ARTES VISUAIS

Exposição de Sebastião Pedrosa no Recife busca inspiração em poema de Drummond de Andrade

"De Tudo Restou um Pouco", montada na Arte Plural Galeria, no Bairro do Recife, reúne obras inéditas do artista, com destaque para esculturas e peças compostas por colagens

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Emannuel Bento

Publicado em 23/10/2023 às 17:09
Obras da exposição De Tudo Restou um Pouco, de Sebastião Pedrosa - ROBSON LEMOS

"De tudo ficou um pouco. Do meu medo. Do teu asco. Dos gritos gagos. Da rosa ficou um pouco", diz o início do poema "Resíduo", de Carlos Drummond de Andrade. Publicado na década de 1940, a obra leva o leitor a pensar sobre as impossibilidades da vida. Os versos nunca deixaram o imaginário do artista plástico pernambucano Sebastião Pedrosa, que foi buscar nesse poema a inspiração para a sua nova exposição.

A mostra "De Tudo Restou um Pouco", montada na Arte Plural Galeria, no Bairro do Recife, reúne obras inéditas, com destaque para esculturas e peças compostas por colagens, assemblagens, objetos e os livros do arrista, que produz guiado por uma gama de tentativas e experimentações. A curadoria é de Joana D'arc Lima.

A abertura ocorre nesta terça-feira (24), para convidados. O público poderá visitar a partir da quarta-feira (25), com acesso gratuito. O funcionamento é de segunda a sexta-feira, das 9h às 18h, e aos sábados, de 14h às 18h. A mostra fica em cartaz até 6 de janeiro de 2024.

Contradições

"De Tudo Restou um Pouco" carrega consigo as contradições enunciadas pelo poema de Drummond. "É sobre o que resta, o que sobra, o que não se esvaiu, por inteiro e por completo", diz o texto de divulgação.

"O artista convida o visitante a olhar com urgência, para o planeta, natureza e meio ambiente”, diz a curadora, destacando que a exposição reúne um conjunto de trabalhos recentes do artista, monocromáticos, restabelecendo diálogos anteriores marcados pelas monocromias e pela poética relacionada à questão do meio ambiente.

Obra da exposição De Tudo Restou um Pouco, de Sebastião Pedrosa - ROBSON LEMOS
Obra da exposição De Tudo Restou um Pouco, de Sebastião Pedrosa - ROBSON LEMOS
Obra da exposição De Tudo Restou um Pouco, de Sebastião Pedrosa - ROBSON LEMOS

"Meu trabalho sempre reflete questões que mexem com minhas motivações. Minhas memórias, minhas vivências, minha existência. Para essa exposição em particular, posso dizer que sua origem está bem distante no tempo", explica Pedrosa, lembrando os idos de 1990, quando foi realizada a "Conferência Eco 92" e ele se dedicava à conclusão de seu doutorado na Inglaterra.

No embalo desse momento, ele produziu alguns "livros de artista", um deles batizado de "Lost Horizon", nome de um romance inglês que também serviu de inspiração para um mapa da região amazônica, ameaçado pelas frequentes queimadas.

Esse momento repercutiu em outras minhas produções artísticas, como a exposição individual chamada 'Relicários', de 1998. No caminho, vieram outras obras, até chegar a 'De Tudo Restou um Pouco', com trabalhos que ganharam mais espaço, saindo das caixas, se espalhando pelas paredes, teto e chão.

Obras

Desde 2011, o artista dedica-se completamente à produção nas artes visuais. Nesta exposição, estão obras inéditas são apresentadas, como a série "Objetos de Punição para Grileiro", de 2023, um conjunto de 10 peças, que simulam, chicote, palmatória, coroa de espinho, entre outras, para serem penduradas e ou depositadas sobre uma superfície horizontal.

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"Para que não nos esqueçamos jamais da questão da terra no Brasil, sobretudo da pessoa que se apodera ou procura se apossar de terras alheias, mediante falsas escrituras de propriedade", diz Pedrosa.

Outras duas séries são os "Pendurados" (aéreos ou de parede), "Oitis" (aéreos) e "Ao Rés-dochão", que se entrelaçam com leveza e possibilidade de mover-se e de mover com o espaço arquitetônico. São obras que podem se acomodar no chão, parede, serem suspensas e se projetarem no espaço, como desenhos expandidos.

Galeria

Esta exposição faz parte da programação de aniversário da APG, que celebra 18 anos em 2023. Instalado no histórico bairro do Recife Antigo, a Arte Plural Galeria (APG), o espaço segue o compromisso com a multiplicidade das artes em suas diversas expressões.

Ainda como parte das comemorações, o espaço lançou uma nova marca e vem realizando uma série de mostras e eventos, que se somam às mais de 100 já realizadas.

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