Costureiras, ambulantes e até a China perderam vendas com cancelamento do Carnaval 2021 em Pernambuco
Há mais de 10 anos, quando os chineses começaram a trazer seus guarda-chuvas para o Brasil, sombrinha de frevo foi incorporada
Já faz mais de 10 anos que o símbolo do Carnaval de Pernambuco, a sombrinha de frevo, não é mais produzida apenas no Recife. Encomendada em junho a fábricas de guarda-chuva da China, ela começa a ser vendida já em dezembro, especialmente para turistas.
Este ano, sem Carnaval, o quadro mudou radicalmente, uma vez que os negócios do Carnaval perderam sentido diante da grave crise sanitária provocada pelo coronavírus. Pernambuco, a terra do frevo e onde se faz um dos cinco maiores carnavais do Brasil, é também um dos cinco estados onde mais ocorreram mortes por causa da covid-19.
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A sombrinha de frevo é a evolução do antigo guarda-chuva fabricado na fábrica da tradicional Leite Bastos, localizada na Avenida Nossa Senhora do Carmo, que hoje já não funciona mais no prédio onde vendia sombrinha para todo o Nordeste. Em média, 400 mil sombrinhas são importadas da China todos os anos.
E há mais de 10 anos, quando os chineses começaram a trazer seus guarda-chuvas para o Brasil, ela acabou também sendo incorporada. Este ano, se o cliente quiser comprar sombrinha de frevo, terá que procurar de algum comerciante do Cais de Santa Rita.
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Registros históricos revelam que a sombrinha era um guarda-chuva cheio de coisas penduradas, como salsichas e garrafas de cachaça. O passista que a carregava não tinha a performance e aparência de hoje.
"Alguns usavam paletó em pleno calor, com a cara melada de talco, sem camisa por dentro, uma calça amarrada com cordão, um sapato velho ou tênis trocado ou descalço", traz a dissertação acadêmica "O frevo nos discos da Rozenblit", de Paula Viviana de Rezende e Valadares.
O ator Walmir Chagas participou dos primórdios do Balé Popular do Recife, em meados da década de 1970. Ao G1, ele relembrou que o então diretor do grupo, André Madureira, esteve diretamente ligado ao que hoje se tem como modelo da sombrinha de frevo.
No começo, o Balé Popular do Recife usava as sombrinhas infantis, mas elas ainda eram muito grandes para certos movimentos típicos do frevo. Elas eram feitas na Leite Bastos, na Rua do Fogo (a rua que liga a Avenida Nossa Senhora do Carmo ao Pátio de São Pedro).
Mas nem só de sombrinha de frevo se compõe o prejuízo do Carnaval de Pernambuco. Quem mais vai perder renda serão as costureiras e ambulantes que fazem da festa um dos melhores períodos de vendas.
No caso das costureiras, a repercussão é muito mais ampla. Desde novembro que a produção de fantasias movimenta as vendas de tecidos e adereços vendidos no conjunto de ruas da Penha, Direita, Calçada e de Santa Rita, onde se pode comprar centenas de itens.
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As vendas de tecidos com brilho começam já em novembro, quando começam as encomendas. Para milhares de foliões, cada de festa no Carnaval tem pelos menos uma fantasia.
Além disso, as costureiras produzem as fantasias das agremiações carnavalescas normalmente a partir de compra no atacado nas lojas e até mesmo importadas diretamente da China.
Esse ano, quem passa pelas ruas até encontra os produtos, mas as vendas não aconteceram. Especialmente nas lojas que vendiam para as agremiações. Essa renda de centenas de costureiras foi até substituída pela fabricação de máscaras, mas o prejuízo já está contabilizado pelas quase 30 lojas que vendem artigos de Carnaval.
No caso de ambulantes, o cancelamento do Carnaval pegou também os fabricantes de caixas de isopor que eles compram para abastecer as vendas, especialmente no desfile do Galo da Madrugada, que é o melhor momento de vendas.
Em média, mais de 30 mil caixas de isopor são vendidas apenas para os ambulantes durante o Carnaval. E toda essa capacidade de armazenamento é para gelar cerveja numa ocupação do centro e de dezenas de polos de animação.
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Este ano, as indústrias de cervejas sequer produziram embalagens especiais comemorativas. As indústrias de cachaça também não encomendaram lotes especiais de latinhas. As indústrias de lata não recebem encomendas em 2020, até porque ela estava com sua capacidade comprometida devido à falta de embalagens no final do ano.
O prejuízo de ambulantes e costureiras já estava precificado desde o final do ano, com o crescimento dos casos de contaminação pela covid-19, que já causou mais de 10 mil mortes em Pernambuco.
Os negócios do Carnaval terão que esperar 2022.