MÚSICA

Morre o maestro Clóvis Pereira, nome fundamental da música armorial, aos 92 anos

Compositor, arranjador, pianista e regente criou uma música que se encaixava com os objetivos de Ariano Suassuna

Cadastrado por

Emannuel Bento

Publicado em 04/06/2024 às 10:50 | Atualizado em 04/06/2024 às 14:38
Maestro Clóvis Pereira - DIVULGAÇÃO

Morreu o compositor, arranjador, pianista e regente Clóvis Pereira, aos 92 anos. Natural de Caruaru, o músico foi um personagem fundamental do Movimento Armorial, sendo regente da Orquestra Armorial. Também chegou a comandar orquestras da Rádio Jornal do Commercio, veículo do SJCC, onde também foi arranjador.

De acordo com a família, o artista faleceu de causas naturais na manhã desta terça-feira (4), por volta das 6h40. O velório será realizado na capela do Cemitério de Santo Amaro, no Recife, a partir das 8h, desta quarta-feira (5), e o enterro acontecerá na parte da tarde.

Clóvis Pereira estava internado no Hospital Português, no Recife. Deixou quatro filhos: Valéria, Ana Elizabeth, Luis Carlos e Clovis Pereira Filho. A esposa, Dona Risomar, havia partido em fevereiro deste ano.

Filho e pai de músicos, Clóvis foi recentemente homenageado pela Orquestra Sinfônica do Recife nos dias 8 e 9 de maio, tendo uma peça sua executada com solo de Clóvis Pereira Filho, violinista e spalla da Orquestra. Entre os destaques de sua obra estão as "Três Peças Nordestinas".

Armorial

Clóvis Pereira regendo a Orquestra Armorial, em evento em Caruaru - DIVULGAÇÃO

Clóvis Pereira mudou-se para o Recife em 1950, iniciando o estudo de piano no Conservatório Pernambucano de Música. Estudou também na Escola de Belas Artes da UFPE, complementando a formação com o maestro César Guerra Peixe, com quem estudou harmonia, composição e orquestração.

"Guerra-Peixe morou no Recife de 1949 até 1952 e aproveitou para conhecer de perto e registrar por escrito diversas manifestações musicais e folclóricas de Pernambuco. Ele reuniu ao seu redor a um círculo muito seleto de alunos e tinha o prazer de transmitir o conhecimento que adquiriu de fontes populares e também o conhecimento de teoria musical", explica Carlos Eduardo Amaral, autor do "Clóvis Pereira – No Reino da Pedra Verde" (2015, Cepe Editora).

"Dentre esses quatro alunos estava Clóvis Pereira. Os outros três eram ninguém menos que Jarbas Maciel, Capiba e Sivuca. Então, toda a base de Clóvis e toda a base da música armorial vêm principalmente da influência de Guerra-Peixe."

Quando Ariano Suassuna reuniu artistas para o lançamento do Movimento Armorial, aproximou-se de nomes que já tinham uma obra consolidada, mas ainda não disseminadas a nível nacional. "Eles fizeram parte desse embrião do qual nasceu Orquestra Armorial no ano de 1970. O próprio Clóvis contribuiu compondo de diversas obras e também sendo regente da própria orquestra."

Frevo

Sendo um músico atuante em Pernambuco, Clóvis Pereira também ficou conhecido pela sua relação com o frevo "Essa relação se dava diariamente, pois ele foi um dos arranjadores da Rádio Jornal do Commércio", diz Amaral.

Na década de 1950, Pereira substituiu Guerra-Peixe à frente da principal orquestra da Rádio. Nos anos 1960, ele formou uma orquestra de frevo que funcionou até meados dos anos 1980 por diversos bailes da capital.

"Como rubro-negro que ele era, também conduziu bailes com a sua própria orquestra no Sport Club do Recife. Além de maestro, foi compositor. Posso destacar 'Luizinho no Frevo', que é o mais bonito na minha opinião."

Ao JC, o compositor de frevo Jota Michiles lamentou a morte do amigo. "Acabo de receber a triste notícia da partida do maestro Clóvis Pereira, notável compositor, e arrajador. Me acompanhou em vários momentos com sua orquestra, na TV Jornal e nos palcos dos festivais de frevo, aqui no Recife. Um dos nossos importantes pilares da música brasileira. Meus sentimentos aos amigos e familiares".

Notas de pesar

A Prefeitura do Recife, por meio da Secretaria de Cultura e da Fundação de Cultura Cidade do Recife, lamentou a morte do músico, "uma das mais importantes presenças no extenso dicionário da genuína música, pernambucana e brasileira, que se fez universal".

"A obra que se faz eterna se construiu em uma vida musical, de mergulho profundo em todos os acordes, uma inspiração e uma referência, que merece todas as reverências", afirmou o secretário de Cultura, Ricardo Mello.

"Clóvis foi um músico completo, com domínio de todos os estilos e linguagens musicais, do popular ao sinfônico, produzindo música para os palcos e para as ruas, para cada recifense, para o mundo todo e para sempre", acrescentou o presidente da Fundação de Cultura Cidade do Recife, Marcelo Canuto.

"Sem se pautar por distinções musicais, escreveu arranjos e composições de alto gabarito em gêneros tão diversos quanto a bossa nova, a música armorial, o frevo e a música coral-sinfônica", diz a nota de Myrna Salsa da Nóbrega Targino e João José da Rocha Targino, da Orquestra Criança Cidadã.

"A Orquestra empenhou-se em valorizar e divulgar as composições orquestrais de Clóvis Pereira, em concertos oficiais, apresentações institucionais e, sobretudo, em suas viagens ao exterior. Tivemos a oportunidade de tocar suas célebres 'Três peças nordestinas' em diversos países, como Argentina, Israel, China, Estados Unidos e Itália".

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