O custo dos produtos industriais na 'porta da fábrica' ficou mais alto em julho. O Índice de Preços ao Produtor Amplo (IPA), medido pela Fundação Getulio Vargas (FGV), subiu 3% neste mês, ante 2,25% em junho. Este é o segundo aumento consecutivo do indicador. Para o coordenador dos Índices de Preços do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre/FGV), o custo do produtor deve ser repassado gradualmente ao consumidor, que já começa a sentir o peso da alta dos preços no bolso. “Esses valores não vão chegar de uma só vez para as famílias, mas já começaram a ser repassados nos bens duráveis, como eletrodomésticos, que subiram 1,89% neste mês”, afirma ele.
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A alta dos combustíveis e lubrificantes para a produção, cujo percentual passou de 6,12% para 12,78% foi a principal responsável pelo crescimento do IPA. O estágio das Matérias-Primas Brutas também subiu em julho, pressionando o indicador. O incremento foi de 6,35%, ante 2,57% em junho. “Isso se deve à forte alta nos preços de importantes commodities: minério de ferro (5,83% para 8,98%), soja (1,43% para 8,89%) e bovinos (3,26% para 8,94%)”, explica Braz.
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Esse movimento fez o Índice de Preços ao Consumidor (IPC) subir 0,49%, após variar 0,04% em junho. Cinco das oito classes de despesa componentes do índice registraram avanço em suas taxas de variação. A principal contribuição partiu do grupo Transportes (0,21% para 1,45%). Nesta classe de despesa, destaque para o encarecimento da gasolina, cuja taxa passou de 0,40% em junho para 4,45% em julho. “O IPC foi diretamente influenciado pela alta no preço da gasolina, que foi aumentado algumas vezes ainda nas refinarias”, pontua o coordenador dos Índices de Preços do Ibre.
Também apresentaram acréscimo em suas taxas de variação os grupos Educação, Leitura e Recreação (-1,33% para 0,12%), Habitação (-0,11% para 0,49%), Saúde e Cuidados Pessoais (0,19% para 0,32%) e Comunicação (0,41% para 0,61%). Os destaques dentro dessas classes de despesa ficam com passagem aérea (-10,08% para 13,55%), tarifa de eletricidade residencial (-1,06% para 1,09%), medicamentos em geral (0,41% para 1,09%) e mensalidade para TV por assinatura (0,53% para 1,46%).
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“Esses números não cresceram mais, porque a indústria não está operando na sua capacidade máxima, dada a crise, e precisa escoar com o que produz”, ressalta André Braz, apontando a alta do desemprego e o receio das famílias em se endividar como razão disso. “Temos uma previsão de queda do PIB de 7% neste ano, o que aponta uma recuperação lenta, por isso não vemos uma pressão de custos muito grande sendo repassados para o consumidor, que não quer fazer dívidas agora. A indústria teve que entender isso”, afirma.
A avaliação é compartilhada com o economista William Matos. Para ele, os reflexos do aumento do IPA sobre os consumidores deve ser mais intenso à medida que a economia dê maiores indícios de melhoras. “É provável que essas altas só cheguem às famílias no quarto trimestre, quando a economia aquecer um pouco mais”, diz o especialista, argumentando que, se a indústria repassar o aumento nos preços neste momento, corre o risco de ter uma demanda reprimida.
Em contrapartida, os grupos Alimentação (0,45% para 0,05%), Vestuário (-0,11% para -0,24%) e Despesas Diversas (0,21% para 0,20%) registraram decréscimo em suas taxas de variação. Nestas classes de despesa, destacam-se os itens hortaliças e legumes (0,95% para -12,27%), roupas (-0,06% para -0,38%) e alimentos para animais domésticos (1,08% para -0,83%).
Já o Índice Nacional de Custo da Construção (INCC) subiu 0,84%, ante 0,32% no mês anterior. Na passagem de junho para julho, Materiais e Equipamentos subiu de 0,81% para 0,92%, Serviços recuou de 0,19% para 0,09% e Mão de Obra avançou de 0% para 0,92%.
Juntos, IPA, IPC e INCC compõe o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M). O indicador, que é utilizado como referência para a correção de valores de contratos, como os de aluguel de imóveis, teve alta de 2,23% em julho, diante de um avanço de 1,56% em junho. Com este resultado, já acumula crescimento de 6,71% no ano e de 9,27% em 12 meses. Em julho de 2019, o índice havia subido 0,40% e acumulava alta de 6,39% em 12 meses.