Empreendedorismo

Leonardo Barbosa, o pernambucano que levou a carne de charque à América do Norte

Nascido no Recife, o empresário fundou uma empresa para fabricar carne seca no Canadá e, atualmente, tem exportado o alimento para os Estados Unidos

Bruna Oliveira
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Bruna Oliveira
Publicado em 04/04/2021 às 9:00
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PERNAMBUCANO Sem falar inglês inicialmente, Leonardo Barbosa fundou a Lead Foods em terras canadenses - FOTO: ARQUIVO PESSOAL
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Quem é de Pernambuco sabe o diferencial que o sabor da carne seca - também conhecida como carne de charque - promove no preparo de diversos pratos. Para muitos ela é essencial, por exemplo, na hora de cozinhar o feijão. Percebendo essa importância, o pernambucano Leonardo Barbosa, de 45 anos, que mora no Canadá, resolveu virar empresário e levar o gostinho brasileiro do alimento para o país. O negócio deu tão certo que a Carne Seca Leads Foods, empresa que fundou, tem exportado a carne de charque até para os Estados Unidos.

Com “Le” de Leonardo e “ad” de Adriana (esposa do empresário), a Lead Foods atualmente está presente em mais de 100 lojas espalhadas pelo Canadá e Estados Unidos, mas engana-se quem pensa que foi fácil chegar até esse patamar. De acordo com o pernambucano, entrar no mercado canadense foi bem difícil.

“A validade do produto era curta, de apenas cinco meses, e tivemos que doar grande parte do que foi feito, pois o produto não era conhecido. Hoje, tudo que é produzido é vendido, e a Carne Seca Lead Foods tem 18 meses de validade, aprovada pela Canadian Food Inspection Agency (CFIA) e pelo United States Department of Agriculture (USDA)”, disse.

O empresário não revela quanto vende do produto e a quantidade de dinheiro que o alimento tem movimentado. No entanto, o negócio tem crescido a ponto de Leonardo querer ampliar a venda de alimentos.

“Queremos aumentar a venda da carne e desenvolver outros produtos intimamente ligados à culinária brasileira. Queremos ser referência em produtos brasileiros na América do Norte e levar boas memórias às pessoas”, disse.

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EXPORTAÇÃO Produção de carne de charque começou no Canadá e conquistou os Estados Unidos - ARQUIVO PESSOAL
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A Carne Seca Lead Foods está presente em mais de 100 lojas da América do Norte - ARQUIVO PESSOAL
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Produção de carne de charque na Lead Foods - ARQUIVO PESSOAL
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Carne Seca Lead Foods - ARQUIVO PESSOAL
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Produção de carne de charque na Lead Foods - ARQUIVO PESSOAL
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A Carne Seca Lead Foods está presente em mais de 100 lojas da América do Norte - ARQUIVO PESSOAL

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Vida em Pernambuco e ida ao Canadá

Mais novo de cinco filhos de um fazendeiro, Leonardo nasceu no Recife e viveu sua infância e adolescência em dois lugares: no bairro de Boa Viagem, na Zona Sul da capital, e em Paudalho, município da Zona da Mata Norte do Estado. “Nasci em, como dizem, berço de ouro. Desde os 9 anos trabalho nas coisas da família. Já vendi mel de abelha de porta em porta, fiz entrega de ovos e com 12 anos já ficava sozinho na loja que meu pai tinha no Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco (Ceasa)”, contou.

A tranquilidade na vida financeira de Leonardo, no entanto, mudou quando ele tinha 17 anos e viu o pai perder tudo. Nessa mesma época, o dono da Leads Foods passou no vestibular da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), onde começou a cursar Agronomia. “Era uma situação precária, às vezes eu não tinha dinheiro nem para pagar a passagem do ônibus para ir assistir aula e tinha que escolher entre fazer isso ou almoçar, o que me ajudava é que alguns amigos me davam carona”.

Após se formar na universidade, o empresário decidiu ajudar o pai a reconquistar o que havia perdido. Com isso, ele começou a trabalhar para que a pequena loja do Ceasa voltasse a crescer. “Por meio de trabalho dedicação e foco no cliente, o estabelecimento começou a ficar maior e depois que vi meu pai se tornar o que era antes tive o sentimento de missão cumprida”, declarou.

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Com a situação financeira da família bem melhor, Leonardo ao lado da sua esposa Adriana Barbosa, resolveu, então, sair do Brasil e viver uma vida no Canadá, onde já morava o irmão da mulher. “Ela deu a ideia da gente ir, eu não disse nem que sim e nem que não, então ela tomou a frente para resolver toda documentação e em 2011 nos mudamos para lá”.

Apesar de embarcar na aventura, Leonardo ainda não sabia inglês. Por isso, começou a trabalhar no país como empacotador de batatas. Com o tempo, e a dominação melhor da língua, saiu da empresa e foi para outra, onde se tornou supervisor do armazém em que trabalhava. No entanto, após alguns conflitos, resolveu deixar o local e começar a empreender.

