O dólar abriu a semana em baixa ante o real, seguindo o movimento da moeda no exterior em meio a otimismo com a retomada das economias, mas a divisa fechou a uma distância das mínimas, em meio a receios sobre segunda onda de casos de coronavírus no mundo.
O dólar à vista caiu 0,86% nesta segunda-feira (22), e fechou a R$ 5,2722 na venda. As oscilações ao longo do dia continuaram expressivas. Na máxima, a cotação caiu apenas 0,39%, a R$ 5,2977, e na mínima cedeu 2,25%, para R$ 5,1985.
Na B3, o dólar futuro tinha queda de 1,08%, a R$ 5,2610, às 17h28.
O dólar registrava firmes perdas contra dólar australiano, peso mexicano e lira turca, divisas que se beneficiam de momentos de maior apetite por risco. O índice do dólar frente a uma cesta de rivais de mercados desenvolvidos caía 0,62% no fim desta tarde.
Outros ativos de risco também se valorizaram, assim como os mercados de ações em Nova York. Apesar do recente salto em casos de coronavírus nos EUA e algumas partes da Europa, além de China e Coreia do Sul, investidores parecem se concentrar mais em 2021 e na perspectiva de que os balanços das empresas venham melhores passado o pior momento da crise de saúde e econômica.
Mas, no Brasil, analistas apontam que o câmbio segue demasiadamente dependente de fatores externos para algum alívio.
Fernando Bergallo, sócio da FB Capital, chama atenção no plano local para a constante incerteza política. "Nosso cenário político está no pior momento desde o início do governo Bolsonaro. A história do Queiroz ainda pode render muito. É algo que deixa o mercado mais cauteloso", disse.
Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), filho do presidente Jair Bolsonaro, foi preso na manhã de quinta-feira (18) em Atibaia (SP), em imóvel que pertence ao advogado Frederick Wassef, segundo o Ministério Público de São Paulo. Wassef anunciou no domingo que estava deixando a defesa do filho do presidente Bolsonaro. Ele já representou o presidente da República, é próximo da família Bolsonaro e era visto com frequência no Palácio do Planalto, em Brasília.
"Difícil pensar que no atual patamar o dólar está estabilizado. Estamos sem bússola. A oscilação está forte todo o dia. E com o cenário interno frágil ficamos suscetíveis a uma virada de humor lá fora", acrescentou Bergallo.
O Goldman Sachs lembra que, apesar de ter deixado os patamares perto de 6 por dólar vistos em meados de maio, o real ainda é a moeda com pior desempenho em 2020.
A divisa brasileira perde 23,89% no ano ante o dólar, segundo dados da Refinitiv. Para o Goldman Sachs, muito dessa fraqueza é justificável, em meio à forte contração do PIB, contínuas dificuldades do país ao lidar com o covid-19, tensões em curso entre Executivo e Judiciário e possibilidade de novos cortes da Selic.
Isso tudo torna o real uma "combinação não atraente de elevados riscos domésticos e baixo retorno", disseram os profissionais do banco norte-americano em nota.