Carlos José, último dos cantores do rádio, vitimado pela covid-19

Embora sido dos primeiros a gravar Tom Jobim, ele é lembrado pelos discos de seresta
José Teles
Publicado em 11/05/2020 às 11:20
Carlos José, seresteiro, em 1969 Foto: Divulgação


Nesse sábado, morreu o cantor Carlos José, em consequência da covid-19 (sua mulher, Vera Goulart, também infectada, continua no hospital). Ele completaria 86 anos em setembro. O paulista Carlos José é geralmente associado à música romântica, que no Brasil virou sinônimo de brega, e à seresta, esta última entrou na sua carreira, por causa do disco Uma Noite de Seresta, de 1966. Com um repertório de canções dos anos 30 e 40, o LP vendeu tanto, que virou uma série, e ligou para sempre o nome do cantor ao que se convencionou chamar de música de seresta.
Irmão do violonista Luis Cláudio Ramos, maestro e arranjador da banda de Chico Buarque há anos, Carlos José começou em 1951, na Rádio Globo, passou pela Rádio Roquete Pinto, onde cantava músicas americanas, mas só estreou em disco em 1957. No inicio da carreira, dividia-se entre a música a advocacia. Formou-se em direito quando se iniciava como cantor.
A voz suave e aveludada encaixou-se bem num novo tipo de canção que se passou a fazer no Brasil, de harmonias mais elaboradas, com letras de um romantismo comedido. No 78 rotações de estreia Carlos José gravou Foi a Noite, de Tom Jobim e Newton Mendonça e Ouça, de Maysa. Voltou a gravar tom Jobim (com Marino Pinto), no segundo disco, a poço conhecida Aula de Matemática e Só Louco, de Dorival Caymmi. Ambos com selo da Polydor.

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Carlos José continuaria gravando Vinicius de Moraes, Billy Blanco, Tito Madi, autores que modernizavam a música brasileira. No primeiro LP, de 1958, Revelação (Polydor), mais da metade do repertório é de composições da bossa nova, embora não tivesse mudado a forma de cantar. A primeira canção que gravou fora deste estilo foi Esmeralda, guarânia de Filadelfo Nunes e Fernando Barreto, m 78 de 1960. Daí em diante, até o citado álbum com música da velhíssima guarda da música brasileira, passou a gravar autores populares, boleros e guarânias.
A série Serestas estendeu a seis volumes, o último deles lançado em 1971. Carlos José, assim como todos os da sua geração, ficou deslocado em meio às mudanças bruscas sofridas pelo mercado musical, mas ele continuou gravando regularmente durante toda década de 70. A partir dos anos 80, fez um longo intervalo, voltaria ao disco nos anos 90, mas lançamentos esparsos. Em 2015, lançou o CD com que fecharia sua discografia, Musa da Canções, creditado a ele e ao irmão Luis Claudio Ramos, com participações de Chico Buarque e Jerry Adriani. O repertório é todo de canções com nome de mulheres por título. Odete (Herivelto Martins e Dunga), é a faixa em que Chico Buarque canta com Carlos José. Enquanto Jerry Adriani participa de Laura (Alcyr Pires Vermelho e João de Barros).

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