Da Estadão Conteúdo
O segundo dia do festival de cinema espanhol de San Sebastián destacou nesse sábado, 23, um documentário em animação sobre o pianista brasileiro Tenório Jr., assassinado pela ditadura argentina em Buenos Aires, e a figura de um líder histórico da organização basca ETA.
"Atiraram no Pianista", dirigido pelo espanhol Fernando Trueba e com desenhos de Javier Mariscal, narra a investigação de um jornalista americano sobre Francisco Tenório Junior, um exímio pianista do samba-jazz que desapareceu em Buenos Aires, em 1976, após se apresentar com Vinicius de Moraes na cidade argentina.
Trueba, que venceu o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 1994 com Sedução, descobriu sobre Tenorio Jr. em 2004 e entrevistou artistas e amigos que o conheciam, até ter a ideia de produzir um documentário em animação sobre o caso.
O resultado é uma combinação de "música, história, política e memória", afirmou ele neste sábado, após a exibição no festival.
Tudo indica que Tenório foi sequestrado por agentes do Estado quando ia comprar um sanduíche depois de um show.
Por pouco mais que sua aparência esquerdista, foi torturado na Escola Mecânica da Marinha (Esma) e assassinado pelo soldado Alfredo Astiz, o Anjo da Morte, para ocultar sua prisão sem justificativas.
Rio de Janeiro, Nova York e Buenos Aires são os principais cenários deste filme que traz entrevistas com gigantes da música brasileira que conheceram Tenório, como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Milton Nascimento e Toquinho.
A produção faz parte da programação oficial do festival, mas ficou de fora da competição pela Concha de Ouro.
POLÊMICAS
A violência também é tema de No me llame Ternera, um documentário dedicado a Josu Ternera, pseudônimo policial de José Antonio Urrutikoetxea, líder da dissolvida organização separatista armada basca ETA, e que é ligado a uma série de homicídios.
Em liberdade condicional enquanto seu caso é julgado na França, o então líder, atualmente com 72 anos, reconhece alguns erros das ações de sua organização, que causou 853 mortes, mas não pede perdão às vítimas, como pode ser visto na produção cinematográfica.
O público de San Sebastián, cidade basca castigada pelos ataques da organização, é o primeiro a ver este filme que gerou críticas e pedidos para que fosse retirado da programação.
Em uma coletiva de imprensa, o jornalista Jordi Évole, um dos codiretores do documentário, defendeu a produção.
"O interesse jornalístico de uma entrevista com um líder de uma organização terrorista é indiscutível", disse ele. "Este país tem que saber olhar para o seu passado com coragem e sem medo. Dói, claro que dói, a história de todos os países dói."