A realização da maior feira de artesanato da América Latina, a Fenearte, motiva o lançamento de livros sobre o universo dessa linguagem artística: "Feira de Sonhos: Artesanato pernambucano – Volume 2", de Catarina Lucrécia, Daniela Nader e Márcio Markman; e "Além do Barro - Heranças de Vitalino no Alto do Moura no Século XXI", de Mário Sá.
Outro lançamento é "A Lírica de Carlos Augusto Lira (segunda edição)", registro da coleção de arte popular e erudita do arquiteto e colecionador homônimo. Todas as obras saem pela Cepe Editora, com lançamentos realizados em diferentes dias da Fenearte.
O primeiro título citado é resultado de uma pesquisa que percorreu quase três mil quilômetros, entre o mar e o Sertão, para encontrar histórias de 15 mestres e mestras que trabalham com couro, fibra, barro e madeira em peças únicas. "Feira de Sonhos" será lançado pela Cepe na Fenearte, no Centro de Convenções, neste sábado (8), às 18h.
Dos mestres e mestras que integram o livro, seis moram na Região Metropolitana do Recife (RMR), um reside na Mata Norte, três no Agreste e cinco no Sertão. Oito deles trabalham com madeira: Cunha (Jaboatão), Abias (Igarassu), Saúba (Jaboatão), Wagner Porto (Garanhuns), Marcos (Sertânia), Chico Santeiro (Triunfo), Bezinho (Ibimirim) e Mazinho (Lagoa Grande).
O percurso dos autores para compor o mapa ainda passa pelas obras em barro dos mestres Mano de Baé (Tracunhaém), Nada (Olinda), Nena (Cabo de Santo Agostinho) e Luiz Antônio (Caruaru).
"Quando a gente decidiu contar a história dos mestres, a intenção era fazer com que as pessoas enxergassem muito além das lindas peças e embarcassem em uma viagem pelo riquíssimo universo da cultura popular pernambucana”, explicam Catarina Lucrécia Araújo e Márcio Markman, que assinam os textos, e Daniela Nader, autora das mais de 300 fotografias da obra.
"Também queríamos que tivesse um olhar mais apurado para a vida desses artistas em todos os aspectos, além de mostrar que a arte tem um papel fundamental na transformação social de um povo, de um país, quando é trabalhada como uma forte política pública”,
A ligação dos mestres e mestras retratados no livro com a Fenearte é estreita. Em alguns casos, ela ocorre desde a primeira edição da feira, realizada no ano 2000. Nesta lista entram J. Borges e as tapeceiras de Camaragibe, por exemplo.
“Além do Barro” é resultado de entrevistas e observações sobre o Alto do Moura, em Caruaru, feitas pelo professor e pesquisador do Centro de Ciências Humanas, Letras e Artes da Universidade Federal da Paraíba Márcio Sá. O lançamento ocorre no dia 12 de
A obra mostra como o reconhecimento social do Alto do Moura só cresce, mas também os desafios para a sobrevivência da cultura artesã no badalado bairro de Caruaru.
O ponto de partida para a obra, que tem 278 páginas, é uma pesquisa acadêmica, mas a linguagem científica foi adaptada ao texto literário. Com isso, a leitura está acessível a "todos os interessados em conhecer os dramas e as tramas que artesãos e suas comunidades enfrentam na contemporaneidade”, garante o escritor.
"O livro pode interessar ao leitor que deseja compreender como as pessoas seguem enfrentando os desafios e as tensões de sobrevivência simbólica e material neste século", complementa o autor.
"As questões urbanísticas (loteamentos, novas fachadas de cerâmica, novos conjuntos habitacionais, novos habitantes etc.) são, aos meus olhos, as mais difíceis de conter e, mais ainda, de se reverter”, destaca o escritor. “É preciso política e gestão pública de qualidade para que o Alto do Moura possa melhor se situar no presente, mas é indispensável uma atitude renovada e de enfrentamento dos desafios comunitários. Tudo isso pode significar atualizar, reinventar, ressignificar, enfim, trazer as heranças mais substantivas do Mestre Vitalino, de fato, ao nosso tempo", conclui o pesquisador.
A segunda edição de “A Lírica de Carlos Augusto Lira” versa sobre a coleção do arquiteto, que possui 4.620 peças, entre arte erudita e popular, utilitários e brinquedos, reunidas ao longo de 45 anos. Será lançada pela Cepe neste domingo (09), às 17h, no Espaço Janete Costa da 23ª Fenearte.
Os textos são da doutora em antropologia e curadora Ciema Silva de Mello “Eu sempre quis fazer o livro para a minha Coleção. Mas, como eu não saberia fazer escrevendo, eu fiz falando, e o pessoal transcreveu o que eu falei”, revela o arquiteto.
A segunda edição da obra esgotada é bilíngue e enriquecida por fotografias feitas por Dudu Schnaider e Emiliano Dantas. “A Coleção é um prolongamento da índole, das convicções, das preferências e até das aversões de Carlos Augusto. Absorve a gravura de Portinari com a mesma naturalidade com a qual incorpora o milésimo ex-voto, pois assinaturas ilustres não ofuscam os anônimos”, diz Ciema.