Em meio à segunda onda da pandemia de covid-19 no Brasil, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central decidiu nesta quarta-feira (5) por unanimidade, elevar a Selic, a taxa básica de juros, em 0,75 ponto porcentual, de 2,75% para 3,50% ao ano. Esse foi o segundo aumento consecutivo dos juros, na esteira da alta recente da inflação.
Com isso, o Brasil voltou a registrar uma das maiores taxas de juros reais (descontada a inflação) do mundo. Cálculos do site MoneYou e da Infinity Asset Management indicam que o juro real brasileiro está agora em 1,60% ao ano. O País tem o terceiro juro real mais alto do planeta, considerando as 40 economias mais relevantes.
Atualmente, o País só registra taxa real inferior às de Turquia (6,84%) e Indonésia (1,66%).
Dos 40 países avaliados, 33 mantém atualmente juros reais negativos, em um ambiente econômico ainda pressionado pela pandemia.
No caso do Brasil, a alta recente de juros está ligada às preocupações do Banco Central com o avanço da inflação. O IPCA - a inflação oficial do País - fechou março com elevação de 6,10% no acumulado de 12 meses. Os preços de combustíveis e alimentos seguem afetando o índice.
Nesse cenário, a decisão desta quarta-feira era largamente aguardada pelo mercado financeiro. De um total de 68 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, todas esperavam pelo aumento da Selic para 3,50% ao ano.
Para o fim de 2021, as casas esperam desde uma Selic em 4,50% até um aumento dos juros a 6,50% ao ano.
Em documento divulgado nesta quarta, o BC também atualizou suas projeções para a inflação. No cenário básico, que utiliza câmbio variando conforme a Paridade do Poder de Compra (PPC) e juros do Relatório de Mercado Focus, o BC alterou a projeção do IPCA de 2021 de 5,0% para 5,1%. No caso de 2022, a expectativa foi de 3,5% para 3,4%.
O centro da meta de inflação perseguida pelo BC em 2021 é de 3,75%, com margem de 1,5 ponto (de 2,25% a 5,25%). A meta de 2022 é de 3,50%, com margem de 1,5 ponto (de 2,00% a 5,00%), enquanto o parâmetro para 2023 é de inflação de 3,25%, com margem de 1,5 ponto (de 1,75% a 4,75%).
Justificativa
Ao voltar a elevar a Selic (a taxa básica da economia) em 0,75 ponto porcentual, de 2,75% para 3,50% ao ano, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central manteve a avaliação que o cenário básico segue prescrevendo uma "normalização parcial" do estímulo monetário. O colegiado mais uma vez adiantou a previsão de uma nova alta de mesma magnitude na taxa - para 4,25% ao ano - na reunião de junho.
"Para a próxima reunião, o Comitê antevê a continuação do processo de normalização parcial do estímulo monetário com outro ajuste da mesma magnitude. O Copom ressalta que essa visão continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação", destacou o BC, no comunicado da decisão.
O Copom explicou que a normalização parcial da taxa de juros implica a manutenção de "algum estímulo monetário" ao longo do processo de recuperação econômica. Por outro lado, o colegiado enfatizou que essa visão não significa um compromisso do BC com essa posição. "Os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados para assegurar o cumprimento da meta de inflação", destacou o documento.
Enquanto a reforma tributária voltou à estaca zero na Câmara dos Deputados, o Copom repetiu o parágrafo com o alerta de que perseverar no processo de reformas e ajustes necessários na economia brasileira é essencial para permitir a recuperação sustentável da economia. "O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia".
O colegiado também manteve o balanço de riscos com fatores em ambas direções. De um lado, o processo de recuperação econômica em meio à pandemia pode ser mais lento, produzindo uma inflação menor. Por outro lado, o prolongamento de medidas fiscais de resposta à crise ou a frustração com as reformas podem elevar os prêmios de risco.
"O risco fiscal elevado segue criando uma assimetria altista no balanço de riscos, ou seja, com trajetórias para a inflação acima do projetado no horizonte relevante para a política monetária", repetiu o Copom.