Pernambuco tem 48,8% da população ocupada trabalhando na informalidade. Ao todo, mais de 1,7 milhão de pessoas estão nessa condição. Este grupo está se sentindo desassistido em meio à crise econômica gerada pela pandemia do coronavírus. O apelo para que as pessoas não saiam de casa tem esvaziado as ruas, local de trabalho da maior parte desses informais.
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O governo federal anunciou nesta quarta-feira (18) que estuda fornecer alguma ajuda financeira para trabalhadores na informalidade. A ideia é oferecer, por três meses, um valor fixo de cerca de R$ 200. O modelo de repasse dessa renda, no entanto, ainda não foi destrinchado.
Questionado pelo JC, o Ministério da Economia respondeu, em nota, que “o trabalhador precisa cumprir os requisitos do Cadastro Único (CadÚnico) do governo federal e, posteriormente, fazer a solicitação em um site específico que está sendo desenvolvido”. O texto ainda diz que não é preciso se inscrever no CadÚnico, já que aqueles os não inscritos serão alcançados pelo Cadastro Nacional de Informações Sociais (CNIS) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).
O Ministério da Economia informa ainda que essa e as demais medidas anunciadas “vão estar detalhadas em uma proposta a ser enviada ao Congresso Nacional”. A estimativa é de que em todo o País sejam contempladas entre 15 e 20 milhões de pessoas. A medida vai custar cerca de R$ 15 bilhões aos cofres públicos e vai ser financiada com recursos da União.
A falta de uma resposta mais concreta preocupa quem precisa dessa renda diária para se manter. A situação dos informais deve se agravar, do ponto de vista econômico, a partir do início da nova determinação do governo de Pernambuco em fecha shoppings, restaurantes, comércio de praia, entre outros. A medida necessária para frear a disseminação do vírus impacta diretamente pessoas como o barraqueiro Jailson Correia e os ambulantes João Lourenço e Alexsandro Alves.
Na praia de Boa Viagem, na altura da Padaria Boa Viagem, um dos pontos mais frequentados pelos banhistas, o barraqueiro Jailson Correia conta que já sentiu uma drástica redução no movimento. “Desde o primeiro caso confirmado as pessoas têm deixado de vir à praia. Nos últimos dias o movimento caiu quase 80%. Estou preocupado, porque não sei como sustentar minha família. Tenho quatro filhos para alimentar”, desabafa ele que trabalha há 22 anos nas areias de Boa Viagem.
O dinheiro do comércio de praia é fonte de renda para muitas famílias. Somente no Recife, a Secretaria de Mobilidade e Controle Urbano do Recife (Semoc) tem 489 ambulantes fixos cadastrados e outros 603 circulantes que ficam em carrinhos pelas areias do Pina e de Boa Viagem. Já em Jaboatão dos Guararapes, há outros 240 barraqueiros registrados junto à prefeitura. Em Olinda são 63 palhoças fixas na faixa de areia e outros 15 quiosques no calçadão.
A medida também afeta o rendimento dos trabalhadores informais que circulam nos arredores dos 18 shoppings do Estado, segundo dados da Associação de Lojistas de Shoppings de Pernambuco (Alshop). O ambulante Alexsandro Alves trabalha em uma barraca da Praça do Tacaruna, às margens da Av. Cruz Cabugá, em Santo Amaro. Ele ressalta que suas vendas já vinham sendo afetadas desde o início das orientações para as pessoas ficarem em casa.
Alexsandro depende, exclusivamente, da renda que consegue com a barraca para, junto com a esposa, sustentar os dois filhos. “O shopping nem fechou ainda e hoje eu só vendi duas águas. A gente fica entre vir trabalhar e correr risco e ficar em casa sem ter o que comer. O que eu ganho de manhã minha família come à noite. Ficar em casa, sem nenhum benefício, auxílio do governo é passar fome”, reclamou o ambulante.
Os primeiros casos de coronavírus em Pernambuco foram registrados no dia 12 de março. Desde então, a população têm optado, quando pode, por ficar em casa. Essa evasão surpreendeu o ambulante João Lourenço que há 30 anos atua nas redondezas da Av. Guararapes, no Centro do Recife. “Nunca vi o Centro desse jeito. Ruas sem ninguém, ônibus quase vazios. Estou assustado. Vou fechar minha barraca e ficar em casa. O ruim é ficar sem essa renda, que é pouco mas ajuda em alguma coisa”, comenta.
Todos os entrevistados falaram que, com o trabalho informal, conseguem fazer uma renda mensal média de um salário mínimo – R$ 1.045. Os entrevistados também disseram que, embora seja pouco o valor de R$ 200 proposto pelo governo federal, a verba ajudaria a se manter enquanto durar a quarentena.