Quando lançou "Missão de Cantador", em 2020, a Banda de Pau e Corda, uma das mais longevas da música pernambucana, quebrou um hiato de quase 30 anos sem um lançamento inédito de estúdio.
Essa "quebra" não ficou apenas ali, para a felicidade dos admiradores desse tipo música, que mescla o regional e o contemporâneo de uma forma única, como quase todo bom artista pernambucano que eclodiu nos anos 1970.
Neste mês, o grupo lançou "Entre a Flor e a Cruz", uma celebração de 50 anos de carreira, pela Biscoito Fino. Podemos dizer que o disco tem "dois lados": seis músicas são regravações de sucessos antigos, fazendo uma boa autorreferência nessa comemoração. Já as outras seis inéditas autorais mostram como a banda se mantém atual, dialogando, inclusive, com novos compositores.
O álbum também é repleto de participações: Lenine, Padre Fábio de Melo, Fagner, Juliana Linhares e Marcos Valle. A produção é, mais uma vez, de José Milton, que acompanha o grupo desde o primeiro disco, de 1973, agora em parceria com Alexandre Barros (baterista).
"Esse álbum é, para a gente, uma perspectiva dos nossos olhares. Um para o passado, é como se estivéssemos olhando no retrovisor do tempo. Esse olhar é representado pelas músicas antigas - Vivência, Areia, Flor D'Água, Esperança, Lampião e Pelas Ruas do Recife", diz Sérgio Andrade, vocalista e membro-fundador.
"A outra parte seria um olhar para a frente, representado pelas seis músicas novas e autorais de compositores que gostamos muito. 'Entre A Flor e Cruz', de PC Silva e Gean Ramos Pankararu, representa muito o nosso momento atual. Tanto é que a colocamos como título do disco."
Faixas
A faixa que abre o disco é justamente a canção "Vivência", primeiro sucesso do grupo. Nessa nova versão, o arranjo original é preservado, tendo apenas a diferença da bateria, que agora substitui a percussão da época.
Logo em seguida, é a vez da canção "Moer Cana", ciranda de autoria do paraibano Chico César, que, na versão da Banda de Pau e Corda, conta com a participação especial do cantor Lenine.
Já "Entre a Flor e a Cruz" foi composta por dois dos principais compositores pernambucanos desta geração. Ambos vêm recebendo projeção nacional e possuem em comum a origem sertaneja que influencia sua poética, dialogando com temas e públicos universais.
A quarta faixa é uma regravação da canção "Areia", que ganhou interpretação com o cearense Raimundo Fagner, num dueto emocionante - como revela Sérgio Andrade.
"Foi uma sugestão do próprio José Milton chamá-lo. O Fagner topou gravar, generosamente. Tê-lo conosco é uma alegria muito grande", diz Andrade. "Apesar de sermos da mesma geração, sempre fui um grande fã de Fagner por sua interpretação única e pela forma como ele consegue se comunicar com seu público de uma forma tão intensa".
A quinta faixa é a inédita "Rosa Roubada", com letra Sérgio e arranjo Zé Freire, que, juntos, dialogam com lirismo das canções românticas.
Clássicos
"Lamento Sertanejo", já bastante tocada pela banda em shows desde os anos 1990, com arranjo de Wlatinho, ganhou seu primeiro registro de estúdio como uma forma de homenagear os compositores da canção, influências declaradas de todos os integrantes atuais do grupo.
Outro clássico presente é "Carcará", composição do maranhense João do Vale em parceria com José Cândido, que tem versões icônicas de Maria Bethânia e Zé Ramalho.
Quem acompanha a banda nesse desafio é a portiguar Juliana Linhares, grande revelação da música brasileira contemporânea dos últimos anos, para dividir os vocais com Sérgio Andrade em um arranjo inspirado de Zé Freire.
"Ela representa essa nova geração do Nordeste. Essa música é muito difícil, então é preciso de uma grande cantora. Ainda estávamos cantando o 'Missão de Cantador' quando tivemos conhecimento do 'Nordeste Ficção', álbum da Juliana. A sua voz nos impactou muito. Fiquei encantado com a voz dela e imediatamente pensei em seu nome para a música."
A sétima faixa do disco traz o principal sucesso da Banda de Pau e Corda: "Flor d'Água" resgata o arranjo original de Waltinho, mas com um diálogo com o momento atual do grupo a partir do arranjo de sanfona escrito por Zé Freire e executado por Vinicius de Farias.
Outros clássicos revisitados são "Lampião" e "Pelas Ruas do Recife", com o compositor de frevo Marcos Valle. Já "Insônia" é uma composição de Yko Brasil, flautista que integra a formação atual do grupo.
O show de "A Flor e a Cruz" vai estrear em 6 de outubro, no Teatro Santa Rosa, de João Pessoa (PB). A banda irá rodar em mais cidades em breve.