Coronavírus: movimento nos bancos preocupa instituições financeiras

Bancos e lotéricas cheias não condizem com as orientações de evitar aglomerações
Marília Banholzer
Publicado em 24/03/2020 às 20:53
Filas em portas de bancos mostram que aglomeração nas agências é um problema ao isolamento social Foto: FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM


A partir desta quarta-feira (25) começa o calendário de pagamento, referente ao mês de março, dos cerca de 35 milhões de aposentados e pensionistas do INSS em todo Brasil. Em Pernambuco são mais de 1,5 milhão de pessoas que injetarão cerca de R$ 2,48 bilhões na economia. Em meio aos pedidos de quarentena, aglomerações em agências bancárias ou lotéricas não são um cenário coerente. Mesmo assim, foi o que acabou sendo flagrado pela reportagem do JC, na manhã de ontem, em unidades bancárias de Abreu e Lima, no Grande Recife.

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FELIPE RIBEIRO/JC IMAGEM - Movimentação em Abreu e Lima durante pandemia do coronavírus

Se antes dos casos de coronavírus o atendimento nas agências bancárias aglomerava pessoas e as filas das lotéricas davam voltas, o cenário tende a ser agravado já que as instituições financeiras estão com horário reduzido de atendimento. A medida aprovada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban) visa o combate à proliferação da covid-19.

A própria Caixa Econômica Federal começou nesta terça-feira (24) com horário diferenciado: das 10h às 14h. O atendimento presencial é restrito aos casos que não podem ser tratados pelos serviços eletrônicos, como telefone, aplicativos do banco e demais serviços digitais.

ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM - Bancos estão limitando a entrada dos usuários para atendimento presencial

Mas nem todos clientes têm habilidade ou acesso a tais tecnologias e precisam quebrar a quarentena na e se dirigir aos bancos. É o caso do autônomo Renato Gomes, que atua como técnico de refrigeração. Ontem ele saiu de casa apenas para sacar dinheiro no caixa eletrônico. "Vim rapidinho e já estou voltando para casa. Precisava de dinheiro em espécie para comprar alguns itens para minha casa. Quando chegar vou tomar um banho, muita gente usa os caixas eletrônicos", afirmou.

Já a aposentada Ângela Maria, 60 anos, precisou sacar o benefício do Bolsa Família e foi, de máscara, para a lotérica. "Vou ter que voltar outro dia porque ainda não foi liberado. Aí vou ter que vir sair de novo, usando máscara para me proteger. Eu até me surpreendi como tinha pouca gente na fila", disse ela.

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Segundo o auxiliar administrativo da lotérica Hiper Sorte, em Olinda, Wagner Santos, a operação caiu 65% desde que as medidas restritivas começaram a vale em Pernambuco. "Nossa preocupação é a partir da próxima semana, quando sai o maior volume de benefícios e as pessoas começam a vir pagar as contas", lembrou ele que garantiu que medidas de afastamento entre os clientes já estão sendo tomadas. "Limitamos a entrada das pessoas e os funcionários estão orientados a estar sendo lavando as mãos ou usando álcool em gel", disse.

ALEXANDRE GONDIM/JC IMAGEM - Lotéricas em Olinda têm movimento reduzido, mas proximidade da época de recebimento de benefícios preocupa

Pedido para evitar os bancos

Em Pernambuco há cerca 400 agências bancárias, com mais de 10 mil funcionários. Somente no Recife são 5.500 pessoas que trabalham nas agências. O Sindicato dos Bancários do Estado já solicitou junto às instituições financeiras que parte desse contingente pudesse trabalhar em home office.

De acordo com a presidente do sindicato, Suzi Rodrigues, os profissionais com mais de 60 anos, as grávidas e aqueles que têm doenças crônicas já estão exercendo suas atividades de casa. "Desde o dia 12 de março estamos pedindo a redução de horário e mudanças no atendimento. Hoje, no Brasil, a Febraban diz que dos mais 450 mil bancários, algo em torno de 200 mil já está em teletrabalho", afirma Suzi que reforça o coro para que os clientes só procurem os bancos em último caso: "Se puder, fiquem em casa, deixe para resolver depois."

Segundo da Febraban, atualmente, de cada dez transações, seis são feitas pelos meios digitais. Em nota oficial a federação faz um apelo: "Ao evitar voluntariamente ir às agências bancárias, todos colaborarão para que os bancos possam dar prioridade ao atendimento aos grupos mais vulneráveis, protegendo todos, inclusive os bancários, com a redução do fluxo de pessoas necessárias aos esforços contra a disseminação do vírus da covid-19."

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