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Adriana Barbosa e Leonardo Barbosa saíram do Brasil em busca de condições melhores de vida no Canadá - ARQUIVO PESSOAL

Em 2013 ele optou por abrir uma empresa para exportar grãos para o Brasil, já que fazia parte do mesmo ramo que ele trabalhava no Ceasa. Entretanto, em 2014, com os problemas financeiros enfrentados pelo Brasil, as pessoas que haviam se comprometido com ele em seu país de origem desistiram.

“Me senti num mato sem cachorro, sem saber o que fazer. Então, enquanto não sabia o que fazer, arrumei um outro emprego até que a minha esposa engravidou e eu tive que tomar outra decisão muito importante”, falou o empresário.

Síndrome de Down

Com um filho em Pernambuco, Leonardo viu na gravidez de Adriana um novo desafio: ser pai de uma criança com síndrome de Down. A notícia foi uma surpresa para o empresário e para a mulher, mãe de primeira viagem.

“Quando ela soube entrou no quarto e começou a chorar. Eu abracei ela e disse ‘temos duas opções: uma é chorar para o resto da vida e a outra é seguir em frente’. Então ela falou que a partir do dia seguinte ela seguiria em frente, mas que naquele dia eu a deixasse chorar”.

A síndrome de Down é uma condição genética em que a pessoa possui um cromossomo extra no par 21. Isso faz com que ela tenha um desenvolvimento mais lento com relação às pessoas consideradas “normais”.

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Leonardo, Adriana e Oliver em foto com carne seca - ARQUIVO PESSOAL


Quando Oliver Barbosa nasceu, em 2016, ele também foi diagnosticado com problema no coração, o que implicou em os pais levarem o bebê para realizar consultas por duas ou três vezes na semana.

“Era muita pressão emocional, porque a gente tinha pouca informação sobre a síndrome, não tínhamos nenhuma aproximação com a condição. Além disso, como a frequência das consultas, a empresa que eu trabalhava mandou eu escolher entre acompanhar minha esposa levando Oliver ao médico ou o meu trabalho. Resolvi optar pela minha família”, disse.

Foi nesse momento que o empresário se viu perdido e se perguntou sobre o que faria da vida.

Ideia de negócio

Com as dificuldades vivenciadas, a saudade de casa apertou e, para matar um pouquinho dela, Leonardo optou por fazer uma boa e conhecida carne de charque para comer, visto que no Canadá a população não consumia o alimento.

“Pesquisei, entrei em contato com alguns profissionais e comecei a criar uma receita. Depois de pronta cozinhei e convidei alguns amigos pernambucanos, que também moram no país, para experimentar e darem opinião”.

Foi nesse momento que tudo mudou para o empresário. Ao provar a carne, uma das pessoas elogiou o alimento e disse que “gostaria que tivesse para vender”. Essa frase acendeu uma “luzinha” na cabeça de Leonardo, que, empreendedor desde cedo, entendeu o recado e resolveu criar um negócio.

“Comecei a fazer para vender a nível federal. Aqui a burocracia é pequena, é fácil ser empresário. A primeira leva não podia vender, porque foi liberada como amostra. Dei a um amigo, que não sabia disso e colocou em sua página no Facebook. Uma mulher viu e disse que gostaria de comprar quando tivesse para vender”.

A Lead Foods fez a sua primeira venda para a pessoa que viu a publicação na rede social. Sem nenhuma ameaça à segurança alimentar, o produto foi liberado para ser comercializado em grande escala.

Após provar o produto, a mulher resolveu, então, publicar a experiência em grupo no Facebook e, para a surpresa de Leonardo, ele recebeu mais 100 e-mails fazendo a solicitação da carne seca. A partir daí o empresário resolveu criar uma loja virtual, onde passou a vender o produto e conseguiu colocar a carne seca em 15 lojas de produtos latinos.

“Os dois primeiros anos foram muito difíceis, porque os comerciantes não sabiam o que era e, por ser uma carne que fica fora da geladeira, não queriam comprar para revender. Tivemos um trabalho muito grande para convencer o público que não era brasileiro”.

Apesar dos problemas iniciais, a Lead Foods conseguiu se colocar no mercado da América do Norte e atualmente conta com clientes fiéis, que recomendam o produto, revendem e utilizam a carne seca da empresa como insumo de suas receitas.

 

 

Agora, com escritório montado em casa, para dar atenção ao filho, Leonardo afirma que as escolhas feitas ao longo da sua vida foram imprescindíveis para ele ser o que é hoje. “Nunca imaginei chegar até aqui, escolhi minha família por duas vezes e vou continuar escolhendo. Grande parte disso é mérito da minha esposa, que lá no passado escolheu mudar de país. A melhor parte de ser o rei da carne seca é que eu tenho uma rainha”.

 

 

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