Representando 75,3% do Produto Interno Bruto (PIB) de Pernambuco, o setor de serviços, o mais importante da economia estadual, registrou em março na comparação com fevereiro queda de 8,7%, segundo a Pesquisa Mensal de Serviços (PMS), divulgada nesta terça-feira (12) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em fevereiro, o Estado já havia apresentado queda, com -2,8%, considerando o mês anterior. Assim, mais uma vez, o desempenho pernambucano ficou abaixo da média nacional, visto que o índice do Brasil registrou recuo de 6,9%, o pior resultado alcançado no País desde o início da série histórica, em janeiro de 2011.
Quando levado em consideração o mês de março de 2019, a retração do setor em Pernambuco é de 5,6%, também maior que a média do Brasil, que ficou -2,7%. No acumulado do ano, de janeiro a março, o Estado também registrou um recuo. O índice foi de -0,1%, se igualando com nacional. Nos últimos 12 meses, Pernambuco acumula alta de 0,3%, único cenário em que não teve retração. No País, cujo PIB sofre forte influência do setor, que tem participação acima de 60%, o crescimento foi de 0,7%.
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De acordo com a gerente de planejamento e gestão do IBGE, Fernanda Estelita, o resultado da PMS para o Estado se deve às medidas para tentar conter o novo coronavírus. “De modo geral, todos os serviços sofreram muito com a pandemia e com o isolamento da população, e Pernambuco, por ter parado bem antes que outros estados, sente um impacto bem maior”, afirma ela, ressaltando que os serviços prestados às famílias foram os que registraram a queda mais acentuada (-43,1%). Dentre esses, estão atividades de musculação e cabeleireiros, incluídos nessa segunda-feira (11) pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) entre os serviços considerados essenciais durante a pandemia do novo coronavírus.
A retração de 8,7% do volume de serviços, de fevereiro para março de 2020, foi acompanhada por três das cinco atividades pesquisada. Além do destaque para as quedas em serviços prestados às famílias, os de informação e comunicação tiveram perdas e caíram 2,6%. Já os outros serviços registram o segundo maior resultado negativo (-21,1%).
Fernanda Estelita conta que o recuo registrado no Estado só não foi maior porque dois setores exerceram influência positiva. “O que salvou um pouco, não deixando a queda ser tão drástica, foram os serviços profissionais, administrativos e complementares, que subiram 8,5%, apesar de toda recessão da economia”, diz a gerente de planejamento e gestão do IBGE, afirmando que os serviços de transportes, serviços auxiliares aos transportes e correio, também tiveram uma elevação no seu volume (4,8%).
Para Fernanda Estelita, a PMS deve registrar uma queda ainda mais acentuada em abril, dadas as medidas restritivas adotadas pelo governo de Pernambuco no período. “Quando observamos a retração em março, vemos que ela surge por volta da metade do mês, mais ou menos dia 18, quando algumas coisas começaram a fechar”, explica ela, apontando que, em meio aos esforços financeiros das prefeituras para tentar conter a covid-19, as administrações municipais podem ter problemas na arrecadação do Imposto sobre Serviços (ISS), afetando os cofres das cidades. “As prefeituras estão contando com o socorro do Governo Federal, porque, com certeza, a arrecadação delas vai ser menor”, sentencia.
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No Recife, a baixa na arrecadação já é sentida. Segundo a Secretaria de Finanças da cidade, em março deste ano, a prefeitura viu uma queda de -1,5% no ISS, comparado ao mesmo período de 2019 e em abril deste ano foi de -21,1% em relação ao mesmo período do ano passado.
Uma pesquisa da Fundação Getulio Vargas (FGV) mostrou que os efeitos da pandemia sobre a confiança do setor de serviços do país se aprofundaram em abril. Depois de uma queda de 11,6 pontos em março, o Índice de Confiança de Serviços caiu outros 31,7 pontos em abril, para 51,1 pontos. Com a queda, o indicador atinge o menor nível de sua série histórica, iniciada em junho de 2008, e acumula perda de 45,1 pontos no ano.
As atividades turísticas também tiveram queda em relação a fevereiro. A suspensão das operações de hotéis e restaurantes, associada à redução drástica do número de voos e do transporte rodoviário interestadual, por causa da pandemia do novo coronavírus, fizeram o índice de atividades turísticas do IBGE ter o seu pior desempenho histórico em todas as 12 unidades da Federação avaliadas. No Brasil, a queda do setor foi de 30% no mês de março deste ano. Pernambuco superou a média nacional e teve quinto pior desempenho, com recuo de 33,1%.
“Naturalmente, nós já não acompanharíamos fevereiro, pois havíamos saído de um carnaval, e estamos falando de hotéis, restaurantes e de toda a parte ligada ao setor cultural”, explica a gerente de planejamento e gestão do IBGE, Fernanda Estelita.
Quando confrontado com o mês de março de 2019, o turismo de Pernambuco repete o cenário, amargando uma queda mais acentuada que a do Brasil: -29%, contra -28,2% no País.
Com o resultado, o índice brasileiro interrompe seis taxas positivas seguidas, pressionado pelo recuo de 7,3% na receita nominal dos principais segmentos turísticos em março. Em Pernambuco, a perda é de 9,4.
"As medidas preventivas contra a covid-19 atingiram de forma mais intensa e imediata boa parte das empresas que compõem os setores correlatos ao turismo, principalmente restaurantes, hotéis e transporte aéreo de passageiros", aponta o IBGE em nota, que acompanha o indicador desde janeiro de 2011.
No sentido oposto, diz o instituto, o segmento de locação de automóveis apontou a maior contribuição positiva sobre a atividade turística.
Em março ante fevereiro, Pernambuco só não fica atrás de Rio de Janeiro (-36,6%), Distrito Federal (-36,1%), Rio Grande do Sul (-34%) e Santa Catarina (-33,7%).
Minas Gerais e São Paulo foram outras unidades da Federação que registraram quedas importantes, de 30,8% e 28,8%, respectivamente.
No acumulado do ano, as atividades turísticas no Brasil caíram 6,2% frente a igual período de 2019, pressionado, mais uma vez, pelos ramos de restaurantes, hotéis, transporte rodoviário coletivo de passageiros e catering, bufê e outros serviços de comida preparada. Mas o segmento de locação de automóveis teve, de novo, o maior impacto positivo. Já em 12 meses, o índice é positivo em 0,3%.
Em Pernambuco, a queda acumulada em 12 meses é de 1,6% e tende a piorar. Isso considerando a curva ainda acentuada de contaminação pelo novo coronavírus, que levou o governo do Estado a adotar restrições mais rigorosas de circulação, e a perspectiva de que o turismo deve ser o último setor a conseguir sair da crise.
No Estado, a atividade turística representa 3,9% do Produto Interno Bruto, tendo faturado R$ 9,5 bilhões no ano passado, enquanto no Brasil essa participação é de 8,1%, com movimentação de 238,6 bilhões.