Pandemia da covid-19 atrapalhou atração de investimentos no País. Em Pernambuco não foi diferente

Previsão do governo do Estado era realizar quatro reuniões do Condic ao longo do ano, mas serão apenas três. Valor investido e número de empregos também será menor, por conta da crise sanitária que assolou o mundo
Adriana Guarda
Publicado em 04/11/2020 às 20:52
INDÚSTRIA Última reunião do Condic no Estado vai acontecer em dezembro Foto: Agência Brasil


A Agência de Desenvolvimento de Pernambuco (AD Diper) fazia planos de realizar quatro reuniões do Conselho Estadual de Políticas Industrial, Comercial e de Serviços (Condic) este ano, mas veio a pandemia do novo coronavírus e mudou o cronograma. A necessidade de cuidar da crise sanitária e a 'paralisação' da economia empurraram os encontros para depois. A primeira reunião do ano só aconteceu em julho e a segunda nesta quarta-feira (4). Durante encontro remoto, realizado pelo canal da AD Diper no YouTube foram aprovados 39 projetos. Desse total, 14 são indústrias e os demais centrais de importação e distribuição. Os industriais somam investimento de R$ 368 milhões e preveem a geração de 537 empregos.

O principal projeto desta reunião foi a implantação da fábrica da Ypê (Amparo Química), em Itapissuma. Em dezembro do ano passado, o presidente da companhia, Waldir Beira Júnior esteve no Estado, assinando protocolo de intenções com o governado Paulo Câmara para construção da unidade, que vai fabricar detergentes, desinfetantes, alvejantes, amaciantes e outros. O empreendimento tem valor inicial estimado em R$ 300 milhões e prevê a geração de 320 empregos. 

O projeto da Ypê foi justamente o que suscitou discussão durante a reunião. O presidente do Centro das Indústrias de Pernambuco (Ciepe) e conselheiro do Condic pediu vistas ao projeto. "Estou aqui para defender o setor produtivo e a cadeia produtiva desses produtos em Pernambuco já está bastante abastecida", disse, fazendo referência ao polo de higiene e limpeza que existe no Estado. Com indústrias regionais e multinacionais, Pernambuco tem o segundo maior cluster do setor no Brasil, atrás apenas de São Paulo. 

 

O presidente da AD Diper, Roberto Abreu e Lima, explicou que seria um problema para o Estado não aprovar os incentivos para a Ypê sob vários aspectos. "A empresa já assinou protocolo de intenções com o governo, está finalizando a terraplenagem do terreno e tem previsão de começar a operar em até um ano e meio. Sem falar na credibilidade do governo. Conseguimos conquistar um empreendimento desse porte com a Paraíba aqui do lado oferecendo incentivos fiscais superiores. Também é preciso lembrar que o negócio da empresa não é só em Pernambuco, é na região toda. Se ela vai para a Paraíba, a concorrência será ainda pior", pontuou. 

Os empresários locais também demonstraram preocupação com a terceirização fora do Estado, que permite às companhias usufruir do incentivo fiscal enquanto ainda estão construído a fábrica, com a produção fora de Pernambuco. Abreu e Lima também tranquilizou os conselheiros explicando que esta 111ª reunião do Condic teria três pedidos nesse sentido, sendo a Ypê uma delas. "Num momento como esse, decidimos deixar esses pleitos para serem realizados na próxima reunião, que vai acontecer em dezembro", garantiu.

Também presente na reunião o secretário de Desenvolvimento Econômico, Bruno Schwambach, destacou o empenho que o governo do Estado vem fazendo em pleno ano de pandemia e que seria um equívoco bloquear o projeto. "O projeto não passaria se houvesse algum equívoco ou se estivesse fora das exigências legais, mas isso não pode acontecer por uma eventual proteção de mercado", reforçou. 

Convencido dos argumentos do governo e com a garantia de que a terceirização fora do Estado ainda será motivo de discussão, Cadorin e os demais conselheiros desistiram do pedido de vistas. "Acolhemos as explicações do governo e recebemos a empresa de braços abertos, até porque o setor industrial de Pernambuco também se empenha na atração de investimentos", destacou.  

MOURA 

Além da Ypê, o Grupo Moura também se destacou na reunião, com uma ampliação da linha de produção para fabricar Bess de chumbo e lítio. O Battery Energy Store System (BESS) é um sistema inteligente de acumulação de energia para ser utilizada quando e onde necessário. É como se fosse uma bateria gigante, que pode ser utilizada pelos mais diversos negócios, como comércio, indústria e até no mercado de energia, como suplemento à geração eólica e solar. A empresa vai investir R$ 27,4 milhões nessa ampliação e gerar 34 empregos.  

A Fertilizantes do Nordeste - empresa do Grupo Fertipar no Recife - vai investir R$ 29 milhões na ampliação da sua fábrica na capital pernambucana. Neste Condic, a companhia figura como o segundo maior investimento e geração de 22 empregos. Também entraram como projetos aprovados empresas que não vão realizar investimento, nem gerar emprego, apenas com pleitos de isonomia em relação a outras do mesmo setor. 

ANO DIFÍCIL 

O ano deve fechar com a realização de três reuniões e captação de investimentos inferior a do ano passado. Em 2019 foram realizados seis Condics, os quatro tradicionais previstos para o ano, além de um encontro de 2018 e uma reunião extraordinária em agosto. Ao longo de 2019 foram aprovados 118 projetos, com projeção de R$ 693,3 milhões em investimentos e a geração de 3.138 empregos.

Para 2020, a previsão era realizar reuniões do Condic em março, junho, setembro e dezembro, mas até agora só ocorreram duas (julho e novembro), totalizando R$ 409 milhões e com projeção de criar 1.149 empregos.   

Schwambach se diz animado com a retomada da economia, mas teme uma segunda onda da covid-19. "Estamos acompanhando nosso PIB se recuperando após os meses mais críticos da pandemia e os setores reagindo, mas ao mesmo tempo que minha mensagem é de otimismo, também é de preocupação. Acompanhamos uma segunda onda da covid-19 pelo mundo e isso reforça a nossa necessidade de aprender a conviver com o vírus. E isso se faz obedecendo os protocolos, mas as pessoas já estão se esquecendo disso", alertou.  


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