Um dos filmes nacionais mais aguardados do ano chega às telonas nesta quinta-feira: "Mussum, o filmis", premiado com seis Kikitos no Festival de Gramado, incluindo melhor ator para Ailton Graça.
Dirigido por Silvio Guindane, com roteiro assinado por Paulo Cursino, o filme narra a trajetória do humorista e sambista Antônio Carlos Bernardes com base no livro "Mussum – uma história de Humor e Samba", de Juliano Barreto.
Afinal, o filme é isso tudo mesmo? Apesar de não fugir do formato tradicionais das cinebiografias, tendo algumas irregularidades, o longa cativa ao buscar entender o homem por trás do humorista que o Brasil conheceu nas telinhas.
"Mussum" consegue esse feito sem parecer apelativo ou isento, prestando uma homenagem digna ao artista. Para quem acompanhou o ápice dos Trapalhões, também é um prato cheio de nostalgia.
Mussum em três atos
Podemos afirmar que o "Mussum" é divido em três partes. Na primeira, conhecemos a sua infância pobre ao lado da mãe, Dona Malvina (Cacau Protásio). Na segunda parte, o protagonista já está adulto (vivido por Yuri Marçal) e trabalha na Aeronáutica enquanto toca à noite com o grupo Os Originais do Samba.
Já a terceira fase explora o que mais conhecemos: o seu destaque com suas participações na TV, quando ganha o apelido de Mussum após encontro com Grande Otelo (Nando Cunha).
Na década de 1970, vemos as suas passagens por programas de Chico Anysio e Renato Aragão (Gero Camilo). Com os Trapalhões, a sua carreira explode de vez. Contudo, a sua insistência em permanecer no grupo de samba causa um dos principais conflitos do longa.
Outras grandes figuras aparecem em "Mussum", o que torna o filme ainda mais interessante. Entre elas, Alcione (Clarice Paixão), Jorge Ben (Ícaro Silva), Cartola (Flávio Bauraqui), Garrincha (Wilson Simoninha), Boni (Augusto Madeira), Nilton da Mangueira (Mussunzinho), Milton Carneiro (Marcello Picchi) e Elza Soares (Larissa Luz).
"O maior trabalho foi selecionar essas celebridades e nomes da nossa música para poder construir esse roteiro. Era tanta gente legal que cruzou caminho com o Mussum que cheguei a escrever, por exemplo, uma cena em que os Originas do Samba se apresentavam com a Elis Regina, outra cena que também escrevi foi quando se apresentaram em um festival que estava a Tina Turner”, disse Paulo Cursino, em comunicado enviado pela comunicação do filme.
"A vida do Mussum foi muito rica e tivemos que selecionar essas participações. Acabamos fazendo uma seleção ótima que valorizou muito a música e o humorismo brasileiro, explorando a relação dele com nomes como Chico Anysio e Grande Otelo”, destacou.
Drama e comédia
Todas essas partes são bem costuradas pela direção dinâmica de Silvio Guindane, que também é ator (em séries como "A Divisão" e "Vai que Cola"). Em sua estreia na direção, ele consegue equilibrar bem a comicidade e a dramaticidade que envolvem a trajetória de Mussum.
"Foi uma pesquisa inspiradora. Mussum viveu em um dos períodos mais ricos da música e da televisão brasileira. Onde olhávamos sempre tinha alguém famoso e importante para nossa história - musical, e até política - com quem Mussum cruzou. O bar em que Mussum se apresentou com os Originais do Samba, acompanhado da Elza Soares, por exemplo, era frequentado pelo Presidente João Goulart", afirmou Cursino.
Esse equilíbrio entre humor e drama é possível pela boa atuação de Ailton Graça, que entregou a melhor performance de sua carreira e é um dos grandes trunfos deste filme. Sem essa atuação, talvez o filme perderia parte da sua força.
Apesar do tom de homenagem, o roteiro também mostra seus defeitos e fraquezas, a exemplo de infidelidade do protagonista com a esposa. Apesar de não ser "chapa branca", o longa evita entrar tanto na temática do racismo (embora o assunto chegue a ser abordado). Na maioria das vezes, a impressão que fica é que a pobreza material foi a grande barreira para o ator - contudo, a questão racial explica também a sua posição social.
Outro ponto que poderia ser melhor explorado é a relação de Mussum com os Trapalhões, sobretudo o desgaste que levou o grupo a se separar por um período. Apesar do seu apego ao formato tradicional e algumas irregularidades, "Mussum, o filmis" consegue transmitir a grandiosidade desse artista, o que é convertido para a grandeza do próprio filme.