Há 50 anos, os Beatles lançavam o disco que fechava sua discografia de estúdio, embora a banda já não existisse na prática. Fechava a discografia de estúdio oficialmente, mas sua música foi gravada antes de se reunirem para fazer o o LP Abbey Road, lançado em 1969. Em dez de abril, de 1970 a imprensa inglesa anunciava que Paul McCartney saíra do Beatles. No dia anterior, ele confirmou o lançamento do disco solo McCartney, contrariando a gravadora, e outros três integrantes do grupo. O álbum Let it Be estava com a data de lançamento marcada para 8 de maio. Paul lançou o álbum McCartney em 17 de abril. Com o LP, veio uma entrevista com perguntas e respostas, elaboradas com a colaboração dos assessores Derek Taylor e Peter Brown.
A entrevista confirmava a saída de Paul da banda, mas ao mesmo tempo era uma peça de ficção, sobre o que ele diria se realmente deixasse o grupo. Afirmava que não faria falta trabalhar com os outros três, Que sua saída devia-se à diferenças comerciais, pessoais e criativas. Não sabia se o afastamento seria temporário ou permanente. Tampouco poderia dizer se ele e John Lennon voltariam a compor juntos novamente.
Já em 1969, numa entrevista à revista Life, em novembro de 1969, ele afirmou que “Esta de Beatles já acabou”. Ninguém deu atenção. Na época Paul já começara a gravar o que seria o álbum McCartney, sem que Ringo, George e John soubessem. Na verdade o disco com o release, que a imprensa recebeu no dia 9 de abril, não era um confirmação oficial da saída dos Beatles, mas não foi isso que o jornal Daily Mirror achou. No dia 10 saiu com esta manchete de capa: “PAUL DEIXA OS BEATLES”. A imprensa em massa correu para a sede da Apple, em Saville Row. George Harrison estava lá vendo um copião de The Long and Winding Road, título inicial do documentário Let it Be. Ignorou os jornalistas. Ringo Starr surpreso, disse que a notícia era novidade pra ele. John Lennon (que anunciara em 1969, que deixava o grupo, mas continuou com os companheiros gravando o álbum Get Back), caprichou no sarcasmo: “Legal saber que ele ainda continua vivo. De qualquer maneira, podem dizer que digo isto fazendo graça, ele não saiu, eu o demiti”. No dia 17 de abril de 1970, o LP McCartney chegou às lojas, massacrado pela imprensa (que culpava McCartney pelo fim da banda), logo depois chegaria Let it Be, oficialmente, o último álbum, e Sentimental Journey, estreia solo de Ringo, gravado antes do álbum de Paul. Seguiu-se uma batalha jurídica, que só terminou em 1974, quando o grupo foi legalmente extinto. E Let it Be?
PATINHO FEIO
Quando o álbum chegou as lojas, a imprensa estava mais interessada nas fofocas envolvendo John, Ringo e George, que mal se envolveram na produção do disco, enquanto Paul estava preocupado em divulgar o seu LP solo. O jornal Rolling Stone, o mais importante da imprensa alternativa, provavelmente do planeta, só publicou resenha de Let it Be em junho, assinada por John Mendelsohn, que deplorou a produção de Phil Spector. Garoto prodígio da música pop, que se tornou milionário com 16 anos, Phil Spector, ironicamente, foi um dos ídolos dos Beatles quando ainda tocavam no Cavern Club.
Spector ficou famoso pelos cordas wagnerianas em canções infanto-juvenis, e mais tarde no soul pop de Ike & Tina Turner e Righteous Brothers. Quis repetir com os Beatles, e exagerou na dose. “McCartney nunca o perdoou pela orquestra grandiloquente e coro em A Long and Winding Road. O parágrafo final da crítica de Mendelsohn (um dos melhores de sua época) sobre Le it Be, livremente traduzida: “Musicalmente, garotos, você foram aprovados no teste. Em termos de evitar produzirem-se e entregar o destino de sua anunciada volta ao básico ao mais over de todos os produtores, não foram aprovados. O que, a estas alturas, de qualquer forma, não tem muita importância”