Dias antes de morrer, Moraes Moreira escreveu poema dizendo temer coronavírus; leia

Cantor e compositor morreu nesta segunda-feira (13), aos 72 anos
Katarina Moraes
Publicado em 13/04/2020 às 12:23
Cantor e compositor baiano Moraes Moreira em show no Recife Foto: DIEGO NIGRO/ACERVO JC IMAGEM


O cantor e compositor Antonio Carlos Moraes, conhecido como Moraes Moreira, que morreu nesta segunda-feira (13), aos 72 anos, deu sua contribuição à arte brasileira até os últimos dias de vida. Em 17 de março, o baiano publicou um poema de sua autoria, em que revelava temer pela pandemia do novo coronavírus.

A causa da morte ainda não foi informada, mas, segundo o também cantor e compositor Paulinho Boca de Cantor, amigo do artista, ele faleceu durante o sono.

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"Oi Pessoal estou aqui na Gávea entre minha casa e escritório que ficam próximos. Cumprindo minha Quarentena, tocando e escrevendo sem parar. Este Cordel nasceu na madrugada do dia 17, envio para a apreciação de vocês. Boa sorte", disse, em publicação no Facebook.

QUARENTENA (Moraes Moreira)

Eu temo o coronavirus

E zelo por minha vida

Mas tenho medo de tiros

Também de bala perdida,

A nossa fé é vacina

O professor que me ensina

Será minha própria lida

Assombra-me a Pandemia

Que agora domina o mundo

Mas tenho uma garantia

Não sou nenhum vagabundo,

Porque todo cidadão

Merece mais atenção

O sentimento é profundo

Eu não queria essa praga

Que não é mais do Egito

Não quero que ela traga

O mal que sempre eu evito,

Os males não são eternos

Pois os recursos modernos

Estão aí, acredito

De quem será esse lucro

Ou mesmo a teoria?

Detesto falar de estrupo

Eu gosto é de poesia,

Mas creio na consciência

E digo não violência

Toda noite e todo dia

Eu tenho medo do excesso

Que seja em qualquer sentido

Mas também do retrocesso

Que por aí escondido,

As vezes é o que notamos

Passar o que já passamos

Jamais será esquecido

Até aceito a Policia

Mas quando muda de letra

E se transforma em milícia

Odeio essa mutreta,

Pra combater o que alarma

Só tenho mesmo uma arma

Que é a minha caneta

Com tanta coisa inda cismo...

Estão na ordem do dia

Eu digo não ao machismo

Também a misoginia,

Tem outros que eu não aceito

É o tal do preconceito

E as sombras da hipocrisia

As coisas já foram postas

Mas prevalecem os reles

Queremos sim ter respostas

Sobre as nossas Marielles,

Em meio a um mundo efêmero

Não é só questão de gênero

Nem de homens ou mulheres

O que vale é o ser humano

E sua dignidade

Vivemos num mundo insano

Queremos mais liberdade,

Pra que tudo isso mude

Certeza, ninguém se ilude

Não Tem tempo, nem idade.

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