo tão importante como o da saúde, o da educação e da segurança pública", finaliza.