MÚSICA

'Vivemos o começo de um novo Portugal', diz músico Yamandu Costa, em turnê com português António Zambujo; confira entrevista

Parceria nascida após concerto de comemoração aos 200 anos da Independência do Brasil tem rodado o país e chega ao Recife neste sábado (20): 'A música portuguesa e brasileira sempre se realimentaram'

Cadastrado por

Emannuel Bento

Publicado em 20/01/2024 às 11:46 | Atualizado em 20/01/2024 às 16:30
- KENTON THATCHER/DIVULGAÇÃO

Em 2022, a comemoração dos 200 anos da Independência do Brasil contou com um concerto em Lisboa, realizado por Yamandu Costa, celebrado violonista brasileiro, e António Zambujo, considerado um dos grandes intérpretes portugueses da atualidade.

A apresentação deu tão certo que se estendeu para uma turnê que irá passar ainda por cidades como Rio de Janeiro, São Paulo, Porto Alegre, Florianópolis. Eles sobem ao palco do Teatro Guararapes, no Grande Recife, neste sábado (20).

O show abre com a performance e Yamandu e seu violão de sete cordas, com composições como "Carinho - Serelepe" e "Samba pro Rafa". No segundo ato, António chega para completar a dupla, passeando por canções de grandes nomes da música brasileira e sulamericana.

"Valsinha" de Chico Buarque e Vinicius de Moraes, "Falando de Amor", de Tom Jobim, "Carinhoso" de Jorge de Barro e Pixinguinha, e "El Cosechero", de Ramón Ayala são algumas outras das músicas escolhidas.

António Zambujo é um dos maiores artistas, autores e intérpretes contemporâneos da música e da língua portuguesas. Ao incorporar influências do cancioneiro brasileiro, em particular a Bossa Nova, ele derrubou fronteiras, aproximando os dois lados do Atlântico.

Já Yamandu Costa leva a sua incomum habilidade e sonoridade para performances que carregam a marca da música do sul do continente americano, mas transitando por diferentes gêneros musicais com seu violão de sete cordas.

Entrevista com Yamandu Costa

A turnê nasceu do concerto em comemoração aos 200 anos da Independência do Brasil. Como foi a experiência dessa ocasião?
A experiência foi maravilhosa. Faziam muitos anos que a gente não tocava juntos. Esses 200 anos da Independência do Brasil foi um reencontro muito querido, ficamos muito felizes com a possibilidade de estar juntos de novo e a tudo o que que proporcionou. Esse trabalho também impulsionou a vontade de gravar um disco e de começar a fazer algumas turnês e tal e oficializar essa parceria.

Como foi o processo para criar o repertório do espetáculo?
O processo de encontrar o repertório nunca foi nada muito intencional. A gente sempre se reuniu informalmente em casa e começamos a tocar músicas que a gente gosta, né? Um repertório, inclusive, não tem nem muita coerência, mas isso é proposital. São coisas que a gente gosta de ouvir, gosta de tocar, de cantar. Coisas de culturas muito diferentes, música mexicana, cubana, argentina e, é claro, portuguesa e brasileira, né? Clássicos brasileiros. Então, é um apanhado de coisas que a gente gosta de ouvir.

Por que você prefere trabalhar com o violão de sete cordas?
Esse é um instrumento muito interessante que se desenvolveu no Brasil. É um instrumento que vem da Rússia, muito comum na escola da música russa, mas chegou no Brasil no início do século passado e se desenvolveu em um instrumento completo que, da maneira que a gente usa hoje no Brasil, é um instrumento extremamente complementar. Ele é um violão com recursos a mais. Então, ele preenche muito mais do que um violão normal.

António incorpora influência do cancioneiro brasileiro e isso cria um bom elo entre os trabalhos da dupla. Porém, de uma forma mais ampla, como podemos dizer que a música lusitana se aproxima brasileira?
Podemos falar que é uma mão de ida e de volta, tanto a música portuguesa quanto a música brasileira sempre se realimentaram. A gente encontra características disso no choro ou na linguagem do fado. Na música sertaneja brasileira, a gente encontra raiz no cante alentejano. Então, são culturas que sempre foram irmãs. Uma veio depois da outra, e depois disso o Brasil também influenciou a música portuguesa. Isso fica mais evidente pelo fato de que, na América Latina, o único país que fala português é o Brasil.

Nos últimos anos, musicalmente falando, podemos dizer que Brasil e Portugal estão mais próximos ou mais distantes?
Sem dúvida, Brasil e Portugal estão cada vez mais próximos. Tem essa última leva de brasileiros que foi morar lá, que é o meu caso. Eu sou a prova disso: são países irmãos que precisam um do outro. E é muito bom é muito positivo isso. Eu me sinto muito bem vivendo em Portugal e Portugal sabe da importância da força brasileira. O Brasil é um país enorme, com muita potência econômica. Acho que vivemos o começo de um novo Portugal. Acho que o país vai mudar demais não só pela presença do Brasil, mas de um modo geral, pela presença da imigração e a maneira que Portugal trata essa imigração. É importante ter as portas abertas para mão de obra, enfim, para o funcionamento do país, então é um é um é um é um país europeu que tem uma certa facilidade de entrada. Eu tenho certeza que isso é intencional e faz parte da estratégia política de Portugal.

SERVIÇO
Yamandu Costa & António Zambujo
Onde: Teatro Guararapes, Centro de Convenções de Pernambuco (Av. Prof. Andrade Bezerra, S/N, Salgadinho, Olinda)
Quando: 20 de janeiro, às 21h
Quanto: R$ 60 a R$ 30, à venda no Sympla

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