No Recife, trabalhadores informais comemoram aprovação de coronavoucher e pedem rapidez na distribuição do auxílio

O pagamento do auxílio emergencial de R$ 600 será feito por três meses, para trabalhadores autônomos, informais e sem renda fixa
Marcelo Aprígio
Publicado em 31/03/2020 às 21:01
Trabalhadores informais e microempreendedores individuais de baixa renda devem receber um auxílio do Governo Federal de 600 reais para ajudar a passar a crise do Coronavírus. Foto: FILIPE JORDÃO/JC IMAGEM


Após o Senado Federal aprovar, na segunda-feira (30), o ‘coronavoucher’, como ficou conhecido o auxílio emergencial de R$ 600 destinado aos trabalhadores autônomos, informais e sem renda fixa, devido à pandemia do novo coronavírus (covid-19), feirantes e ambulantes do Recife comemoram a medida e afirmaram esperar que ela seja implementada rapidamente.

Segundo o projeto aprovado pelos parlamentares, o vale será concedido por três meses, podendo ter o período prorrogado. O valor ainda poderá chegar a até R$ 1.200 para as mulheres que são chefes de família. Neste caso, será permitido o recebimento de duas cotas de R$ 600 cada.

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A Instituição Fiscal Independente (IFI), ligada ao Senado, estima que o auxílio emergencial vai beneficiar diretamente 30,5 milhões de cidadãos, cerca de 14% da população do país, segundo os dados mais recentes do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Muitas dessas pessoas ainda são invisíveis atualmente aos cadastros do governo.

Esse é o caso de Marcílio Pessoa, 44 anos, que não tem registro em bases de dados governamentais para pessoas de baixa renda. Vendedor de coco há cerca de uma década na Avenida Conselheiro Aguiar, em Boa Viagem, na Zona Sul do Recife, o comerciante informal conta que recebeu a notícia da aprovação do ‘coronavoucher’ com boas expectativas. Para ele, o benefício que deve ser entregue pelo governo é semelhante a ganhar um prêmio na loteria. “Como as pessoas sumiram das ruas, o movimento para mim caiu muito, e com esse dinheiro poderei levar comida para minha casa”, conta ele, ressaltando que seu desejo, na verdade, era poder continuar acordando cedo diariamente para deixar a residência onde vive com esposa e filho e se dirigir ao seu “ganha-pão”.

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Sentimento semelhante é compartilhado pela feirante Gilvanete Barbosa, 54, que tem uma barraca frutas e verduras no Centro Comercial do Cais Santa Rita. Segundo ela, o fechamento do comércio e a diminuição da circulação de pessoas nas ruas tem prejudicado suas vendas e, por isso, sua família já sofre com falta de alimentos. “Além de mim, são mais três pessoas lá em casa, e as coisas tão difíceis. Eu comprei uma bandeja de ovos, para todo dia a gente poder comer pelo menos um”, diz ela em tom de lamento, afirmando que esta foi a única solução que encontrou para não passar fome e que pede a Deus para os R$ 600 chegarem logo em suas mãos. “Espero que esse dinheiro seja liberado logo, porque vai ser em boa hora”, declara.

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A dificuldade de levar alimento para família também é sentida pelo jovem feirante Lucas Müller, 22. Ele conta que tem ouvido diversas orientações para se higienizar como forma de evitar a contaminação pela covid-19, mas que não as segue em virtude da falta de dinheiro. “A nossa proteção aqui é Deus. Não temos dinheiro nem para almoçar, que dirá para comprar álcool em gel”, sentencia o jovem, apontando sua realidade é semelhante às dos outros feirantes e que o ‘coronavoucher’ pode ser a salvação de muita gente diante das projeções paro o avanço da doença no Brasil. Lucas ainda pediu que o governo federal seja ágil na distribuição deste renda.

Também impactado pelos efeitos da pandemia na economia, o ambulante Cerlândio Pereira, 34, todos os dias, sai de casa, em Jaboatão dos Guararapes, às 6h30, para percorrer cerca de 20 km usando transporte público com o objetivo de vender pipocas, salgados, biscoitos e água no Centro do Recife. Assim como os outros entrevistados, ele comemora a aprovação da medida pelo Senado, mas se diz desesperançoso. “Acho isso algo muito bom, mas será que vai sair mesmo?”, questiona. Para Cerlândio, a realidade vivida imposta pela doença o faz desacreditar que o vale possa entregue aos trabalhadores informais. “Meu desejo é que esse dinheiro chegue logo, porque estou precisando, mas não acredito que deixarão de investir em hospitais para nos ajudar”, afirma.

Informais sem cadastro vão ter que aguardar

Apesar dos pedidos dos feirantes e ambulantes, o ministro da Cidadania, Onyx Lorenzoni (DEM-RS), disse nesta terça-feira (31), que os trabalhadores informais que não constam em cadastros do governo devem ficar por último no cronograma de pagamento do auxílio mensal de R$ 600, que deve começar em 16 de abril.

Para o economista William Matos, o ‘coronavoucher’ precisa chegar rápido aos trabalhadores informais a fim de que os efeitos da pandemia sejam minimizados. O especialista alerta que se o governo não for ágil em distribuir esta renda, é provável que o risco sanitário seja ainda maior que o econômico, visto que ambulantes e feirantes devem continuar saindo de casa para ganhar dinheiro e levar comida para casa até que o vale seja entregue a eles. “Se isso ocorrer, o coronavírus vai atingir muito mais gente, causando um econômico muito maior”, aponta Matos, explicando que com a expansão da doença será preciso gastar mais dinheiro com pacientes infectados.

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