Nesta quinta-feira (14), a jornalista e escritora Michelle Assumpção participa de live de lançamento da biografia Lia de Itamaracá – Nas Rodas da Cultura Popular, escrita pra a Coleção Perfis, da Companhia Editora de Pernambuco (Cepe). O lançamento virtual acontece com um papo entre a autora e o jornalista Diogo Guedes, a partir das 17h30, no Instagram da editora (@cepeeditora). “Tão logo acabe a quarentena, vamos também fazer um lançamento presencial, com a participação de Lia”, confirma Michelle Assumpção.
Maria Madalena Correia do Nascimento, a Lia, é o nome mais conhecido de um gênero musical popular, sobre o qual se conhece muito pouco, ou se escreveu muito pouco. A biografia começa procurando a origem da mais famosa das cirandas, a que leva o nome da biografada, cuja autoria a cirandeira já atribuiu à cantora Teca Calazans, uma capixaba que cresceu no Recife e foi bastante atuante na música local nos anos 60. Teca, que mora em Paris há décadas, nega que tenha composto Quem Me Deu Foi Lia.
“Quando Lia sobe pela primeira vez num palco, em 1974, no Festival de Ciranda do Pátio de São Pedro, promovido pela Prefeitura do Recife, já estava famosa. Mas não por trabalhos anteriores (ela estava começando ali sua carreira), e, sim, por causa da música que, em 1967, foi gravada por Teca Calazans e lançada num compacto da Mocambo/Rozemblit, estourando em todo país. Lia sustenta a versão, tanto que a grande maioria das reportagens, pesquisas e textos diversos sobre Lia que você buscar na internet dá conta que ela, sim, cantou a música para Teca Calazans, quando esta foi passar um veraneio em Itamaracá, e a escutou cantando em seu quintal. No entanto, quando foi gravar esta ciranda pela primeira vez, a autoria foi creditada a Antonio Baracho”, comenta Michelle.
TRAJETÓRIA
Teca Calazans gravaria na Rozenblit o frevo de bloco Aquela Rosa, de Carlos Fernando e Geraldo Azevedo, que venceu a II Feira da Música Popular do Nordeste. A promessa da gravadora era a de um LP com todas as finalistas. O pot-pourri de cirandas entrou, no lado B, pelo desejo da cantora em registrar o ritmo. Na mesma época, por coincidência, Edu Lobo e Maria Bethânia gravariam Cirandeiro (parceria com Capinam), no álbum Edu e Bethânia. Filho de pernambucanos, Edu Lobo passava férias em Pernambuco e aprendeu a música na adolescência. Não se sabe se Cirandeiro também pertencia a Baracho.
Mistérios à parte, a história leva a cirandeira de volta à sua infância, na então paradisíaca Itamaracá, das brincadeiras de fandango e pastoril. Aquela menina negra, bonita, de estatura elevada (1,80m) era diferente e não queria seguir o destino da mãe, e das pessoas pobres feito ela: “Eu me balançando naquelas palhas, queria ser uma cantora para ir para os parques de diversão. Correr naqueles parques”. Ela foi muito mais adiante. Na biografia, estão registradas suas participações em festivais de rock, de jazz, no Recife e em outras capitais brasileiras, também na Europa. Lia foi de merendeira numa escola municipal em Itamaracá a Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Pernambuco, aos grandes palcos mundo afora.
A autora traça a trajetória de Lia até o disco mais recente, em que canta outros estilos, com produção de DJ Dolores. Para Michelle Assumpção foi gratificante escrever o perfil de Lia: “O que acho mais importante nessa biografia é que – além de registrar a história de uma das mais importantes artistas populares brasileiras – ela insere a vida desta artista na trajetória da própria ciranda, em Pernambuco, enquanto bem cultural. É muito pouca e incipiente a bibliografia que temos sobre esta tradição, que é um patrimônio imaterial do Brasil. Conto a história de Lia dentro de uma espécie de linha do tempo, contextualizando o momento em que ela surge, quem existia antes dela, quem foram seus contemporâneos e quem também hoje continua o movimento da ciranda”.